quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Gastón Santos, o primeiro mexicano de casaca e tricórnio

Com Mestre Núncio no Campo Pequeno em
1954 na noite da alternativa; e de novo na
mesma praça em 1973 na tarde de celebração
dos 50 anos de alternativa do Califa

O emblemático cavaleiro mexicano Gastón Santos, que se destacou também como actor de cinema em vários filmes, morreu ontem com 92 anos, vítima de cancro, no seu rancho "La Jarrilla" em San Luis Potosí. Era um grande amigo de Portugal, desde que no ano de 1954 tomou a alternativa de cavaleiro tauromáquico no palco solene da praça do Campo Pequeno, das mãos de Mestre João Núncio

Foi depois, no seu país, o pioneiro do toureio equestre à portuguesa, actuando sempre de casaca e tricórnio e lançando inúmeros cavaleiros na arte de Marialva, entre os quais seu filho Gastón e seu sobrinho Rodrigo.

Gastón Santos Pué nasceu em Tamuín, San Luis Potosi, a 12 de Julho de 1931. Filho de um reputado militar e político mexicano que foi deputado federal, senador e governador do seu Estado, o futuro cavaleiro tauromáquico fez os seus estudos numa academia militar nos Estados Unidos de América, de onde lhe veio a paixão pelos cavalos. 


Em 1949 lidou o seu primeiro novilho a cavalo no rancho "El Detalle", propriedade do célebre actor Mário Moreno “Cantinflas”, que também chegou a tourear em festivais, incluindo um na praça do Campo Pequeno.


Gaston Santos estreou-se na praça de Monterrey, onde obteve um enorme sucesso. Foi o primeiro cavaleiro, no México a participar em corridas de sete toiros, abrindo a função na lide do primeiro toiro, pela frente dos matadores.


Foi a paixão pelo toureio a cavalo que o trouxe no início da década de 50 a Portugal e à quinta de Mestre João Branco Núncio, em Alcácer do Sal, que o acolhe de braços abertos e lhe dá os ensinamentos necessários para que se estreie nas arenas.


Em 2 de Setembro de 1954 recebe a alternativa na Catedral do Toureio a Cavalo, a praça lisboeta do Campo Pequeno, apadrinhado por seu mestre, João Núncio, com o testemunho do Dr. Fernando Salgueiro, numa corrida  mista em se lidaram toiros de Faustino da Gama e em que actuaram também os matadores de toiros Diamantino Viseu e Francisco Mendes e os Forcados Amadores de Santarém, sob o comando de Ricardo Rhodes Sérgio


É o primeiro mexicano a tomar a alternativa de cavaleiro tauromáquico e jamais deixará de actuar de casaca e tricórnio, honrando a Pátria que o acolheu.


Na Monumental Plaza México apresentou-se pela primeira vez em 29 de Janeiro de 1956, com o toiro "Zanganito", da ganadaria Rancho Milpillas, cortando uma orelha. Naquela tarde dividiu cartel com os matadores Antonio Velázquez, Manolo Vázquez e o português António dos Santos, que enfrentaram uma corrida de seis toiros de Zacatepec.


Após cinco anos de ausência, regressa à Monumental do México na Temporada Grande 1961 para participar em duas corridas nos dias 19 e 26 de Março. Na primeira tarde fez o paseíllo ao lado do português Manuel Dos Santos, de Juan Silveti, Jorge Aguillar "El Ranchero", Joselillo da Colômbia, Alfredo Leal e Jaime Rangel, com toiros de Santo DomingoNo domingo seguinte actuou com Jesús Córdoba, Humberto Moro e César Girón, perante toiros de Tequisquiapan.


Voltou a tourear mais vezes na maior praça de toiros do mundo, actuando ali pela última vez em 2 de Março de 1980, onde celebrou os seus 25 anos de alternativa. Toureou um toiro de Zotoluca que lhe infringiu uma cornada quando o toureava de muleta depois de actuar a cavalo. Tinha 48 anos. 


