segunda-feira, 27 de abril de 2020

Leiria, cidade de tradição tauromáquica

Corrida à antiga portuguesa na extinta praça de toiros de Leiria em  14 de Junho
de 1914
Leiria deu ao toureio duas dinastias de cavaleiros: a dinastia Athayde e a
dinastia Zuquete. Nas fotos de cima, os cavaleiros D. José de Athayde e José
Zuquete. Em baixo, bilhete de uma corrida em Leiria no ano de 1905


Jaime Amante recorda-nos as tradições tauromáquicas da cidade de Leiria, onde já no reinado de D. Duarte decorreram entre os anos de 1433 e 1438 jogos de toiros

Jaime Amante - Há referências históricas a jogos de toiros no concelho de Leiria ao tempo do reinado de D. Duarte, que decorreu entre os anos de 1433 a 1438; é conhecido que el-rei D. Duarte, nascido em Viseu e falecido em Tomar, se interessou pelos assuntos relacionados com cavalos e toiros, sendo até de sua autoria o livro "Arte de Bem Cavalgar em Toda a Sela".
Quanto à antiga praça de toiros em Leiria, que se inaugurou em 19 de Maio de 1891, e comportava lugar para cerca de 4.000 espectadores, a mesma foi erigida por subscrição pública e inicialmente explorada por um grupo de cidadãos.
Foi erigida no sopé do Santuário da Nossa Senhora da Encarnação ocupando o espaço onde hoje se situa o Lar da Santa Casa da Misericórdia de Leiria (junto à Avª de Nossa Senhora de Fátima) .
Desde a sua fundação, em 1891, até à sua demolição, em finais dos anos 60, passaram pela praça de Leiria alguns dos melhores cavaleiros tauromáquicos do século XX — José Casimiro, Simão da Veiga Júnior, João Branco Núncio, Fernando Salgueiro, D. Francisco de Mascarenhas, D. José Athayde e seu irmão D. Luís Athayde ou David Ribeiro Telles; mas também toureiros a pé, como o célebre Manuel dos Santos e seu primo António dos Santos, Diamantino Viseu e Francisco Mendes.
Em 1909,a cidade de Leiria recebeu a visita do rei D. Manuel II, que era muito aficionado e honrou os leirienses com a sua presença, ocasião em que se realizou na praça de toiros da cidade uma corrida de gala à antiga portuguesa.
Em 1919, na sequência da degradação da praça, foi constituída uma comissão que resolveu recolher fundos para a sua reparação e solicitou aos detentores das acções para que estas fossem cedidas de forma a que as instalações fossem oferecidas ao Hospital D. Manuel de Aguiar, o que veio a suceder. Recebeu obras para a sua recuperação e voltou a funcionar entre os anos de 1930 até finais dos anos 60.
Paralelamente, instalaram-se praças de madeira noutros locais da cidade, uma delas no actual Largo do Papa Paulo VI, entre os anos de 1920 e 1930.
A praça foi-se degradando sem que a Santa Casa da Misericórdia de Leiria, entidade proprietária daquele hospital, decidisse a sua remodelação.
O arquitecto Camilo Korrodi chegou a oferecer um projecto para uma nova praça de toiros, mas a praça viria a ser demolida nos finais dos anos 60, por falta de iniciativa do poder local para que se efectuassem as devidas reparações de manutenção.
Até aos nossos dias várias corridas de toiros se têm realizado na cidade Rainha do Liz, em praças portáteis instaladas em vários pontos da cidade.
A localidade de Milagres recebeu a 13 e 14 de Setembro de 1987 dois eventos taurinos, em praça de toiros portátil instalada perto do actual Kartódromo dos Milagres.
No domingo 13 de Setembro uma corrida de toiros à portuguesa, na qual se apresentou na sua terra o cavaleiro Francisco Alcaide, e na segunda-feira 14 de Setembro um espectáculo de variedades taurinas.
Em Maio de 1988 realizou-se mesmo uma Feira Taurina integrada na Feira de Maio. A praça foi instalada nos actuais terrenos da Urbanização Nova Leiria, e anunciava três espectáculos, uma corrida à portuguesa, uma corrida mista e um espectáculo cómico-taurino.
Os espectáculos realizaram-se nos dias 15, 22 e 29. A 15 a trupe cómica de “El Gran Totó” e os cavaleiros amadores Marco José, Nuno Pardal e João Zuquete com as pegas a cargo dos Juvenis da Nazaré. No dia 22 - Dia da Cidade - lidaram-se cinco toiros de Pinto Barreiros pelos cavaleiros Gustavo Zenkl, António Raúl Brito Paes, José Paulo, Francisco Alcaide e Luís Saramago. As pegas estiveram a cargo dos forcados Amadores do Ribatejo.
A Feira encerrou-se (a 29) com uma corrida mista com a presença de José Zuquete e Jorge de Ourique a cavalo e os diestros José Júlio, Ricardo Chibanga e o mexicano Arturo Montaño. Pegaram os forcados Amadores Lusitanos. Lidaram-se cinco toiros de António Barbeiro. Era presidente da Câmara na época o Engº Lemos Proença.
Cidade de tradições taurinas, nela nasceram duas dinastias toureiras, a Família Athayde e a Família Zuquete e ainda vários cavaleiros tauromáquicos como o caso de Miguel Duarte, Francisco Alcaide e, por adopção, Marco José.
Na Freguesia de Pousos ainda hoje na sua toponímica, podemos encontrar a Rua da Antiga Praça de Toiros e a localidade da Boavista foi casa mãe do ganadeiro António Barbeiro.
Há indicações de que na Freguesia dos Milagres existiu um recinto para a lide de toiros.
Nos últimos vinte anos realizaram-se corridas de toiros ou festivais nas localidades de Figueiras, Barracão e Santa Eufémia nos anos de 2014 e 2015.
São várias as localidades do concelho que anualmente integram nas suas festas anuais as tradicionais vacadas e garraiadas populares, caso, por exemplo, da povoação da Bidoeira de Cima.
A Semana Académica de Leiria contou também, durante anos, com uma vacada académica.

Fotos D.R.