O jornal regional “O Mirante" juntou o matador Vítor Mendes e o cirurgião taurino Luís Ramos para uma conversa sobre Festa Brava e não só. O resultado foi um artigo interessantíssimo dado à estampa na edição desta semana.
"Afición" é o amor a uma arte, neste caso a tauromaquia. Para Vítor Mendes, célebre matador de toiros português, e Luís Ramos, cirurgião taurino, é mais: memórias de infância, adrenalina, missão de vida, garra, medo e orgulho. Partilham o mesmo sentimento, foram muitas vezes paciente e clínico, mas são sobretudo amigos. O prestigiado jornal regional “O Mirante" juntou os dois na equipadíssima enfermaria da praça de toiros de Vila Franca de Xira.
É como se sabe: podemos ser grandes e essa imponência saltar logo a vista, nos trejeitos, na postura do corpo e no olhar seguro - e estamos a falar de Vítor Mendes - ou podemos ter a mesma grandeza, mas movimentos calmos e um olhar conhecedor, fruto de anos de estudo e prática, em cirurgia taurina, por exemplo. E sim, estamos a falar de Luís Ramos.
"É como quando enfrentamos um toiro, é preciso ter técnica, mas isso muitos têm. O essencial é a confiança em nós e o conhecimento que temos do animal", diz Vítor Mendes, fazendo o paralelo na confiança que encontra na capacidade do cirurgião Luís Ramos. O medo existe para ambos. Afinal, se Vítor pode sucumbir à custa de uma cornada, uma ferida feita pelos cornos de um toiro, se for mal avaliada, pode fazer com que um toureiro se esvaia em sangue até à morte.
Luís Ramos conhece o peso dessa responsabilidade. É especialista em cirurgia taurina, membro da Sociedade Espanhola de Cirurgiões Taurinos e um dos defensores da criação de uma Associação Nacional de Cirurgiões Taurinos. Vítor Mendes é um paciente diferente. "Temos que confiar no médico que nos vai tratar. Essa ligação ajuda na recuperação", diz o toureiro. O cirurgião explica como essa frase faz todo o sentido. "O Vítor já levou dezenas de cornadas, já foi operado também dezenas de vezes. Sabe o que tem de fazer e o tempo que uma ferida pode demorar a sarar. A sua experiência e a sua vontade de voltar o mais rapidamente à arena torna-o um paciente especial, com uma capacidade de recuperação impressionante", revela Luís Ramos.
Vítor Mendes, ao contrário de Luís Ramos, nasceu em Marinhais (Salvaterra de Magos), mas desde cedo manteve uma relação estreita com Vila Franca de Xira. A paixão pelos toiros herdou-a do pai, um aficionado da festa brava que acabou por ter um filho que foi um dos mais brilhantes matadores portugueses, conhecido mundialmente. Também os três filhos do toureiro são aficionados, assim como os três de Luís Ramos. Os amigos partilham muitas paixões: são ambos do Sporting - gostam de assistir a jogos juntos - e até já se apaixonaram pela mesma mulher. "Ele já me roubou uma namorada", conta o toureiro, no meio de gargalhadas. O cirurgião, mais tímido, baixa o olhar e garante que "não foi bem assim". Riem os dois. Afinal, o cirurgião já salvou a vida a Vítor Mendes. As contas estão mais do que saldadas. E, mesmo que não esteja sequer perto de Vila Franca de Xira, quando acontece um acidente com um toiro, é a Luís Ramos que o toureiro recorre.
* Entrevista completa na edição semanal de “O Mirante”.