António Ribeiro Telles começou de forma espectacular com uma grande lide ao primeiro toiro da corrida, de Branci Núncio... |
... e terminou em plano de enorme maestria, no quarto toiro da corrida, o belíssimo exemplar da ganadaria Murteira Grave, onde toureou à antiga e como só ele sabe! |
No seu segundo toiro, da nova ganadaria dos Irmãos Carreira, Vitor Ribeiro voltou a estar em grande nível |
Dois grande ferros de João Moura Jr. ao seu primeiro toiro, o exemplar da ganadaria de São Torcato |
Momentos espectaculares da grande actuação de João Moura Jr. (brindada à grande aficionada Madalena Espírito Santos) com o toiro de Passanha |
Miguel Alvarenga - Depois de nos últimos
dois anos ter sido constituído por elementos da Tertúlia Eborense, o júri que
ontem atribuiu os prémios de "bravura" e "apresentação" no
56º Concurso de Ganadarias em Évora voltou a ser composto, como noutros tempos, pelos seis
ganadeiros, proprietários dos seis toiros que disputavam esses troféus - uma
decisão do empresário António Manuel Cardoso "Nené" que, pelos
vistos, todos eles aceitaram, pese embora o caso de alguns (Joaquim Grave
assumiu-o publicamente na sua página da rede "Facebook") não terem
votado. Pergunto: se não iam votar, seja por que razões fosse, porque aceitaram
então integrar o júri? Não havia necessidade, como diria o nosso Herman...
Assim sendo, a decisão não teve consenso
nem unanimidade e muito menos quorum. Votaram apenas três ganadeiros, os outros
três anularam os seus votos. E assim... para o ano há que rever a composição do júri, por forma a que não haja depois polémicas como as de ontem e críticas de quem se sentiu lesado (Grave, no "Facebook") mas à partida aceitou as regras do jogo, em que depois não participou.
O prémio "bravura" foi
atribuído ao primeiro toiro da corrida, da ganadaria Branco Núncio, muito bem
lidado a abrir a corrida por António Ribeiro Telles - sem muita razão de ser.
Denotou bem cedo uma querença junto ao sector 2 e à direcção da corrida, pouco
humilhou e correu muito, que não é o mesmo que ser propriamente bravo. O de "apresentação" foi dado ao toiro de
Passanha, que foi primorosamente lidado por João Moura Jr. a fechar praça, que
teve um excelente comportamento, mas que não tinha cara e muito menos cornos.
Enfim, os prémios deixaram muito a desejar no que respeita a um prestigiado - e
que é o mais antigo - concurso de ganadarias nacional.
O toiro de Murteira Grave merecia o
prémio de "bravura". Como bem referiu o ganadeiro no
"Facebook" e eu concordo plenamente, foi pronto nas acometidas aos
cavalos, recarregou com raça depois de bandarilhado, elegeu os médios como os
seus terrenos, investiu aos capotes com o morro pelo chão e não facilitou a tarefa
aos forcados, sendo pegado ao primeiro intento pela raça e pelo brio do enorme
Francisco Borges, que reaparecia depois do grave acidente do ano passado em
Montemor, há oito meses. O Grave foi muitíssimo bem lidado, em plano de enorme
maestria, por António Telles, que ontem foi em Évora um Senhor Toureiro.
Quanto à "apresentação", não
teria vindo mal algum ao mundo, antes pelo contrário, se o prémio tivesse sido
também outorgado ao toiro de Murteira Grave, se partirmos do princípio lógico
de que quilos a mais não significam obrigatoriamente uma excelente apresentação
de um toiro. Embora haja quem não concorde, também gostei da presença do toiro
dos Irmãos Carreira e não acredito minimamente que os aplausos com que o animal
foi (merecidamente) recebido na arena tenham alguma coisa a ver, como alguém insinuou, com uma
orquestração qualquer...
Em suma, viram-se bons toiros, alguns
com excelente comportamento - e os prémios, feitas as contas, não recairam nos
locais certos. Houve polémica e mesmo alguns apupos quando as decisões foram
anunciadas. Não havia necessidade, insisto...
