Hoje haverá uma reunião na Inspecção-Geral das Actividades Culturais (IGAC), que tutela o espectáculo tauromáquico, com o objectivo de entender o que até aqui continuam a ser meras suposições. Há quem diga que as praças vão reabrir com "meias casas" (utilização de apenas 50% dos lugares), mas a classe empresarial está ainda na expectativa de conhecer as novas normas para a retoma da actividade. Lotações esgotadas só para o ano. Pessoa de Carvalho, presidente da Associação de Empresários, acredita que hoje tudo ficará devidamente esclarecido
Miguel Alvarenga - A ministra da Cultura anunciou ontem, em declarações à agência Lusa, a reabertura das salas de espectáculos (ao ar livre e fechadas), que inclui teatros e cinemas e que muitos subentenderam abranger também as praças de toiros, mas a realidade é que ainda ninguém percebeu bem se será assim e, se for, como vai ser.
O mundo dos toiros "embandeirou em arco" e convenceu-se de que já podia haver corridas a partir da próxima segunda-feira, 1 de Junho. A ministra estipulou uma distância de um metro e meio entre cada espectador (excepto se forem familiares) e alguns taurinos interpretaram que se assim for no caso das praças, as mesmas poderiam reabrir com a utilização de 50% das suas lotações, isto é, com "meias casas", o que, para alguns, já torna minimamente viável a realização de corridas.
O "Farpas" fez esta manhã uma ronda por alguns empresários e a realidade é que estão todos ainda "meio confusos", sem perceber se as medidas anunciadas pela ministra Graça Fonseca se aplicam igualmente aos recintos tauromáquicos e em que condições.
Por outro lado, os empresários estão na maioria algo renitentes e na expectativa de ver o que acontecerá. Sobretudo, se as pessoas "terão coragem" para voltar às praças mesmo ainda sem vacina e com o perigo de contágio apesar de todas as medidas restritivas e de segurança. E, acima de tudo, se as pessoas "têm dinheiro para ir aos toiros" depois de uma crise que a todos afectou gravemente no ponto de vista financeiro.
E há ainda que aguardar também pela evolução da pandemia no próximo mês de Junho. Muitos estão a confundir desconfinamento com descontração, as pessoas já andam "demasiado à vontade" como se nada se passasse - e isso pode ter consequências catastróficas num futuro próximo.
Esta tarde vai haver uma reunião de empresários tauromáquicos com a Direcção-Geral de Saúde e a IGAC, entidade que depende do Ministério da Cultura e que tutela o espectáculo dos toiros e que também ainda não tem, ao que sabemos, directivas concretas do seu Ministério e da Direcção-Geral de Saúde quanto à possibilidade de reabrirem as praças de toiros.
Há também a questão dos Forcados, que constituem o maior grupo de risco dentro do espectáculo tauromáquico pelo "ajuntamento" que existe entre oito homens numa pega, questão essa que as autoridades sanitárias ainda não debateram com os próprios, representados na Associação Nacional de Grupos de Forcados.
Neste momento e quanto à possível reabertura dos recintos tauromáquicos, existem apenas suposições. Pode ser assim, pode ser assado. Mas ninguém ainda entendeu como vai poder ser. E se vai ser. E é isso que pode ficar hoje definido.
Empresários à espera de soluções
Paulo Pessoa de Carvalho, presidente da Associação Portuguesa de Empresários Tauromáquicos (APET), confirmou ao "Farpas" que "hoje pode haver definições oficiais" e "tudo pode ficar definitivamente esclarecido" sobre a reabertura das praças de toiros e as medidas restritivas que vão ser adoptadas para o reinício da actividade. A APET está a trabalhar nesse sentido com a IGAC e a DGS e mais logo já pode haver fumo branco. "Estamos na expectativa, mas penso que tudo vai ficar hoje definido", diz Paulo Pessoa de Carvalho.
António José Cardoso, da empresa Toiros & Tauromaquia, admite realizar as duas corridas da Feira de Alcochete no mês de Agosto, mesmo sem as populares Festas do Barrete Verde (que já foram entretanto canceladas pela autarquia), mas está também "à espera de conhecer as directrizes" para a reabertura das praças e só depois decidirá consoante a lotação da praça (que é pequena, como se sabe) que vier a ser permitido utilizar.
Ricardo Levesinho, gestor de várias praças do país e que tinha agendadas 24 corridas em todas elas para esta temporada, adianta que mesmo que a actividade seja retomada já em Junho, mantém o cancelamento da corrida do Colete Encarnado (festa também já cancelada pela autarquia) em Vila Franca, mas já está "a trabalhar em força" para levar a efeito a Feira de Setembro na Moita e a Feira de Outubro na "Palha Blanco" (Vila Franca de Xira).
Algumas praças que abrem sobretudo no Verão, casos da Nazaré, da Figueira da Foz e das Caldas da Rainha, podem vir a dar ainda corridas este ano, mas os seus gestores (respectivamente Rui Bento, Ricardo Levesinho e Rafael Vilhais) aguardam também directivas para tomar decisões.
A empresa de Santarém, por exemplo, anunciou previamente que cancelava as três corridas que programara para 2020 e que as adiava para o próximo ano. A empresa do Montijo, embora ainda não o tenha feito oficialmente, deverá também suspender a temporada deste ano, só voltando a realizar corridas em 2021. E a de Évora, que já suspendeu três das corridas que tinha anunciado, também ainda não tomou decisões sobre se ainda realizará ou não algum espectáculo este ano. A corrida dos seis toiros de João Moura Júnior (Concurso de Ganadarias), que se deveria ter efectuado em Maio e à partida se falou que poderia ser em Outubro, pode também, ao que sabemos, realizar-se só no próximo ano.
Em stand by está também a Feira de Agosto em Abiul, onde provavelmente também estarão canceladas as Festas do Bodo, mas que pode pelo menos levar a efeito a corrida nocturna de dia 14.
Outras empresas que contactámos e que estão também "na expectativa de saber como tudo se vai processar", garantem que as corridas que já foram canceladas não se vão mesmo realizar, mas admitem poder reabrir as suas praças pelo menos em Agosto.
O Campo Pequeno continua a ser a grande incógnita. Não se sabe se Álvaro Covões vai manter congelado o concurso para adjudicação das datas, nem se tenciona ainda reabrir este ano a praça aos espectáculos tauromáquicos.
Foto D.R.