Miguel Alvarenga - Ontem em Vila Franca, como já aqui referi, faltou público nas bancadas e faltou também a "emoção brutal" que deixavam antever os seis "toiros de terror" anunciados e muito badalados, que já ali tinham estado para ser lidados em Maio e que voltaram para o campo, regressando agora outra vez à "Palha Blanco", porque da outra vez, dizem as más línguas, os toureiros "não os quiseram ver" e alegaram que o piso da arena não estava em boas condições, apesar de ter sido exibido na internet (Facebook) um video que mostrava os três cavaleiros a galopar e à carga sobre um piso que parecia estar em condições...
Contou-se muita coisa, encheram-se as redes sociais de protestos e má-língua, a empresa irritou-se a mudou o cartel, pôs na rua os três cavaleiros da primeira data (Rouxinol Jr., Joaquim Brito Paes e António Telles filho) e contratou só dois para um mano-a-mano (Salgueiro da Costa e Tristão Telles Queiroz), mantendo os dois grupos de forcados (Montemor e Vila Franca). E os toiros, claro.
A polémica podia ter motivado o público aficionado a ir à "Palha Blanco" atestar se os "toiros do terror" iam ou não iam comer os toureiros e os forcados... mas a verdade é que isso não aconteceu. O público, e sobretudo o público de Vila Franca, esteve-se nas tintas para as histórias e historietas que andaram de boca em boca e não foi à praça. Era a Corrida das Tertúlias, mas ficou a impressão que elas, as muitas tertúlias que existem em Vila Franca, nem sequer deram por isso...
O resultado foi altamente negativo - primeiro, para a Festa (uma praça às moscas nunca foi sinónimo de boa propaganda para o espectáculo tauromáquico, antes pelo contrário...); e depois, para a nova equipa gestora da "Palha Blanco", liderada pelo antigo forcado Bernardo Alexandre, que não teve uma estreia auspiciosa, antes pelo contrário...
Já aqui falei dos dois cavaleiros. Trago-vos agora as imagens das seis pegas - de valor, de emoção e de arte - dos forcados dos grupos de Montemor e Vila Franca, respectivamente capitaneados por António Cortes Pena Monteiro e Vasco Pereira. Dois grupos dos de cima, com toiros que tinham apresentação de luxo, quilos com fartura, cabeças de meter respeito, mas que acabaram por ter comportamentos de nobreza, sem criar grandes complicações.
José María Cortes Pena Monteiro, um dos forcados mais cotados da actualidade (irmão do cabo, neto do antigo cabo João Cortes e sobrinho do saudoso cabo José Maria Cortes), pegou com a raça e a apurada técnica costumeiras o primeiro toiro da tarde, da ganadaria Condessa de Sobral, depois de brindar ao antigo forcado João Caldeira - que, como ontem referimos, voltou a acompanhar o seu grupo numa praça, seis meses depois do acidente de automóvel em que perdeu a vida o seu filho mais novo, o bebé Vicente, de dois meses.
José Maria fez um pegão, fechando-se para não mais sair, aguentando alguns derrotes sem nunca vacilar, com o toiro a fugir ao grupo e ele impávido e sereno, como se lá estivessem todos a ajudar, até que finalmente chegaram. Este é, sem espaço para dúvidas, um dos grandes forcados do momento. Deu volta à arena com Salgueiro da Costa.
O segundo toiro foi o "toiro brutal" de Fernandes de Castro, um animal de respeito, com 705 quilos e a força de um comboio. Dando o exemplo, como sempre dá, saltou à arena Vasco Pereira, o cabo do grupo vilafranquense. Esteve bem a recuar, a templar a investida e a receber com decisão, fechando-se com a raça de sempre. O grupo ajudou em força e com a coesão e o desempenho usuais, a pega estava consumada e, de repente, fazendo jus à sua força brutal, o toiro de Castro deu uma guinada para a direita e atirou todos os forcados por terra...
Vasco Pereira voltou à carga, agora com as ajudas mais carregadas, e consumou sem problemas ao segundo intento, dando depois volta aplaudida com Tristão e também com o primeiro-ajuda Diogo Duarte, que teve uma meritória e eficaz intervenção.
O toiro de Canas Vigouroux, terceiro da corrida, foi o mais raro dos seis. Reservado, mansote, cedo se refugiou em tábuas. Foi o que mais complicou a vida aos forcados. Joel Santos, do Grupo de Montemor, sofreu fortes derrotes nas duas primeiras tentativas, acabando por pegá-lo à terceira, com os ajudas muito em cima.
Era bonito, impunha respeito e foi um toiro sério e exigente o exemplar da ganadaria Vale do Sorraia, quatro da tarde. Foi pegado com brilhantismo e muita garra pelo jovem forcado vilafranquense Miguel Faria, filho mais novo do antigo e emblemático cabo Jorge Faria, muito bem ajudado pelos companheiros. O público tributou-lhe forte ovação na volta que deu à arena com Tristão Telles Queiroz.
Outro toiro muito sério e que transmitiu seriedade e emoção foi o de Sommer d'Andrade, que arrecadou os dois prémios em disputa no concurso (bravura e apresentação), sendo a segunda distinção apupada pelo público, que preferia vê-la outorgado ao toiro de Castro. O bravo Sommer foi pegado por outro dos grandes forcados do momento, o montemorense Vasco Ponce, que concretizou com garbo e muito valor ao primeiro intento. A pega foi brindada à imensa legião de antigos forcados que sempre acompanham o seu Grupo de Montemor. Vasco Ponce deu aplaudida volta à arena com Salgueiro da Costa, que lidou superiormente este toiro.
Fechou a corrida o valoroso forcado vilafranquense Lucas Gonçalves, com uma notável e emotiva pega ao primeiro intento, de novo com excelente intervenção do grupo, ao toiro de Assunção Coimbra. Deu volta com Tristão, com o (pouco) público entusiasmado a aplaudi-los.
No final e embora a existência desse prémio não estivesse mencionada nos programas da corrida, foi outorgado aos Amadores de Vila Franca o troféu que distinguiu o melhor grupo em praça.
Ficam as fotos das seis boas pegas de ontem na "Palha Blanco". Mais logo, não perca os melhores momentos das lides dos cavaleiros João Salgueiro da Costa e Tristão R. Telles Queiroz, que actuaram mano-a-mano, a substituir os três que compunham o primeiro cartel de Maio e se negaram a tourear porque o piso não estava em condições...
Fotos M. Alvarenga
A grande pega de José Maria Cortes Pena Monteiro (Montemor) ao primeiro toiro, da ganadaria Condessa de Sobral |
Segunda pega, duríssima, do cabo Vasco Pereira (V. Franca), com uma ajuda monumental de Diogo Duque, ao "toiro brutal" de Fernandes de Castro, com 705 quilos! |
Joel Santos (Montemor) na pega mais complicada, à terceira, ao toiro de Canas Vigouroux |
Grande pega de Miguel Faria (Vila Franca) ao toiro de V. Sorraia |
Vasco Ponce (Montemor) pegou com muito brilhantismo o bravo toiro de Sommer d'Andrade, vencedor do concurso |
Última pega: Lucas Gonçalves (V. Franca) com muita garra e decisão, frente ao toiro de Assunção Coimbra |