segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Tomar: Francisco Palha pisou de novo a linha de fogo!

O público assustou-se nas bancadas. E Francisco Palha conquistou Tomar com
ferros como estes que as imagens documentam e dispensam mais comentários!
Rui Salvador esteve simplesmente enorme, magistral, na lide do quarto toiro
da noite. O regresso do Grande Senhor!
Manuel Telles Bastos: duas lides à antiga em que esteve patente a arte, o valor
e a classe
Há que louvar e destacar as intervenções dos seis valorosos bandarilheiros:
Diogo Malafaia, Jorge Alegrias e João Pedro Silva; Paulo Sérgio, Ricardo Alves
e João Oliveira
Classe e arte: João Pedro Silva, um dos grandes entre os toureiros de prata
Dois momentos da intervenção de João Oliveira
Jorge Alegrias e Diogo Malafaia (em baixo)


Toiros duros de Monte Cadema este sábado em Tomar, a dar emoção e a mostrar que a arte tauromáquica é um espectáculo de risco. Como deve ser e como fazia falta. Lides empolgantes de Rui Salvador e Telles Bastos e mais uma actuação magistral de Francisco Palha no último toiro, a pisar outra vez a linha de fogo!

Miguel Alvarenga - Seis toiros de tamanho e apresentação q.b. da ganadaria Monte Cadema, a recordar os de antigamente, no tempo em que não se exigiam toirões desproporcionados com quilos exagerados, proporcionaram no sábado uma emotiva noite na praça de Tomar e êxitos repartidos pelos cavaleiros e grupos de forcados. Como uma vez ficou provado, não são precisos bisontes de 600 e 700 quilos para que o público se assuste nas bancadas.
Com “gatos na barriga”, a exigirem e sem nada facilitar, nem dando um minuto de tréguas aos cavaleiros, os toiros de Monte Cadema trouxeram emoção, risco e seriedade ao espectáculo - que é o que se quer e o que se precisa. E o que estava a fazer falta.
Nota alta para os toiros de Monte Cadema, pelas dificuldades que trouxeram aos artistas. Com toiros facilitões todos triunfam. Com toiros como estes, ásperos, duros, violentos e bravos, na generalidade, triunfam só os toureiros e os forcados de barba rija.
Os três cavaleiros - Rui Salvador, Manuel Telles Bastos e Francisco Palha - levaram “um aperto dos antigos”, sobretudo na primeira parte do espectáculo e, como muito bem me dizia Manuel Telles Bastos, “estes toiros obrigam a tourear como se toureava antigamente”, isto é, sem “folclores”, com entrega e seriedade. E muito risco.
Os três ginetes passaram maus bocados no início das suas primeiras lides, quando os toiros sairam em correria desenfreada dos curros, a carregar forte, procurando a todo o custo alcançar os cavalos. E depois nas lides também não tiveram um minuto de descanso. Raramente se fixando, os três primeiros toiros obrigaram os cavaleiros a muito porfiar e muito arriscar também.
Rui Salvador, com a sua experiência e maestria, deu a volta ao assunto sem problemas de maior. Manuel Telles Bastos praticou o tal toureio à antiga, muito à base das sortes à meia volta, mas sem que isso retirasse valor à sua actuação. Cada toiro tem que ser lidado de acordo com as suas características. Já Francisco Palha teve, na sua primeira actuação, uma prestação mais irregular, falhando alguns ferros e sofrendo violentos toques na montada, com um toiro que mal o deixou respirar.

