Momento emotivo da homenagem a Francisco Vassalo, cabo histórico do GFA de Azambuja. Em baixo, os seis cavaleiros |
Miguel Alvarenga - Das cinco corridas que se realizaram neste fim-de-semana, a de ontem à tarde na Azambuja era a única que tinha, verdadeiramente, razão de ser. Realiza-se há mais de sessenta anos nesta data tradicional da Feira de Maio. E, exactamente por isso (é assim tão complicado os senhores empresários aprenderem a fazer as coisas bem feitas, como as fez Pombeiro?...), foi a que mais gente teve nas bancadas - três quartos fortes preenchidos, a marcar a diferença (e a cumprir a tradição) em relação às corridas fora de data que se efectuaram noutras praças no sábado.
Comemoraram-se os 55 anos do grupo de forcados Amadores de Azambuja (que teve uma "encerrona" de glória, pegando cinco toiros à primeira, alguns por intermédio de antigas glórias, e só um à segunda tentativa) e homenageou-se, ao intervalo, o antigo cabo Francisco Vassalo, um histórico do valoroso grupo.
Lidaram-se seis magníficos toiros da ganadaria de João Ramalho, de apresentação irrepreensível, sem quilos a mais, sem esse exagero que agora está na moda de apresentar "búfalos" com 600 quilos, de que só foi mais reservado o último, tendo os outros todos tido notável comportamento. O ganadeiro João Ramalho (87 anos de muita aficion) foi por duas vezes dar merecida volta à arena, no terceiro e no quarto toiros.
E artisticamente, a corrida foi um êxito enorme, mais uma daquelas corridas que fazem aficionados e trazem de volta à Festa o esplendor de outros tempos.
Seis cavaleiros, seis estilos distintos, variedade que não foi o habitual "mais do mesmo". O cartel estava bem montado, bem rematado e recheado de interesse.
Os destaques maiores foram ontem para Marcos Bastinhas, numa das melhores actuações que lhe vi nos últimos tempo, completa, fantástica e emotiva do primeiro ao último ferro; para Duarte Pinto, numa lide de cátedra e maestria, com inteligência e saber, com ferros de muita verdade e emoção a entrar pelo toiro dentro; e para Andrés Romero, que uma vez mais deixou o público em alvoroço, autêntico "furacão" que está cada vez mais com maior cartel entre a aficion portuguesa.
Mas Manuel Telles Bastos (numa actuação clássica e perfeita), Parreirita Cigano (valente, ousado e a lidar muito bem) e Joaquim Brito Paes (que demonstrou uma vez mais estar apto para a alternativa que vai receber na primeira corrida da temporada lisboeta no próximo dia 21 de Julho) - não ficaram ontem muito aquém dos três grandes triunfadores que referi.
Os seis cavaleiros tiveram direito a música (concedida no momento certo, em cada lide, pelo competente director Ricardo Dias) e deram todos eles aplaudidas voltas à arena. A corrida iniciou-se às cinco da tarde e terminou já perto das nove, não só porque dois toiros demoraram muito tempo a recolher (proporcionando-nos duas "touradas à corda"...), mas porque foram algo demoradas - mas aceitáveis - as homenagens que ao intervalo se fizeram ao GFA de Azambuja e ao seu antigo cabo Francisco Vassalo. Mas aceita-se. Era um dia de festa para o grupo.
Abriu praça Manuel Ribeiro Telles Bastos, que esteve em grande plano com o seu estilo clássico e sóbrio, com a sua classe, a lidar muito bem um bom toiro de João Ramalho. Tudo o que fez foi bem feito e o público não lhe regateou aplausos.
Anunciava-se o "furacão" Romero, mas estava lá outro ontem. O "furacão" Bastinhas. Marcos foi esperar o toiro à "porta dos sustos", recebeu-o com arte e valor, aguentando a carga até o parar para depois citar de praça a praça e cravar o primeiro ferro comprido com verdade e emoção, ficando desde logo com o público na mão. Depois abriu o livro e protagonizou uma lide verdadeiramente empolgante, com brega vistosa, cites frontais temerários em terrenos de compromisso e ferros que levantaram o público das bancadas. Terminou com um ferro curto e o tradicional e bem executado par de bandarilhas. Alvoroço total nas bancadas. Uma das melhores actuações que lhe vi nos últimos tempos.
