Manuel dos Santos e Alfredo Ovelha: no tempo em que havia empresários tauromáquicos a sério |
Manuel Gonçalves, empresário de Vitórias |
Nuno Salvação Barrero (recebendo das mãos de Miguel Alvarenga um Troféu ao Mérito atribuído pela Real Tertúlia Tauromáquica D. Miguel I) |
António Manuel Cardoso "Nené". Em baixo, Luis M. Pombeiro |
Que é feito deles, dos empresários tauromáquicos deste país? Pombeiro é o único herói que deu um passo em frente e anunciou a primeira corrida pós-desconfinamento, mesmo ainda com a limitação de ter que usar uma muito menor lotação da praça? Afinal, onde estão os outros?
Miguel Alvarenga - Alguns andavam excitadíssimos e projectavam dar corridas televisionadas sem público nas bancadas. Ficaram irritadíssimos quando Luis Miguel Pombeiro foi um dos poucos (e eu também) a manifestar-se contra esses espectáculos contra-natura.
Depois sairam as normas da DGS, cheias de restrições e de limitações, permitindo apenas a utilização de um terço ou um quarto da lotação das praças - e recuaram todos. Que não dava lucro, que era inviável, que assim não podia ser.
E Pombeiro voltou a estar na linha da frente. Com um terço, com um quarto, com o que for, deu um passo em frente e disse: "Não podemos parar!" e "Resistiremos!". Disse e fê-lo.
Anunciou para 11 de Julho a primeira corrida de reabertura mundial da Cultura Tauromáquica em Estremoz. E prometeu mais, nas outras praças que gere (e são seis!).
A seguir, veio a dupla José Maria Charraz/Tiago Graça anunciar também uma segunda corrida para 19 de Julho em Moura.
E os outros?
Continuaram a recuar, alguns mesmo houve que, pura e simplesmente, cancelaram as corridas nas suas praças em 2020, preferindo só retomá-las no próximo ano, quando, pensa-se, a situação já esteja normalizada.
Agora apareceu nova luz ao fundo do túnel. Na reunião de ontem no Ministério da Saúde, que juntou frente-a-frente o secretário de Estado da Saúde, o inspector-geral da IGAC e o presidente da Associação Portuguesa de Empresários Tauromáquicos, ficou estabelecido que as normas da DGS serão rectificadas e se passará a poder utilizar 50% das lotações das praças, salvo naquelas que não reunem as condições mínimas de garantia para a saúde pública e o bem estar de todos (que são pouquíssimas). Para Agosto está agendada nova reunião onde se espera que a limitação do uso de lugares nas praças volte a ser alterada e passe para os 75%.
E com mais razões ainda para o fazer agora, pergunto: onde estão, afinal, os empresários tauromáquicos deste país? Que mais corridas estão anunciadas, para além das de Pombeiro e de Charraz/Graça? Onde estão agora aqueles que queriam dar touradas televisionadas sem público? Encolheram-se, esconderam-se, preferiram assobiar para o lado?
Pombeiro e os empresários de Moura são os únicos heróis? Mais nenhum se chega à frente?
Sei que Rui Bento projecta corridas, mesmo que poucas, na Nazaré e em Almeirim. Sei que Ricardo Levesinho projecta dar duas corridas na Feira da Moita e outras duas na de Outubro em Vila Franca e ainda uma na Figueira da Foz. Oiço dizer que se vão realizar corridas na Barquinha, que podem realizar-se uma ou duas corridas na Feira de Alcochete e outra em Reguengos de Monsaraz. E pouco mais. E o Campo Pequeno, o que se passa afinal? Sim ou sopas?
2020, por obra e desgraça do vírus maldito, é um ano para esquecer - todos o sabemos e todos o reconhecemos. Nem os empresários, nem os toureiros, nem os ganadeiros vão ganhar dinheiro. É um ano de sacrifício e de resistência - para que a Festa não morra e a sua chama se não apague. Mas é preciso que os empresários - e os toureiros e os ganadeiros - se cheguem à frente, como fez Pombeiro e como fez a dupla que gere a praça de Moura.
Pergunto: como seria se ainda houvesse empresários a sério como Manuel dos Santos, como Alfredo Ovelha, como Manuel Gonçalves, como Nuno Salvação Barreto, como António Manuel Cardoso "Nené", para citar apenas estes? O que é que eles estariam a programar e a idealizar para avançar com a Festa para a frente neste tempo de crise e incerteza?
Não sei, mas quase adivinho, porque os conheci bem. Mas uma coisa sei: não tinham enterrado a cabeça na areia, não tinham cancelado a temporada nas suas praças. Alguma coisa haveriam de estar a fazer.
Como Pombeiro fez. E como a dupla de Moura também fez.
Que é feito dos outros?...
Fotos D.R., M. Alvarenga, Marques Valentim e Maria Mil-Homens