Aqui fica, com a devida vénia, a crónica de Miguel Ortega Cláudio no site tauronews.com sobre a corrida de sábado em Alcáçovas, onde o triunfador foi João Moura Caetano
As Alcáçovas terra de Chocalhos, Doces, Toureiros e Forcados : O fabrico de chocalhos é uma arte milenar que tem no território alentejano a maior expressão a nível nacional, especialmente para a freguesia de Alcáçovas.
Uma “vasta riqueza de doces palacianos” marca também a identidade desta terra, que ao longo de séculos foi ponto de passagem da realeza e habitado por famílias nobres. Aqui montou sede de vida uma das famílias mais toureiras de Portugal, a Núncio. João Núncio, o “Califa de Alcácer”, seu filho José Barahona Núncio, seu neto Francisco e seus bisnetos Francisco e António. São vários também os forcados que envergaram as jaquetas das ramagens em vários grupos.
Quis em boa hora a Associação Tauromáquica Alcaçovense reactivar a corrida de toiros na Feira do Chocalho e o resultado foi uma grande noite de toiros que contou com meia casa forte de público.
Toiros de duas ganadarias da região e muito queridas pelas gentes desta vila, Passanha e Charrua.
Três cavaleiros dinásticos António Brito Paes, João Moura Caetano e o praticante Francisco Núncio. Também dois grupos de forcados Amadores com grandes ligações à terra, Lisboa e São Manços.
Abriu praça António Brito Paes diante de um toiro da ganadaria Charrua de bom jogo. Brito Paes tem escola, tem bases e está bem montado – uma trilogia importantíssima para se ser cavaleiro tauromáquico e neste toiro deu provas disso. É um clássico, um artista, é um excelente equitador e é um toureiro com princípios e que se rege por uma linha clássica, de verdade e de emoção e neste primeiro da noite demonstrou tudo isso, cravando com verdade bons Ferros em dois cavalos que faziam a sua estreia.
O quarto da noite foi um Passanha, bem apresentado e algo reservado, Brito Paes puxou novamente de todos os princípios atrás referidos para dar a “volta à tortilha” e realizar uma lide positiva.
João Moura Caetano no seu primeiro, um toiro bonito e bravo de Charrua, destacou-se logo nos compridos, a aguentar até ao fim, cravando com acerto, depois de dar toda a prioridade ao toiro. E seguiu a sinfonia de arte nos curtos com o cavalo Campo Pequeno, com ferros cingindos e ajustados. Os ferros da sua marca fazem do seu classicismo uma epopeia de bom toureio.
No quinto um toiro nobre e com qualidade Passanha, Caetano pisou terrenos de risco e cravou com batida ao piton contrário, ao estribo, com a verdade do seu toureio, com o sentir da sua arte. Grande lide de principio a fim e triunfo absoluto na vila das Alcáçovas.
Francisco Núncio jogava em casa e em primeiro lugar lidou um bom toiro da ganadaria Passanha, nobre e com classe. O cavaleiro praticante acusou algum nervosismo no inicio da lide mas recompôs-se e desenvolveu uma lide agradável, com ferros vistosos, pondo emoção, demonstrando atitude e querer.
O sexto da noite um “colorado” de Charrua, distraído e com algumas querenças, o mais jovem da terna não lhe virou a cara, foi à luta, deu-lhe prioridade, aproveitou-lhe o som e o resultado foi uma lide de um tremendo valor. Boa passagem de Francisco pela sua terra.
O grupo de Lisboa a comemorar 75 anos e o de São Manços voltavam às Alcáçovas depois de em 2017 aqui terem medido forças.
Abriu praça Mário Real pelos Amadores de Lisboa numa boa pega executada à primeira tentativa. João Maria Bagão, numa excelente pega à primeira tentativa com o toiro a fugir ligeiramente ao grupo mas com o forcado da cara com alma a não querer sair. Fechou a noite pelos de Lisboa, António Galamba à segunda tentativa com um toiro a vir por baixo e a dificultar o momento da reunião.
Pelos amadores de São Manços abriu a noite Sérgio Passos, que brindou a sua sorte aos amadores de Lisboa pelos seus 75 anos, à primeira tentativa numa boa pega de caras. Diogo Coutinho à quarta tentativa num toiro a vir sempre por baixo e a derrotar nas canelas do forcado. Fechou a noite de pegas João José Rosmaninho à segunda tentativa. Nas duas tentativas o João esteve enorme a aguentar os derrotes mas primeira tentativa faltaram ajudas para a pega se concretizar.
A qualidade e bravura apresentadas pelo segundo toiro quanto a mim poderia ter sido merecedora de volta à arena ao ganadero Gustavo Charrua.
Dirigiu a corrida o director Domingos Jeremias, assessorado pela médica veterinária Ana Gomes.
Miguel Ortega Cláudio/tauronews.com
Foto D.R./@João Moura Caetano/Facebook