quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Diogo Peseiro em vésperas do grande compromisso em Almeirim: "Esperem de mim uma entrega máxima!"

Diogo Peseiro chega esta sexta-feira a Almeirim depois de importantes triunfos alcançados nas últimas semanas em destacadas novilhadas em Espanha. Almeirim é a sua terra natal e vai pela primeira vez apresentar-se perante o seu público. Consolidar o seu nome no escalafón de novilheiros do lado de lá da fronteira é neste momento o seu primordial objectivo. Depois virá a sonhada alternativa. Para já, conquistar a aficion portuguesa é a meta. Esta sexta em Almeirim vai actuar ao lado do consagrado matador espanhol António Ferrera. Em vésperas do grande compromisso, o "Farpas" foi pôr a conversa em dia com o futuro matador de toiros

Entrevista de Miguel Alvarenga

- Um ano marcado por importantes triunfos em Espanha coloca-o num interessante patamar e “apressa” certamente a desejada alternativa. Já há novidades, Diogo? 

- Já existiram algumas ofertas mas decidimos esperar pelo momento mais oportuno. Consolidar o meu nome no escalafón de novilheiros é a meta principal para tomar a alternativa com a máxima força possível, de modo a que, já de matador, ter as portas abertas das principais praças do mundo e evitar o "parón" a que a maioria dos recém alternativados se sujeita.


- A falta de novilhadas em Portugal, aliada à aparente pouca vontade dos empresários em assegurarem o futuro do toureio a pé tem motivado a sua ausência das arenas lusas? 

- Sim, fundamentalmente essa é a grande razão da minha ausência, não só das arenas, mas também do meu próprio país. A falta de oportunidades obriga à emigração. Nunca foi tão difícil tornar-se matador de toiros vivendo em Portugal como o é agora. Para dar um exemplo, a Feira de Sevilha é organizada tendo como prioridade os toureiros andaluzes, tal como San Isidro (Madrid) dá prioridade aos toureiros da sua Comunidade, o que lhes permite, caso haja triunfo, romper em figura. Cá tal não acontece, um triunfo em Portugal já abre poucas portas no estrangeiro e se a isso se une a falta de  oportunidades, então não podem surgir novos ídolos e graças a isso, muitos novilheiros com grandes condições têm que abdicar do seu sonho.


- Este ano, actuou sem sorte na Azambuja em finais de Maio, mas deixou ambiente pela força de vontade que demonstrou. Foi uma tarde de azar? 

- Realmente, nas minhas últimas actuações em Portugal a sorte não esteve do meu lado, a falta de condição dos toiros não me permitiu tourear como gosto e expressar o que sinto. Espero que essa fase tenha passado, porque tenho muito de mim por expressar !


- Finalmente, surge a grande oportunidade. A corrida desta sexta-feira em Almeirim. Apresenta-se pela primeira vez na sua terra, apoiado pelo empresário Rui Bento, que lhe deu esta possibilidade; mas apoiado sobretudo pelo Maestro António Ferrera, que aceitou vir a Portugal alternar com um novilheiro. Reconhecido por isso, Diogo? 

- É uma grande oportunidade e sobretudo um grande gesto do Maestro António Ferrera, mostrando o porquê de ser figura do toureio, sendo-o fora e dentro do ruedo. O Maestro, melhor que ninguém, sabe o difícil que é afirmar-se e ter as oportunidades, passaram vários anos até ao momento de ser valorizado como o Maestro que é hoje, toureando com esse sentimento e paixão que imprime às suas faenas. Para mim é um privilégio e estou muito feliz que tenha aceite este desafio, que é muito importante não só para mim como para o toureio em Portugal. Oxalá se abra uma porta e mais novilheiros como eu, tenham a mesma oportunidade para se poderem afirmar . 


- Está a um passo de cumprir o sonho de se tornar matador de toiros. Fale-me um pouco do seu trajecto, dos princípios na Escola de Azambuja, depois na Academia do Campo Pequeno. O que o levou a querer ser toureiro, sem antecedentes familiares nesta arte? 

