Os participantes no colóquio de ontem na Azambuja, Maurício do Vale, João Santos Andrade, Miguel Alvarenga, Nuno Pardal e Luis Miguel Pombeiro, com o presidente da Tertúlia "Festa Brava", Rui Casqueiro |
Teve lugar ontem no Auditório Municipal da Azambuja um colóquio subordinado ao tema "Salvar a Tauromaquia Portuguesa é Salvar os Novilheiros! Cuidado com o Regulamento!", com a participação do Dr. João Santos Andrade (presidente da Associação Nacional de Criadores de Toiros de Lide), Nuno Pardal (presidente da Associação Nacional de Toureiros), Miguel Alvarenga (director do "Farpas Blogue") e Luis Miguel Pombeiro (director do jornal "Olé!"), tendo o debate sido moderado pelo crítico tauromáquico Maurício do Vale, que no início e durante uma alongada intervenção explicou por a mais b como o novo Regulamento Tauromáquico veio ameaçar a presença dos novilheiros nas nossas arenas.
O colóquio foi uma organização da Tertúlia "Festa Brava", dinâmica instituição hoje sediada na Azambuja, depois de o ter estado muitos anos na Praça da Alegria, em Lisboa, que é presidida por Rui Casqueiro.
Depois da muito eloquente introdução do moderador, o Dr. João Andrade elucidou a plateia explicando que várias personalidades de diferentes sectores do mundo taurino participaram em 2013 na feitura do novo Regulamento Tauromáquico, mas que depois aquilo que veio a ser elaborado como documento final e aprovado pelo Conselho de Ministros "não foi o documento que elaborámos", deixando mesmo a suspeita de que o mesmo teve "contributos de grupos anti-taurinos" com os quais terá "pactuado" o então primeiro-ministro Passos Coelho.
Perante tão descabida situação, Miguel Alvarenga frisou a sua estupefacção: "Pensei que o Regulamento tivesse sido feito por taurinos. Assim, foi uma sorte não ter sido elaborado, por exemplo, pela Federação Portuguesa de Futebol... é o país que temos...".
Nuno Pardal desdramatizou a hipótese os novilheiros estarem "ameaçados", afirmando que "é tão difícil para os toureiros a pé, como para os toureiros a cavalo, singrarem nesta profissão. Eu próprio fui cavaleiro e fui-me embora, se calhar por falta de valor para chegar longe, mas sobretudo porque não quis pagar para tourear...".
Luis Miguel Pombeiro disse, por seu turno, "que havendo valor, há toureiros e não se sentem dificuldades. O que não há hoje são novilheiros com o espírito de sacrifício para irem para Espanha e para passarem pelo que passaram, por exemplo, Mário Coelho (presente na sala) e Vitor Mendes".
Miguel Alvarenga corrobou a mesma opinião, recordando: "Mário Coelho, José Júlio, José Falcão, Vitor Mendes e outros mais foram figuras e singraram em Espanha, que é para onde devem ir os que querem ser matadores. Pedrito de Portugal, ainda novilheiro, esgotou o Campo Pequeno. E isso hoje não acontece com nenhum novilheiro, por muito valor que tenham e por muito que acreditemos neles. O problema não está no Regulamento, na lei, no que quiserem culpar, está, sim, na ausência de valores, de ídolos. A Festa em Portugal atravessa uma crise de ídolos. Não nos podemos esquecer que nem os cavaleiros levam gente às praças, quanto mais os novilheiros. Por mais que nos custe, Pablo Hermoso de Mendoza e Diego Ventura são os únicos toureiros com força de bilheteira em Portuga... e mesmo assim, no ano passado, não esgotaram as praças onde actuaram...".
Entre os assistentes, marcaram presença o vereador da Cultura do Município da Azambuja, António José Matos e alguns toureiros, entre os quais o Maestro Mário Coelho, os novilheiros João D'Alva, Diogo Peseiro e Rui Jardim, o bandarilheiro Ernesto Manuel (professor da Escola de Toureio local) e José Luis Gomes, antigo cabo dos Forcados de Lisboa e pai do matador Manuel Dias Gomes.
Antes deste debate, teve lugar no mesmo Auditório Municipal a apresentação do livro de memórias do grande aficionado António Salema, "A impressão digital de um azamnbujense aficionado" e na praça de toiros "Dr. Ortigão Costa" decorreu uma demonstração de toureio a pé a cargo dos alunos da Escola de Toureio da Azambuja.
Seguiu-se um animado jantar no restaurante "O Picadeiro".
Fotos Fernando Clemente