Quando os meus filhos eram pequenos
(sempre gostaram muito de pão com chouriço), chegaram-me um dia do Colégio,
perto da data que hoje se "comemora" (quem a comemora...) e
perguntaram-me se era verdade tudo o que as respectivas professoras lhes tinham
contado: que antes do "25 de Abril" não se podia fazer isto e mais
aquilo, que havia uma coisa horrorosa que era a PIDE, aquelas tretas todas que
fazem parte (ainda) dos livros de História. E eu disse-lhes que isso era tudo
mentira e que podiam mesmo dizer às sôtoras que tinha sido o Pai que os
esclarecera: expliquei-lhes que antes do "25 de Abril" a única coisa
que a PIDE proibia era que se comesse "pão c'o chóiriço"... E que a
única coisa boa que o "25 de Abril" nos tinha proporcionado era
podermos passar a comer, quando quisessemos, "pão c'o chóiriço". E a
partir de então, sempre que chega a famigerada data, falamos (e comemos) de tão
nobre e saborosa conquista... que no tempo da "ditadura" não era
permitida! Viva o Pão C'o Chóiriço!
"Ê que era um home qu'inté as
pedras do caminho p'ra mim se sorriem, nã tenho uma nôte de descanso desde esse
maldito desse 25 de Abril" - palavras do meu querido e saudoso amigo
Afonso, que era da Amieira (Portel) e que eu lembro sempre, com imensa saudade,
neste dia "25 de Abril", dia maldito, como ele bem dizia...
Nos anos difíceis da
"revolução", não foi fácil fazer um jornal semanário como "A
Rua". Éramos poucos, mas bons. E não tínhamos medo. Semana sim. semana
não, Prof. Salazar na capa! Tive a honra de pertencer a esta equipa e de ter
sido chefe de redacção do jornal dirigido pelo meu saudoso mestre Manuel Maria
Múrias!
De todas as tristes personagens que
(des)compuseram a história do "25 de Abril", o coronel Vasco
Gonçalves (à direita, na foto de baixo com Otelo) foi a figura mais divertida e mais cómica
da "revolução". Honra lhe seja feita pelas imensas gargalhadas que
arrancou a este povo nos seus célebres discursos em que falava muito e não se
percebia quase nada...