segunda-feira, 18 de maio de 2015

Évora, o Concurso de Ganadarias, foi assim, podia e devia ter sido assado...

Évora abriu ontem a sua temporada de corridas com o 56º Concurso de
Ganadarias
, que não remontando propriamente ao tempo dos romanos, é o
mais antigo e o de maior prestígio em Portugal. Ou era... que as coisas ontem
não resultaram fantásticas no que concerne à atribuição dos prémios...

Foto M. Alvarenga
Com algumas clareiras nos sectores de sol, a praça de Évora registou uma
agradável presença de público e muitos aficionados na sombra, estando composta
e com mais de meia entrada, a rondar os três quartos
António Ribeiro Telles começou de forma espectacular com uma grande lide
ao primeiro toiro da corrida, de Branci Núncio...
... e terminou em plano de enorme maestria, no quarto
toiro da corrida, o belíssimo exemplar da ganadaria
Murteira Grave, onde toureou à antiga e como só ele sabe!
Vitor Ribeiro estreou ontem três novos cavalos, dois dos quais adquiridos a José
Luis Cochicho, um deles filho do célebre "Zeus". Deu o mote do triunfo logo
no seu primeiro toiro, da ganadaria de Ribeiro Telles
No seu segundo toiro, da nova ganadaria dos Irmãos Carreira, Vitor Ribeiro
voltou a estar em grande nível
Dois grande ferros de João Moura Jr. ao seu primeiro toiro, o exemplar da
ganadaria de São Torcato
Momentos espectaculares da grande actuação de João Moura Jr. (brindada à
grande aficionada Madalena Espírito Santos) com o toiro de Passanha



