Entrevistado ontem por Catarina Baxiga no programa taurino da Rádio Voz de Alenquer, João Salgueiro pôs "o dedo" em algumas "feridas" e explicou que o facto de ter iniciado este ano mais tarde a sua temporada "não teve só a ver" com a lesão na perna sofrida num treino, mas com "uma estratégia" que, a seu ver, as primeiras Figuras também deviam seguir. Anunciou, como tinha dito anteriormente, que actuará este ano apenas em oito corridas e manifestou o desejo de em Outubro tourear em Vila Franca mano-a-mano com António Ribeiro Telles.
As palavras de Salgueiro:
"Este acidente fez-me repensar e
repensar no momento em que a festa vive, e penso que era importante os
toureiros, e principalmente as primeiras figuras, darem o exemplo e
resguardarem-se um pouco mais. Antigamente, as figuras praticamente não iam a
praças desmontáveis, as praças de primeira categoria e as grandes datas eram
marcadas por cartéis rematados com as figuras que andassem em melhor plano e
com maior prestígio; e digamos que os outros cavaleiros de segundo plano, ou
que estariam ainda em formação, tinham que ganhar um posto nessas datas mais
importantes e nas praças de maior prestigio, tinham que as ganhar com actuações
e com êxitos. Era o normal. E nos últimos anos, quase sem darmos por isso,
tornou-se uma banalização as primeiras figuras tourearem em todos os cantos e
mais alguns e com qualquer tipo de toiros. Penso que era importante as
primeiras figuras demarcarem-se dessa posição. Reflecti, e penso que não foi só
importante para mim, foi para mim, para as empresas e para a Festa de Toiros, e
o resultado viu-se na quinta-feira passada no Campo Pequeno. Quando em Portugal
já toda a gente questionava que não havia cartéis nem toureiros capazes de
meter gente... e não vou dizer nomes, porque para bom entendedor meia palavra
basta, que em Portugal não havia capacidades, que os cavalos não prestavam, os
toureiros toureavam todos muito mal, em Espanha é que estava o ceptro do
toureio a cavalo e só quando eles cá vinham é que as praças enchiam. Penso que
na quinta-feira foi a corrida em que o Campo Pequeno ganhou mais dinheiro, teve
uma das maiores enchentes, e isso é bom para Portugal e para o toureio a cavalo
e eu senti-me motivado, com ambição e respeitado".
E disse mais:
"Com certeza que se Deus quiser me
irei manter mais anos, mas penso que a veterania não é um posto, os postos são
tanto dos mais veteranos como dos mais novos, são daqueles que se disponham a
triunfar e que estejam num bom momento. Esses é que têm um posto na Festa (...)
Quanto aos falsos triunfos e às falsas figuras, é importante no Campo Pequeno o
público assobiar, o público aplaudir, e começar a diferenciar-se as coisas bem
feitas das coisas mal feitas. Porque se não, todos triunfam, e à sua maneira,
todos estiveram bem. Os ferros de saída são todos à tira, é um hábito comum,
não quer dizer que não haja excepções, e é importante que as pessoas começarem
a valorizar. Porque começam-se a fazer falsas figuras, falsos êxitos, falsas
actuações, e depois o público não vai, porque não tem motivação para ir à
praça. Os toureiros têm que corresponder e eu acho que os principais culpados
do público não ir à praça são os empresários, os ganaderos e os
toureiros".
João Salgueiro confirmou que esta temporada apenas actuará em oito corridas:
"É aquilo que tenho programado e
contratado, não vou fazer mais nenhuma corrida, 90% estão fechadas. Toureio dia
4 na Nazaré, dia 15 em Reguengos, dia 16 em Alcochete, o mano-a-mano com o
Rouxinol, dia 17 em Coruche, dia 23 no Campo Pequeno, e depois tourearei na
feira da Moita e gostava muito de tourear em Outubro em Vila Franca, é uma
praça que tenho um carinho muito especial é uma praça com que me identifico
muito, e já fiz o repto à empresa, gostava de tourear aí um mano-a-mano com o
António Telles".
Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com