domingo, 15 de novembro de 2015

"Dantes, toureava-se...": verdades incómodas de Frederico Cunha em entrevista à "Novo Burladero"

Anos 60, quando a Feira da Golegã tinha outro sabor: Frederico Cunha
(à esquerda, na foto, com o também cavaleiro tauromáquico José Luis
Sommer d'Andrade) e, em baixo, numa foto actual



"Com este tipo de toiros que se toureiam agora, que pouca ou nenhuma emoção dão, vamos às praças e ao segundo ou terceiro toiro já estamos fartos da corrida. Os toiros não investem, caiem, a maior parte das vezes é uma monotonia. As corridas de agora têm muito menos emoção. Essa é a grande diferença que existe entre os meus tempos e os de hoje" - verdades, provavelmente incómodas e talvez politicamente incorrectas, mas verdades, proferidas pelo antigo cavaleiro tauromáquico Frederico Cunha (foto de cima) numa entrevista que promete dar muito que falar (muito, mesmo!) concedida a João Queiroz e publicada este mês na edição da revista "Novo Burladero" (ao lado).
"Agora só querem cavalos que andem de lado, que façam números, que dêem as mãos, que façam piruetas (...) O cavalo hoje está feito para o 'número', não está feito para tourear. Cada um tem o seu número, que era uma coisa que antes não existia. Dantes, toureava-se", diz ainda o antigo toureiro.
E mais, ainda:
"O problema é que os rejoneadores espanhóis começaram a fazer aqueles 'números' com os cavalos (...) Os cavaleiros portugueses, em vez de continuarem a nossa tradição, não! Vá de imitá-los! (...) Ao tentar imitá-los, perdemos o comboio. E não há dúvida que hoje, quem controla isto tudo, é o Pablo e o Ventura! (...) Hoje no Campo Pequeno, aquilo só está cheio se vier o Ventura ou o Pablo. Parece que vão lá só bater palmas a eles (...) Antes, o público tinha gosto que os portugueses estivessem por cima dos espanhóis".
Pode custar a ouvir (ler), mas Frederico Cunha nunca teve papas na língua. Leiam, que vale a pena, a entrevista na íntegra, onde o cavaleiro passa em revista a sua carreira e diz de sua justiça no que respeita ao momento actual.

Foto Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com