Vontade e ambição constituem os
objectivos que têm norteado a já longa carreira do cavaleiro João Salgueiro.
Uma carreira onde os objectivos são sonhados, amadurecidos e transpostos para
a arena da vida e para a arena das praças, onde o seu toureio tem marcado
presença desde que se apresentou em público, pela primeira vez, a 31 de Agosto
de 1985, com apenas 17 anos de idade, em Salvaterra de Magos.
Após um interregno de cerca de dois
anos, Salgueiro marca encontro com os aficionados no próximo dia 14 de Abril,
no Campo Pequeno, na corrida de inauguração do abono de 2016.
"Nem durmo a pensar neste dia. E
não é por medo do toiro, mas antes pela responsabilidade de não defraudar nem
o público nem a história tauromáquica da minha família. Não tenho medo físico,
antes tenho enorme confiança nas minhas capacidades e nas das pessoas que me
rodeiam e, claro, dos cavalos que tenho à minha disposição", confessa.
Neste estado de espírito, Salgueiro fala
também com entusiasmo dos oito cavalos com que conta para esta corrida, seis
deles debutantes, e nos quais deposita também a maior confiança.
Para já, João Salgueiro tem apenas o
compromisso da corrida de 14 de Abril, no Campo Pequeno. "Depois se verá
se faço mais alguma corrida e, caso o venha a fazer, será mesmo pontualmente.
Isso está bem claro na minha cabeça. Não dependo do que possa vir a passar-se
no Campo Pequeno pois eu vou lá para estar bem, para marcar a diferença e para
marcar a minha carreira pela positiva", afirma.
"Vou ao Campo Pequeno, por entender
que são a corrida e a praça certas para tourear. É na justamente considerada a
'Catedral Mundial do Toureio a Cavalo. É uma praça talismã na minha
carreira", acrescenta.
Enquanto cavaleiro tauromáquico, João
Salgueiro considera-se um criador de emoções, um transmissor de sentimentos:
"Quando toureio sinto uma
felicidade inenarrável, sentimento esse que procuro partilhar com o público. O
toureio é confronto homem-toiro na arena, mas é também um poderoso transmissor
de emoções e sentimentos aos espectadores. Eu sou um privilegiado por conseguir
viver e transmitir ao público esses momentos e essas sensações e por, em
paralelo, sentir que esse mesmo público me reconhece e retribui".
Sabe que a sua forma de interpretar o
toureio a cavalo não é consensual, situação que diz não o preocupar e relembra
que "Cristo também não foi consensual e, por isso, foi crucificado".
No seu conceito de toureio a cavalo,
este é tanto mais puro e verdadeiro quanto mais se aproximar do toureio a pé.
Aceita a trilogia belmontista de "parar, mandar e templar", mas
Salgueiro parece adaptá-la ao seu conceito pessoal ao substituir o
"mandar" por "presuadir". E expressa-o nos seguintes
termos:
"É preciso que o toiro sinta
vontade de vir pelo caminho que eu lhe indico, pois só vejo duas maneiras de
atingir o centro da sorte: ou pela velocidade, ou pelo domínio da investida do
toiro. E é esta 'segunda via' aquela em que assenta o meu toureio. O meu
toureio baseia-se em dar distância no cite, cadência à viagem, respeitando os
cânones da dressage e parar no centro da sorte".
Falando sobre o toiro, refere que,
"hoje em dia confunde-se um bocado o toiro que 'passa' com o toiro que
investe. Eu gosto do toiro nobre e com mobilidade, o toiro que acomete de
praça-a-praça".
Já quanto ao tipo de cavalos de tourear,
recorda os bons resultados obtidos com os produtos da coudelaria de seu avô,
Dr. Fernando Salgueiro, cavalos cruzados de Lusitano, Inglês e Árabe.
João Salgueiro é bisneto, neto e filho
de cavaleiros tauromáquicos, mas as ligações de familiares seus ao toureio a
cavalo remontam, pelo menos, ao século XVII. Sobre os seus antepassados mais
próximos, João relembra o seu trisavô, João Inácio Salgueiro da Costa
(ganadeiro), o bisavô Carlos Salgueiro da Costa, que foi cavaleiro amador, o
seu avô, Dr. Fernando Salgueiro e seu pai, Fernando Andrade Salgueiro, ambos
profissionais. A continuidade dinástica parece estar assegurada por seu filho,
João Salgueiro da Costa, ao momento cavaleiro praticante.
Falando de seu avô, recorda-o como
"uma pessoa extremamente introvertida, mas um génio. Da sua formação
veterinária lhe advinha um jeito natural para lidar com animais. Fez uma
ganadaria e uma coudelaria exemplares e foi um grande criador de galgos. Como
equitador... não é por ser seu neto, mas foi o melhor equitador que conheci.
Ensinou-me as bases do seu toureio e eu não consegui chegar-lhe aos
calcanhares...". De seu pai, recorda a grande
sensibilidade artística como cavaleiro tauromáquico e, claro, como equitador.
João Salgueiro fez a sua prova de
praticante a 24 de Maio de 1986, na Moita do Ribatejo e tomou a alternativa a
29 de Maio de 1988, em Almeirim, num cartel de luxo, que contou com a
participação de seu avô (padrinho da cerimónia) e seu pai, como testemunha de
honra. Completaram o cartel os cavaleiros João Moura, Paulo Caetano e Joaquim
Bastinhas, já nesse tempo primeiríssimas figuras do toureio, e os grupos de forcados amadores de Santarém e de Montemor, tendo sido lidados toiros da
Condessa de Sobral.
Fotos Hélder Milheiro e D.R./@Campo Pequeno