Era belíssimo o terceiro toiro da corrida - e Duarte Pinto "mostrou-o" ao público, evidenciando a sua bravura, citando com distância, dando-lhe a prioridade, vencendo o piton contrário e deixando ferros de poder a poder com a raça e a arte que são apanágios do seu bom toureiro. Uma lide magistral. O ganadeiro João Ramalho teve honras, mais que merecidas, de volta à arena com o cavaleiro e o forcado.
Depois do intervalo e de todas as homenagens, entrou em praça o rejoneador Andrés Romero. Brindou a lide ao seu bandarilheiro Cláudio Miguel, ainda lesionado pelo acidente na Moita. Com valor e atitude, mandou recolher os bandarilheiros e recebeu o toiro com uma sorte de gaiola emotiva. Depois, sem fazer alarde da forma brilhante como interpreta o rejoneio, sem empinar o cavalo, toureou à portuguesa, com verdade e com muita emoção, deixando ferros de muito boa nota, recriando-se na brega, impondo a força da sua raça. Público de pé, em euforia total. De novo a dar volta à arena, com todo o merecimento, o ganadeiro João Ramalho, pela excelente qualidade deste toiro.
Parreirita Cigano enfrentou outro bom toiro, se bem que mais reservado que os anteriores, lidando-o inteligentemente e com "bravura". Ousado, temerário, a pisar terrenos proibidos, levou Parreirita também ao rubro o público da Azambuja numa lide de grande emoção e onde pôs tudo de si, reafirmando que os tempos menos bons já ficaram para trás e que está de novo na luta, moralizado e empenhado em recuperar o lugar que já foi seu. Muito bem.
Fechou a corrida o jovem praticante Joaquim Brito Paes, que já na véspera alcançara um bom triunfo em Santo António das Areias e ontem demonstrou uma vez mais estar mais que apto para dar o passo importante e tomar a alternativa no próximo dia 21 de Julho na inauguração da temporada do Campo Pequeno. Brindou a sua lide ao cornetim José Henriques, uma figura da nossa Festa. Com um toiro também algo reservado, mas que não complicou, Brito Paes desenhou uma lide perfeita, com boa brega e ferros de valor. Mais um passo em frente, importante, rumo ao patamar de cima.
Nota alta para todos os bandarilheiros que ontem tiveram brilhantes intervenções nesta corrida.
Os forcados Amadores de Azambuja, sob o comando de Nuno Matos, viveram ontem uma tarde de festa e que foi também de grande triunfo - com cinco pegas à primeira e com o grupo a ajudar sempre coeso e bem, e só uma à segunda tentativa, a primeira. Já a seguir, vamos aqui mostrar, como de costume, as sequências das seis pegas, que foram consumadas por Telmo Carvalho, António Barramaque, Luis Saramago, Ruben Santos, João Gonçalves e João Branco.
A corrida foi muito bem dirigida por Ricardo Dias, que esteve assessorado pelo médico veterinário José Luis da Cruz. Ao início guardou-se um respeitoso minuto de silêncio em memória do grande forcado Eurico Lampreia, que morreu na semana passada, e de todos os forcados que honraram a jaqueta do GFA de Azambuja e que já nos deixaram.
Foi uma tarde emotiva, de grande significado e que contribuiu para engrandecer a Festa. Uma corrida, repito, divertida, variada e das que fazem aficionados. Um triunfo de todos - e também um triunfo do empresário Luis Miguel Pombeiro.
Fotos M. Alvarenga
Cumpriu-se a tradição de Maio: praça cheia em Azambuja! |
Clássico e com classe: um bom triunfo de Manuel Telles Bastos |
Bastinhas magistral! Público a aplaudir de pé, em euforia |
Grande lide de Duarte Pinto e um grande toiro de João Ramalho. Ganadeiro premiado com volta à arena |
Público em verdadeiro alvoroço com o "furacão" Romero! O ganadeiro deu também volta neste toiro |
Actuação brilhante e temerária de Parreirita Cigano |
Joaquim Brito Paes: a nova estrela |