O toiro de Núncio tinha a tal querença,
mas Telles deu-lhe bem a volta. O de David R. Telles investia com clareza e foi
muito bem toureado por Vitor Ribeiro - que estreou esta tarde três novos
cavalos, dois deles adquiridos a José Luis Cochicho, um dos quais filho do
célebre "Zeus" (a justificar o brinde de Ribeiro ao seu companheiro).
O de São Torcato era distraído e andarilho, mas Moura Jr. pôs as coisas no
lugar, fixou-o no cavalo e terminou com três grande curtos. Do de Murteira Grave já falei. O toiro
da nova ganadaria dos Irmãos Carreira tinha cara e trapio, assustava. Vitor
Ribeiro lidou-o muito bem e destacou-se em grandes ferros, com verdade e
emoção. Ao de Passanha, pesado, faltava cara e cornos, mas teve excelente
comportamento e proporcionou a Moura Júnior mais um triunfo apoteótico, com um
ferro curto de antologia (o terceiro) e mais dois "palmitos" de alto
nível, numa tarde em que voltou a mostrar que é este o caminho do sucesso e que
é imensa e bem decidida a sua vontade e o seu querer de marcar esta temporada. Já
bem distanciado do pelotão, voltou ontem a destacar-se nesta importante corrida
de Évora. E venha agora Madrid, onde se apresenta no próximo dia 30.
A corrida em Évora, primeira da
temporada naquela arena, primou pelo ritmo, decorrendo em pouco mais de duas
horas, para o que terá contribuído a excelente direcção de Agostinho Borges,
para lá, obviamente, do desembaraço de toureiros e forcados e até do bom
trabalho dos campinos e da rapidez com que os seis toiros voltaram aos currais,
sem tempos mortos.
No que aos valentes forcados diz
respeito, houve grandes pegas - e isso aconteceu porque estavam em praça dois
grandes grupos, ressalve-se.
Pelos Amadores de Montemor, prontos e a
ajudar com enorme coesão, pegaram Francisco Borges (à primeira, com uma grande
pega que marcou o seu regresso às arenas, como esta manhã referimos, oito meses
depois do grave acidente sofrido na arena de Montemor), João da Câmara (também
com excelente pega ao primeiro intento, recuando e fechando-se com muita
toreria) e João Romão Tavares (numa rija e dura pega à segunda tentativa).
Pelos Amadores de Évora, que
compareceram de luto por morte da Mulher do seu primeiro cabo João Patinhas,
foram caras João Madeira (à segunda, após fortemente derrotado na primeire
entrada), Francisco Oliveira (muito bem, à primeira) e Ricardo Sousa (num pegão
enorme ao primeiro intento).
A rabejar, destacaram-se, como sempre,
os eficientes Francisco Godinho (Montemor) e Manuel Rovisco (Évora).
Apesar do jogo decisivo para o Benfica
(acho que é assim que se diz, que de futebol percebo tanto como a minha antiga
mulher a dias percebia de touradas, que era russa e nem sequer tinha visto uma
alguma vez...) e ao contrário do que os pessimistas previam, a praça de Évora
teve uma belíssima entrada, mais de meia casa a rondar os três quartos.
O empresário "Nené" pôs em
marcha o plano (que aprovo em absoluto, é necessário e urgente pôr ordem
nisto!) de só permitir a presença na trincheira a fotógrafos portadores de
Carteira Profissional de Jornalista - mas a verdade é que estavam por lá alguns
que a não têm. E pecou por ter mandado para a bancada o veterano fotógrafo
eborense Cecílio, uma referência há anos. Não merecia tamanha e tão injusta desconsideração. Por
isso, "Somos todos Cecílio" e queremos vê-lo na trincheira de Évora
na próxima corrida do S. Pedro, em Junho! Estamos consigo, Cecílio!
Fotos Emílio de
Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com e Maria João Mil-Homens