Já vivi momentos fantásticos, mas este foi único... há 17 anos em Salamanca, em casa do também já falecido Júlio Robles, fotografados muitos copos depois... com o Maestro Manzanares |
A reportagem em Vecinos (Salamanca) foi manchete do jornal "Farpas" na sua edição nº 27, em 29 de Maio de 1997, já lá vão 17 anos... |
Miguel Alvarenga - Já cá ando há uns
"500 anos" e espero andar por mais 500. Não vou morrer tão cedo -
acreditem! - mas se morresse (mera hipótese no campo das mais remotas
hipóteses...) garanto que já vivi experiências únicas e irrepetíveis. Esta foi
uma delas (e o Rui Bento, bem como o Maestro Amadeu dos Anjos e o meu
companheiro de crítica Domingos da Costa Xavier lembram-se bem dela..) e aconteceu, como
aqui atrasado recordei, em casa do também já falecido Maestro Júlio Robles, em
Vecinos, localidade a 29 quilómetros de Salamanca, em Maio de 1997, já lá vão
17 anos, num dia em que ali fui assistir a um festival taurino que ficou
cancelado pela chuva e que foi "substituído" por esta tarde única.
Entre os toureiros que iam actuar nesse
festival, estavam Rui Bento e, apenas e somente, o Maestro José Maria
Manzanares (pai), matador histórico, pai do "figurão" de hoje que tem
o mesmo nome e também do rejoneador Manuel Manzanares, que em Abril do ano passado se apresentou em Beja e em Agosto toureou no Campo Pequeno.
Por quê, não sei, mas a verdade é que
Manzanares, no pequeno grupo que ali estava - e de que fazia parte o falecido
matador Paco Pallarés, que toureou no Campo Pequeno na fatídica tarde de 16 de
Outubro de 1966, em que morreu, vítima de colhida, o cavaleiro Joaquim José
Correia "Quim-Zé" - "engraçou" comigo.
Feitas as contas - e que a fotos bem
documentam - mais cerveja para aqui, mais uísque para ali, acabei por ser
protagonista de um caso único: poucos ou mesmo nenhuns se podem dar ao luxo de
ter apanhado, na vida, uma valente "bebedeira" com um toureiro tão
famoso como este. Eu apanhei (e ele também!) e guardo o momento como um dos
mais incríveis que vivi neste atribulado mundo dos toiros! Às tantas, já nem
sabia se era verdade, se estava a sonhar. Eu, ali, num sofá, com o Maestro
Manzanares a confidenciar-me segredos da sua vida, a "cair" em cima
de mim? Pode lá ser possível... mas foi!
A reportagem foi manchete do jornal
"Farpas" na edição nº 27 em 29 de Maio de 1997: "Exclusivo: As
Confissões de Manzanares". O toureiro, retirado das arenas, garantia que
regressaria no dia em que também voltasse "Niño de la Capea", um dos
seus grandes rivais dos tempos de ouro que ambos protagonizaram em muitas
praças de Espanha.
Poucos anos depois, quando seu filho
veio tourear um festival a Monforte, o meu Pai e o famoso apoderado Jacinto
Alcón (entre outros) testemunharam em casa de Paulo e Dita Caetano este meu
reencontro com Manzanares. Levei as fotos da "bebedeira" e ele
autografou-me uma delas (está aí em cima), sem contudo deixar de comentar:
"Hombre, se me lembro! Que dia louco! Só te vou autografar uma, para
guardares, porque não posso fazê-lo em todas... foi um dia de loucos,
Miguel!" - riu-se. A história fica aqui retratada em fotos. Documentos
reais.
Mais tarde, reencontrei-o em Beja, em
Abril do ano passado, quando ali se apresentou o seu filho rejoneador, Manuel
Manzanares e também em Almendralejo. E voltámos a recordar aquela tarde que era
sempre ponto alto de uma recordação única.
Em Agosto do ano passado, quando Manuel
se apresentou em Lisboa, lá em baixo da trincheira, Rui Bento apontou para mim
e perguntou a Manzanares se se lembrava... "Se me lembro, que tarde, meu
Deus!".
Todos terão hoje, certamente, momentos
para lembrar das suas, ainda que curtas, como as minhas, vivências com aquele
que foi uma das maiores figuras do toureio de sempre. Eu guardo esta tarde
fantástica em Salamanca, em casa do também saudoso Júlio Robles. Foi uma tarde
de copos. Paciência. Mas foi única.
Até sempre, Maestro Manzanares!
Fotos Ana Botelho Moniz e Emílio de Jesus