- A minha família sempre foi muito aficionada e o meu irmão, que sonhava ser cavaleiro, levou a que rapidamente me apaixonasse pelo campo e pelo toureio. Tudo começou com as toalhas lá de casa, até que com 5 anos, na praça de toiros de Almeirim, fui convidado pelo bandarilheiro Pedro Gonçalves a experimentar diante de uma bezerra, aí peguei as minhas primeiras chicuelinas... com voltareta incluída. Por problemas em um rim, tive de evitar esforços até que com 14 anos decidi voltar a lutar pelo meu sonho e entrei na Escola de Toureio de Azambuja, que tinha como professor o José Fialho; ao fim de dois anos decidi ir mais em sério e fui para a Academia do Campo Pequeno em busca de mais oportunidades e conhecimento, e o meu crescimento foi imenso, sob os ensinamentos do meu grande Maestro e que tanta saudade me deixa, que é o caso do Maestro José Luis Gonçalves, com a ajuda do bandarilheiro Américo Manadas. Foi nesse momento que o Diogo Peseiro surgiu para o toureio, sendo impulsionado pelo Maestro Rui Bento, que geria o meu lançamento. A todos eles estou muito agradecido! Sem eles nada seria possível.


- Deixar os amigos e a família para se radicar em Salamanca foi duro, presumo. Mas foi o mesmo caminho que seguiram, antes de si, toureiros como Amadeu dos Anjos, José Falcão e Rui Bento, entre outros, que também ali viveram. Fale-me dessas vivências por terras de Salamanca. 

- Sim foi uma decisão difícil, mas o mais complicado foi conciliar com os estudos em Portugal, que estando a viver em Salamanca pelo toureio, licenciei-me em Gestão à distância (Portugal), Tomei essa decisão após o debute com picadores. Arrisquei e penso que ganhei, se não estivesse aqui não teria tido as oportunidades que tive, demorou mas aos poucos vão abrindo-se portas e o meu nome vai ficando cada vez mais consolidado.


- A novilhada em Villaseca de la Sagra, onde foi fazer uma substituição, mudou a sua vida? A crítica referiu que fez a faena da sua vida de novilheiro. E o próprio Diogo disse numa entrevista que aceitou ir porque sentiu que “tinha a oportunidade de mudar por fim” o seu destino. Foi mesmo? 

- A minha vida mudou após o meu encontro com os novilhos-toiros de "Perlas Negras" de La Quinta, não haja dúvida. Poderia ter mudado muito mais caso a espada tivesse entrado, possivelmente estaríamos como figura dos novilheiros, mas de todas as formas foi muito positivo, foi uma faena muito compacta e emotiva e penso que dei a dimensão de que Portugal pode vir a ter uma futura figura do toureio. Passei de mais um, a ser um novilheiro a ter em conta e isso é muito importante. Agora é continuar nessa linha e demonstrar que não foi casualidade. 


- Quem são os seus ídolos? 

- Na verdade todos, sei que soa cliché, mas é a verdade, admiro todos os que expressam os seus sentimentos colocando a sua vida em risco. Talvez o que mais me emocione seja mesmo o Maestro José Tomás,  pela sinceridade e verdade com que pisa o ruedo. 


- O que podem os aficionados esperar de Diogo Peseiro esta sexta-feira em Almeirim? 

- Uma entrega máxima! Assim os toiros tenham condição e me ajudem a construir faenas importantes. 


- O Campo Pequeno, onde já triunfou, é um sonho permanente? 

- Completamente! É a praça que me lançou, onde já tive vários triunfos e onde espero voltar para os consolidar, desta vez, diante de toiros. 


- E o futuro, toureiro? 

- Trato de viver no presente, dia a dia, tarde a tarde. Agora só penso na noite de Almeirim.


Fotos Gairupe Fotografia, L. M. Sierra e D.R./@Diogo Peseiro