Voltando aos anos 60, depois de várias corridas no seu país natal, regressa a Portugal e conquista o respeito e admiração ao lado dos grandes toureiros a cavalo portugueses. Em 1963 volta à Europa e faz a sua apresentação em Sevilha e em Madrid. A 12 de Maio corta uma orelha na Real Maestranza e a 23 de Junho debuta em Las Ventas, Madrid, lidando toiros de Dolores Cervantes e repartindo cartel com os matadores "Antoñete", Joaquim Bernardó e Rafael Chacarte, que lidaram toiros da ganadaria portuguesa de Infante da Câmara. Toureou também nesse anos noutras praças espanholas, como Santa Cruz de Tenerife, El Puerto de Santa Maria e Barcelona. Voltaria a praças de Espanha no ano de 1969.


Na década de 70, no seu México natal e junto ao cavaleiro português Pedro Louceiro, que aí se radicara anos antes, é o grande impulsionador do toureio a cavalo no seu país. Consegue que a Feira de San Marcos inclua pela primeira vez uma corrida de cavaleiros em 22 de Abril de 1974, na qual actua ao lado de Pedro Louceiro, Felipe Zambrano e Jorge Hernández Andrés.


Depois, em 1979, convence o empresário Alfonso Gaona a incluir nos festejos de aniversário da Monumental do México uma corrida de gala à antiga portuguesa, em que os cavaleiros entraram em praça em coches e os matadores a pé. O cartel era composto por Gastón Santos e Pedro Louceiro e pelos matadores Jesús Solórzano e o nosso Ricardo Chibanga, que confirma nessa tarde a sua alternativa na importante Plaza México. Actua nesta corrida um grupo de forcados portugueses capitaneado por Simão Malta.


Entretanto, a 27 de Maio de 1973 voltou a tourear no Campo Pequeno na corrida comemorativa dos 50 anos de alternativa de Mestre João Núncio (cartaz em baixo) e já no início dos anos 80, em 5 de Setembro de 1981, toureia pela última vez entre nós em Alcácer do Sal numa corrida de homenagem à memória do seu mestre, que falecera em 1976.


Gastón Santos, que foi durante três décadas o toureiro a cavalo mais importante do México, era pai do também cavaleiro tauromáquico do mesmo nome, que a 19 de Julho de 2007 confirmou a alternativa no Campo Pequeno, apadrinhado pelo saudoso Joaquim Bastinhas, com o testemunho de Ana Batista, Manuel Telles Bastos, Manuel Lupi e Duarte Pinto, com toiros de Manuel Coimbra.

 

Gastón Santos era tio do também cavaleiro Rodrigo Santos, que igualmente actuou várias vezes no nosso país e também em Lisboa, chegando a ser apoderado entre nós por Inácio Ramos Júnior.


Conhecido como o "Centauro Potosino" (por ser natural de San Luis Potosí), toureou ao longo da sua carreira em 1.348 corridas de toiros, passando a dedicar-se à criação de cavalos Lusitanos depois de se retirar das arenas.


Paralelamente com a carreira nas arenas, Gastón Santos foi actor de cinema, protagonizando papéis principais em muitos filmes.


A toda a ilustre Família enlutada, em particular a seu filho Gastón e a seu sobrinho Rodrigo, apresentamos as nossas mais sentidas condolências.


Que em paz descanse.


Fotos A. Martins, A. Figueiredo, Botán, Luis Azevedo/Estúdio Z e D.R.


Setembro de 1981 em Alcácer do Sal, com Miguel Alvarenga,
na corrida de homenagem póstuma a Mestre Núncio. Foi a
última vez que toureou em Portugal
Gastón Santos toureou em 1.348 corridas ao longo da sua
carreira
Com o filho Gastón, que também foi cavaleiro tauromáquico


Era seu costume tourear de muleta depois de terminar as lides
a cavalo


Junho de 1963: a estreia em Las Ventas, Madrid

Programa da corrida dos 50 anos de alternativa de 
Mestre João Núncio, em Maio de 1973 no Campo Pequeno


Paralelamente com a carreira nas arenas, Gastón
Santos foi um destacado actor de cinema

Seu filho, também chamado Gastón Santos, 
confirmou a alternativa em Lisboa em 2007
apadrinhado por Joaquim Bastinhas