quinta-feira, 19 de abril de 2018

És único, Emílio!



Miguel Alvarenga - Só tu mesmo, Emílio. E mais ninguém. É uma velha máxima, mas não me canso de a repetir: se não existisses, terias mesmo que ser inventado, sei lá, desenhado, produzido em computador, feito numa dessas impressoras (modernices…) em três dimensões que até já fazem casas e qualquer dia farão pessoas. Emílios e tudo…
Há seis anos telefonaste e disseste-me: “Tenho um cancro no intestino”. E eu fiquei gelado, faltaram-me as palavras, parecia que o mundo desabava. E só conseguir dizer-te, perguntar-te: “E agora?…”. “E agora? - respondeste tu - Agora, vamos dar cabo do cancro!”. E deste, graças a Deus. E para mal dos meus pecados, que fiquem sem a Nikon que tinhas prometido que seria minha se fosses desta para melhor… Estúpido!
Dia sim, dia não, falamos. É normal. E esta semana avisaste-me para ir ver na RTP-1 de sábado passado, de manhã, o programa “Diga Doutor”, onde eras entrevistado, precisamente, pela tua experiência oncológica. “Vai ver e escreve qualquer coisa no blogue, o que te apetecer, mas escreve!”, pediste.
E pediste, não para enaltecer a tua ida à televisão (uma vez mais, já lá tinhas estado por esta mesma razão), não por vaidade, não por nada disso. Apenas e só para que as tuas palavras fossem ouvidas e servissem de aviso à navegação. “A partir dos 50 anos, todos devemos fazer os exames que eu fiz, por precaução, para que as coisas más possam ser apanhadas a tempo”, explicaste.
E eu fui ver o programa. E lá estavas tu, sentado no teu escritório, rodeado de fotos taurinas e de galardões que ao longo dos anos premiaram, e hão-de continuar a premiar, a tua genialidade, a tua maneira de ser diferente e se ser sempre o primeiro, o número-um. E falavas, falavas com esse teu sorriso, com essa tua calmaria (que às vezes até enerva, de tão calma e tranquila que é), sobre o cancro colorretal (assim se “chama” o do intestino) que te foi descoberto há seis anos e contra o qual lutaste e venceste, quase que diria única e exclusivamente, se não tivesse que louvar também todos os médicos que te ajudaram e apoiaram, pela tua força de vontade, por essa incontrolável força de viver - que é o maior dos exemplos que tu deste a todos.
Lá estava também a Drª Tânia Rodrigues, de que tanto me falavas, a tua médica oncológica que te ajudou a vencer essas batalhas, essa guerra.
E nos teus olhos, no teu sorriso, descobri outra vez essa tua força enorme, essa tua capacidade única e inigualável, de dizer “vou dar cabo do cancro” e deste mesmo.
E ainda tens mais força e um tremendo à vontade para vir à televisão, sei que não é o termo, mas vou usá-lo, “vangloriar-te” por teres tido um cancro. Eu sei que o fazes para dar força aos outros, para ajudar e no sentido de avisar para as precauções que se devem assumir. Mas porra, Emílio, eu tenho a mania que sou valente, mas não sei se era capaz de o fazer…
Toma lá um beijo - que é mesmo um beijo que mereces! Obrigado, meu querido e adorado Emílio, por seres quem és - e como és. Se não existisses, tenho a certeza que através destas tecnologias modernas, que eu odeio e tu também não adoras, alguém te haveria de inventar, de fabricar, sei lá. És mesmo único!

Veja o programa em https://www.rtp.pt/play/p4229/diga-doutor

Fotos D.R./@Diga Doutor/RTP-1