Importante entrevista do deputado comunista António Filipe ao jornal "O Mirante", defendendo as corridas de toiros e afirmando que proibi-las "seria ineficaz"
Numa grande entrevista concedida na semana passada ao jornal "O Mirante", António Filipe, histórico deputado do PCP, defende a tauromaquia e a existência das touradas:
"Admito que elas existam e seria absolutamente destituído de sentido qualquer iniciativa para as proibir, porque continuariam a realizar-se. Estou convicto que a proibição das touradas seria ineficaz. E havendo touradas numa situação de ilegalidade não sei como seria, como se resolveria o problema de ordem pública. Não só não sou defensor dos proibicionismos, como não hostilizo as pessoas que apreciam o espectáculo tauromáquico".
E acrescenta:
"Não sendo um aficionado, nem sendo entendido em questões tauromáquicas, respeito as pessoas que gostam de touradas. Não hostilizo. Admito que se não tivesse sido criado na Amadora, que não tem propriamente tradições tauromáquicas, poderia ser um aficionado (...). Já nasci em Lisboa e a minha infância era passada nove meses em Lisboa e três perto de Alcanena. Mas apercebi-me da importância que tem para estas gentes. Lembro-me de no início dos anos 70 na aldeia da minha mãe haver uma única televisão num café e quando havia tourada toda a gente da aldeia ia para o café ver a transmissão".
Questionado sobre o financiamento de câmaras municipais a touradas, afirma o deputado do PCP:
"Posso compreender isso. Porque as autarquias vão ao encontro das expectativas das populações. Mesmo forças políticas que no plano nacional hostilizam as touradas, quando têm as festas do Colete Emcarnado ou outras festividades populares que integram actividades tauromáquicas, associam-se a elas. Há aqui uma certa hipocrisia. O destino das touradas será aquele que a nossa evolução cultural revelar".
À pergunta sobre se "há excessos, radicalismos, de defender tudo o que mete animais", respondeu:
"O que me preocupa são as intenções probicionistas de tudo e mais alguma coisa. Está-se num caminho em que, com toda a leviandade, se propõem proibições, repressões e sanções sobre tudo e mais alguma coisa".
E conclui:
"Há sectores da sociedade com algum défice de bom senso em matéria de querer reprimir tudo e mais alguma coisa. Nos meios mais urbanos há uma tendência para impor por via legal uma relação com os animais, que tem muito pouco a ver com a natureza e que em alguns aspectos até é infantilizada".
Foto "O Mirante"