Miguel Alvarenga - Corrida agradável e, pelo menos, diferente (sem "mais do mesmo"...), ontem à tarde no Livramento, concelho de Mafra, a última organização desta temporada do empreendedor empresário António Pedro Vasco - que este ano recuperou o esplendor da tauromaquia em localidades onde há muito se não efectuavam festejos taurinos.
A praça portátil registou meia entrada de público para assistir a um espectáculo que decorreu em bom ritmo e com um naipe de cavaleiros menos vistos nos grandes cartéis e nas grandes praças, cada qual com o seu estilo, todos entusiasmando a assistência (exceptuando o mexicano Cuauhtémoc Ayala, que se mostrou algo impreparado e não se entendeu com um toiro de boa nota, mas não fácil, do Engº Jorge de Carvalho), escutando música e dando aplaudidas voltas com os forcados dos grupos do Ribatejo, da Moita e da Arruda dos Vinhos, que executaram seis pegas ao primeiro intento.
Lidaram-se cinco toiros de boa nota da ganadaria do Engº Jorge de Carvalho, tendo sido indultado o terceiro, nº 15, superiormente lidado por Parreirita Cigano, que regressou ao campo, sendo também de muita qualidade o quarto, que coube a David Gomes. Incompreensivelmente, o director de corrida João Cantinho não concedeu ao ganadeiro a honra, merecida e que teria sido justa, de dar a volta à arena...
Foi ainda lidado, em segundo lugar, pelo cavaleiro Gonçalo Fernandes, um bom exemplar da ganadaria de Gregório de Oliveira.
Abriu praça o cavaleiro veterano Marco José, que uma vez demonstrou ter valor e qualidades de sobra para poder ombrear com os primeiros em cartéis de maior impacto, mas continua, infelizmente, arredado das grandes competições. Brega cuidada e ferros de emoção em sortes de frente pautaram uma digna actuação do valoroso cavaleiro de Leiria.
Gonçalo Fernandes, o toureiro de Seia, já surpreendera pela positiva este ano noutras praças e ontem no Livramento voltou a deixar a constância do seu valor, executando um toureio de porte clássico que foi muito justamente premiado com música e com o apoio caloroso do público. Outro cavaleiro que merece maior destaque por parte das empresas.
Parreirita Cigano, frente ao belíssimo toiro do Engº Jorge de Carvalho que regressou ao campo, alcançou um triunfo importante mercê do seu habitual toureio de risco e ousadia, com ferros a vencer o pito contrário e em terrenos de compromisso, que resultaram emotivos e reafirmaram a verdade com que sempre toureia. Parreirita está de novo em alta e é também um toureiro merecedor de ombrear com os primeiros.
David Gomes encerrava ontem uma campanha de êxitos sobretudo conquistados em arenas espanholas, mas também em algumas corridas no seu país, pese embora o facto de continuar a ser um toureiro injustamente ignorado pelas principais empresas. António Pedro Vasco foi um dos raros empresários que este ano teve em conta o valor do cavaleiro da Malveira e o colocou na maioria das corridas que organizou. E ontem, David Gomes correspondeu uma vez mais, rubricando uma lide em crescendo e com momentos de excelente toureio e primorosa equitação.
O mexicano Cuauhtémoc Ayala, que regressara na véspera do seu país, teve ontem uma actuação muito abaixo do nível que demonstrara na Idanha na sua estreia em Portugal. O toiro do Engº Jorge de Carvalho, bravo e a "meter mudanças", não lhe facilitou a vida, mas Ayala também pouco o entendeu, marcando esta sua segunda presença entre nós pela irregularidade, sendo o único que não escutou música e que não deu volta à arena.
Fechou praça, com uma lide vibrante e emotiva, o jovem cavaleiro praticante Diogo Oliveira, toureiro que vem crescendo de tarde para tarde e que tem sempre enorme empatia com o público, depressa o conquistando pela exuberância e pela verdade com que imprime grande emoção com o seu toureio. Bem montado, moralizado, Diogo deu ontem mais um passo em frente rumo à esperada alternativa, que está mais que apto a receber.
Nota alta para todos os bandarilheiros intervenientes, com destaque para a classe e a arte do incomparável Duarte Alegrete e também, sobretudo, para as valorosas prestações de Pedro Paulino "China", de João Bretes, do veterano Francisco Paulino (que para o ano se vai despedir das arenas), de João Goilão e de Joaquim Oliveira.
Os três grupos de forcados executaram as seis pegas à primeira, marcando as suas actuações pelo triunfo. Pelos Amadores do Ribatejo foram caras Ricardo Jorge e André Laranjinha; pelos da Moita pegaram Nuno Manso e João César; e pelos da Arruda dos Vinhos executaram as pegas Edgar Simões e Nuno Aniceto; havendo a registar excelentes intervenções de todos os ajudas nas seis pegas.
João Cantinho dirigiu com acerto, falhando apenas no esquecimento de premiar o ganadeiro Engº Jorge de Carvalho com volta à arena no terceiro toiro, aquele que foi indultado por Parreirita Cigano. Esteve assessorado pelo médico veterinário Carlos Santos.
Foi uma corrida agradável, como anteriormente escrevi, mas foi sobretudo uma corrida distinta das habituais. Dá gosto, às vezes (e ontem deu) assistir a corridas como esta, com cavaleiros menos vistos - e que também merecem ser apoiados.
Fotos M. Alvarenga
Marco José |
Gonçalo Fernandes |
Parreirita Cigano |
David Gomes |
Cuauhtémoc Ayala |
Diogo Oliveira |