Lides de alto risco 
na segunda parte

A segunda parte da corrida foi distinta - e com um nível muito mais elevado. Mas com toiros idênticos, a exigir, a espalhar emoção e a obrigar os toureiros a arriscarem muito mais do que com toiros suaves…
Rui Salvador teve no quarto da ordem um êxito magistral, como já tem obtido outros nesta temporada em que está a regressar em força à ribalta. Verdadeiramente notável a inteligência e o saber com que “viu” o toiro e o lidou, do princípio ao fim, com superior maestria.
Destaque para cinco ferros curtos de parar corações, os tais “ferros impossíveis” que foram durante anos a sua principal imagem de marca, a entrar pelo toiro dentro, quarteando-se num curtíssimo palmo de terreno, parecia que ia tudo pelos ares, e a cravar com rigor ao estribo, saindo airosamente da sorte com remates que levantaram o público. Mais ferros lhe pediram e mais ferros ele cravou - numa noite memorável e que reafirmou, em corrida de absoluta consagração nesta temporada de todos os triunfos, o regresso em força do grande Rui Salvador de sempre.
No quinto, outro toiro a exigir, Manuel Ribeiro Telles Bastos galvanizou o público como uma lide de grande brilho e imensa verdade, baseada na interpretação clássica que ele faz do toureio a cavalo.
Bregou e lidou com primor um toiro que veio a menos e na fase final procurou o refúgio em tábuas. Manuel provocou-o em terrenos apertados, conseguindo ferros de nota alta, que rematou com a classe e com a arte que são seus principais e reconhecidos apanágios.
O sexto e último toiro, também “brigão”, foi o mais mansote dos seis. Francisco Palha vinha “picado” com os êxitos dos companheiros e decidido a vingar a lide menos brilhante que tivera no seu toiro anterior (em que não dera volta à arena, apesar de a banda ter tocado em sua honra).
Brindou a lide a seu pai, que fazia anos. E melhor prenda não lhe podia ter dado. Que actuação e que ferros, meu Deus!
Francisco esteve enorme nos ferros compridos, a dar toda a prioridade ao toiro e quando este se refugiou nas tábuas, foi buscar a sua arma mais sagrada, o fantástico cavalo “Roncalino”, com o qual, pondo a carne toda no assador, cravou ferros verdadeiramente “do outro mundo”, num palmo de terreno, o último, então, foi um monumento, um assombro. Foi directo ao toiro, provocou-o, obrigou-o a investir e cravou de modo arrepiante, quase sem espaço para lhe sair da cara, rodando por centro, rematando uma lide deslumbrante. Público de pé, em euforia total em mais uma noite grande e histórica do jovem cavaleiro que está a marcar a temporada e, repito, a distanciar-se cada vez mais do pelotão. Há muito que a Festa precisava desta emoção, de um toureiro que assuste e que aumente o ritmo cardíaco de quem vai às praças. Palha vive a sua hora, o seu momento - e continua a marcar a diferença. Paco Ojeda disse há pouco tempo que “hoje toureia-se melhor do que antes, mas pisa-se muito pouco a linha de fogo”. Francisco pisa-a. E assim marca por completo a diferença.
A sua próxima corrida é no domingo, 2 de Setembro, em Montemor. Tomem nota. E não percam. Que eu não a vou perder.

Toureiros de prata 
e forcados em alta

É de inteira justiça aqui louvar e destacar as intervenções, frente a toiros que não foram fáceis, antes pelo contrário, de todos os bandarilheiros integrantes das quadrilhas dos três cavaleiros, quer nas lides, quer na colocação dos toiros para os forcados. Um olé bem alto para João Pedro Silva (todo um torerazo!), Paulo Sérgio, Ricardo Alves, João Oliveira, Diogo Malafaia e Jorge Alegrias.
Grandes pegas dos três valentes grupos em praça, a aguentarem-se com estoicismo e elevado brilhantismo frente aos duros toiros de Monte Cadema, que sem derrotar em demasia, investiram que nem comboios, dando por isso imensa emoção à intervenção dos forcados.
Pelos Amadores da Tertúlia Tauromáquica do Montijo pegaram Tiago André à primeira (pega brindada a Paulo Graça, antigo cabo dos Forcados de Tomar e destacado elemento dos Amadores Lusitanos, tendo também honrado a jaqueta dos Amadores de Alcochete) e Pedro Galamba, igualmente à primeira.
Pelos Amadores do Montijo foram caras João Paulo Damásio à primeira e José Pedro Suissas, também à primeira.
Pelos anfitriões, o Grupo de Tomar, pegaram Paulo Parker, à primeira, que se despediu das arenas e seu irmão Hélder Parker, na sua primeira intervenção, a sesgo, a emendar João Branco, que saíu lesionado, felizmente sem gravidade de maior, após três duras tentativas.
A corrida, uma organização de Abel Correia e Carlos Godinho, foi bem dirigida por Lourenço Luzio, assessorado pelo médico veterinário Dr. José Luis da Cruz.

Fotos Emílio de Jesus