Miguel Alvarenga - Depois de nos últimos dois anos ter sido constituído por elementos da Tertúlia Eborense, o júri que ontem atribuiu os prémios de "bravura" e "apresentação" no 56º Concurso de Ganadarias em Évora voltou a ser composto, como noutros tempos, pelos seis ganadeiros, proprietários dos seis toiros que disputavam esses troféus - uma decisão do empresário António Manuel Cardoso "Nené" que, pelos vistos, todos eles aceitaram, pese embora o caso de alguns (Joaquim Grave assumiu-o publicamente na sua página da rede "Facebook") não terem votado. Pergunto: se não iam votar, seja por que razões fosse, porque aceitaram então integrar o júri? Não havia necessidade, como diria o nosso Herman...
Assim sendo, a decisão não teve consenso nem unanimidade e muito menos quorum. Votaram apenas três ganadeiros, os outros três anularam os seus votos. E assim... para o ano há que rever a composição do júri, por forma a que não haja depois polémicas como as de ontem e críticas de quem se sentiu lesado (Grave, no "Facebook") mas à partida aceitou as regras do jogo, em que depois não participou.
O prémio "bravura" foi atribuído ao primeiro toiro da corrida, da ganadaria Branco Núncio, muito bem lidado a abrir a corrida por António Ribeiro Telles - sem muita razão de ser. Denotou bem cedo uma querença junto ao sector 2 e à direcção da corrida, pouco humilhou e correu muito, que não é o mesmo que ser propriamente bravo. O de "apresentação" foi dado ao toiro de Passanha, que foi primorosamente lidado por João Moura Jr. a fechar praça, que teve um excelente comportamento, mas que não tinha cara e muito menos cornos. Enfim, os prémios deixaram muito a desejar no que respeita a um prestigiado - e que é o mais antigo - concurso de ganadarias nacional.
O toiro de Murteira Grave merecia o prémio de "bravura". Como bem referiu o ganadeiro no "Facebook" e eu concordo plenamente, foi pronto nas acometidas aos cavalos, recarregou com raça depois de bandarilhado, elegeu os médios como os seus terrenos, investiu aos capotes com o morro pelo chão e não facilitou a tarefa aos forcados, sendo pegado ao primeiro intento pela raça e pelo brio do enorme Francisco Borges, que reaparecia depois do grave acidente do ano passado em Montemor, há oito meses. O Grave foi muitíssimo bem lidado, em plano de enorme maestria, por António Telles, que ontem foi em Évora um Senhor Toureiro.
Quanto à "apresentação", não teria vindo mal algum ao mundo, antes pelo contrário, se o prémio tivesse sido também outorgado ao toiro de Murteira Grave, se partirmos do princípio lógico de que quilos a mais não significam obrigatoriamente uma excelente apresentação de um toiro. Embora haja quem não concorde, também gostei da presença do toiro dos Irmãos Carreira e não acredito minimamente que os aplausos com que o animal foi (merecidamente) recebido na arena tenham alguma coisa a ver, como alguém insinuou, com uma orquestração qualquer...
Em suma, viram-se bons toiros, alguns com excelente comportamento - e os prémios, feitas as contas, não recairam nos locais certos. Houve polémica e mesmo alguns apupos quando as decisões foram anunciadas. Não havia necessidade, insisto...
O toiro de Núncio tinha a tal querença, mas Telles deu-lhe bem a volta. O de David R. Telles investia com clareza e foi muito bem toureado por Vitor Ribeiro - que estreou esta tarde três novos cavalos, dois deles adquiridos a José Luis Cochicho, um dos quais filho do célebre "Zeus" (a justificar o brinde de Ribeiro ao seu companheiro). O de São Torcato era distraído e andarilho, mas Moura Jr. pôs as coisas no lugar, fixou-o no cavalo e terminou com três grande curtos. Do de Murteira Grave já falei. O toiro da nova ganadaria dos Irmãos Carreira tinha cara e trapio, assustava. Vitor Ribeiro lidou-o muito bem e destacou-se em grandes ferros, com verdade e emoção. Ao de Passanha, pesado, faltava cara e cornos, mas teve excelente comportamento e proporcionou a Moura Júnior mais um triunfo apoteótico, com um ferro curto de antologia (o terceiro) e mais dois "palmitos" de alto nível, numa tarde em que voltou a mostrar que é este o caminho do sucesso e que é imensa e bem decidida a sua vontade e o seu querer de marcar esta temporada. Já bem distanciado do pelotão, voltou ontem a destacar-se nesta importante corrida de Évora. E venha agora Madrid, onde se apresenta no próximo dia 30.
A corrida em Évora, primeira da temporada naquela arena, primou pelo ritmo, decorrendo em pouco mais de duas horas, para o que terá contribuído a excelente direcção de Agostinho Borges, para lá, obviamente, do desembaraço de toureiros e forcados e até do bom trabalho dos campinos e da rapidez com que os seis toiros voltaram aos currais, sem tempos mortos.
No que aos valentes forcados diz respeito, houve grandes pegas - e isso aconteceu porque estavam em praça dois grandes grupos, ressalve-se.
Pelos Amadores de Montemor, prontos e a ajudar com enorme coesão, pegaram Francisco Borges (à primeira, com uma grande pega que marcou o seu regresso às arenas, como esta manhã referimos, oito meses depois do grave acidente sofrido na arena de Montemor), João da Câmara (também com excelente pega ao primeiro intento, recuando e fechando-se com muita toreria) e João Romão Tavares (numa rija e dura pega à segunda tentativa).
Pelos Amadores de Évora, que compareceram de luto por morte da Mulher do seu primeiro cabo João Patinhas, foram caras João Madeira (à segunda, após fortemente derrotado na primeire entrada), Francisco Oliveira (muito bem, à primeira) e Ricardo Sousa (num pegão enorme ao primeiro intento).
A rabejar, destacaram-se, como sempre, os eficientes Francisco Godinho (Montemor) e Manuel Rovisco (Évora).
Apesar do jogo decisivo para o Benfica (acho que é assim que se diz, que de futebol percebo tanto como a minha antiga mulher a dias percebia de touradas, que era russa e nem sequer tinha visto uma alguma vez...) e ao contrário do que os pessimistas previam, a praça de Évora teve uma belíssima entrada, mais de meia casa a rondar os três quartos.
O empresário "Nené" pôs em marcha o plano (que aprovo em absoluto, é necessário e urgente pôr ordem nisto!) de só permitir a presença na trincheira a fotógrafos portadores de Carteira Profissional de Jornalista - mas a verdade é que estavam por lá alguns que a não têm. E pecou por ter mandado para a bancada o veterano fotógrafo eborense Cecílio, uma referência há anos. Não merecia tamanha e tão injusta desconsideração. Por isso, "Somos todos Cecílio" e queremos vê-lo na trincheira de Évora na próxima corrida do S. Pedro, em Junho! Estamos consigo, Cecílio!

Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com e Maria João Mil-Homens