domingo, 19 de maio de 2024

Digno triunfo: as 6 pegas do Grupo da Tertúlia do Montijo ontem na sua Monumental

Miguel Alvarenga - Glória e triunfo sem tragédia, podia ser este o título para referir a actuação brilhante, talvez mesmo inesperada, dos valentes e corajosos forcados do Grupo de Amadores da Tertúlia Tauromáquica do Montijo ontem na sua praça, a Monumental "Amadeu Augusto dos Santos", frente a seis toiros poderosos da ganadaria Fernandes de Castro.

Actuação brilhante e talvez mesmo inesperada, escrevi. E é verdade. Não vou tapar o sol com uma peneira, não é meu costume. Toda a gente sabia que a corrida era de alto risco. Que o Grupo da Tertúlia do Montijo é um grupo valoroso, tão valoroso como os outros, mas menos rodado, talvez por isso menos experiente e provavelmente menos capaz de vencer - mas venceu, essa é que é essa! - um desafio tão duro e tão ousado como este.

O próprio cabo Luis Carrilho confessou, no acto de apresentação da temporada montijense, que "às vezes é difícil pegar um ou dois toiros, quando mais seis e de uma ganadaria como a de Castro".

Mas a realidade é que os pegaram todos - e sem grandes problemas de maior. Dois pegas à primeira, três à segunda e um à terceira. E, graças a Deus, não se registaram acidentes graves. Um forcado veterano perdeu os sentidos e foi retirado da arena de maca, mas ao que sabemos não sofreu nenhuma lesão; e outro, Tiago Feitor, fracturou uma clavícula depois de duas tentativas para pegar o quinto toiro da ordem.

Mas voltemos ao início. Havia, de facto, provocado - ou não - com o objectivo de chamar mais público às bancadas, um clima de tragédia em torno desta corrida. A meio da semana, fontes da empresa fizeram passar a mensagem de que se ia mesmo proceder a um reforço de ambulâncias para precaver e fazer face a uma possibilidade de se registarem mais incidentes com os forcados. 

Todo o mundo entendeu a situação e aplaudiu a preocupação dos empresários em salvaguardar e assegurar o mais possível o bem estar dos forcados e a rápida evacuação de eventuais feridos para o hospital, em caso de "a coisa der para o torto" com os Castros.

Todo o mundo, menos a Madame Min, que acorda todos os dias infeliz e de mal com tudo e todos e que no seu escrito veio acusar a empresa de "falta de respeito" pelo Grupo da Tertúlia do Montijo. Antes pelo contrário: a empresa manifestou todo o seu respeito e toda a sua preocupação em garantir ao máximo o socorro e a integridade física dos forcados em caso de quaisquer incidentes graves que pudessem - e podiam - ocorrer. Adiante.

O triunfo dos Amadores da Tertúlia do Montijo constituiu, valha a verdade, uma espécie de fenómeno parecido com aquele que, horas mais tarde, provocou um clarão nos céus do país, causado, dizem, por um meteorito que terá caído na zona de Castro Daire.

Fardaram-se muitos forcados de antigamente - e é sempre bonito ver em praça antigas glórias que fizeram história e no seu tempo honraram e defenderam a jaqueta deste grupo fundado há 65 anos e que ontem comemorava essa efeméride. Ao intervalo, o provedor da Santa Casa, Ilídio Massacote, bem como os empresários Jorge Dias e Samuel Silva, fizeram na arena a entrega de lembranças ao cabo Luis Carrilho.

Poderosos, a empurrar sem derrotar muito, os toiros de Fernandes de Castro foram duros e exigentes, mas não propriamente maus e pouco complicaram a vida aos forcados. Derrotaram, pouco, foram com nobreza pelo seu caminho, tinham era força, empurravam. Do terror de outros tempos, como ontem escrevi, têm agora só "o apelido". Não são toiros fáceis, mas também não são toiros impossíveis de tourear e de pegar. Esse selo de "toiros de terror" já pertence ao passado. Estavam bonitos e bem apresentados na generalidade, mas não metiam medo ao susto. Alguns foram mesmo sonsos, sem chama e sem transmitir. De nota mais alta os lidados em segundo e sexto lugar.

João Paulo fez a primeira pega da tarde, brindada ao staff da Câmara Municipal, fechando-se com decisão e consumando ao primeiro intento com excelentes ajudas de todos os companheiros, dando aplaudida volta à arena com Luis Rouxinol.

A segunda pega foi consumada também à primeira tentativa pelo forcado Armando Costa, muito bem a recuar e a templar a investida, prontamente ajudado pelo resto do grupo. Brindou ao Provedor da Santa Casa Ilídio Massacote - e deu depois volta à arena com Filipe Gonçalves, muito aplaudida pelo público. Foi nesta segunda pega que ficou desmaiado na arena um forcado veterano, que foi prontamente socorrido e estabilizado no local pelos Bombeiros Voluntários do Montijo (intervenção muito aplaudida pelo público) e que acabou por recuperar os sentidos na enfermaria, não tendo sofrido qualquer lesão, felizmente.

Estas duas primeiras pegas ao primeiro intento terão motivado e encorajado todos os elementos do grupo e levado mesmo o próprio público a apoiar as restantes intervenções com maior entusiasmo e muito maior confiança e tranquilidade. Dir-se-ia que o desafio ficara ganho ao segundo toiro.

Márcio Chapa, anterior cabo do grupo, forcado de eleição, saltou à arena para pegar o terceiro Castro da tarde, brindando a pega aos céus, provavelmente à memória de antigos forcados, e também ao público - que o saudou com uma calorosa ovação. Fechou-se bem, contou com uma magistral primeira ajuda, mas acabou por ser derrotado com alguma violência já junto das tábuas. Consumou com decisão e excelentes ajudas dos companheiros ao segundo intento. Quem sabe, jamais esquece. Deu volta à arena com João Moura Júnior e levou consigo o filho pequeno. Público montijense aplaudiu calorosamente o antigo cabo.

A pega do quarto toiro, depois das cerimónias de homenagem ao intervalo e do sorteio do Fiat 500 - que contemplou uma espectadora do sector 3 e foi entregue pela actriz Bárbara Norton de Matos, acarinhada com a maior ovação da tarde! -, foi executada também à segunda tentativa pelo actual cabo Luís Carrilho - brindou a todos os forcados do seu grupo -, que sofreu forte derrote na primeira intervenção. Quando a pega já estava consumada, a arena encheu-se de forcados "ao molho" (estiveram praticamente dois grupos em praça... mais forcados que a conta) a ajudar em exagero. O público protestou com assobios. Mesmo assim, Luís Carrilho deu volta à arena com Marcos Bastinhas. Uma pega é para ser feita por oito forcados.

Tiago Feitor brindou a sua sorte aos novos empresários desta praça, Jorge Dias e Samuel Silva, e tentou por duas vezes pegar o quinto toiro da corrida, mas saiu sempre da cara do toiro, mais devido às evidentes dificuldades causadas pela sua forte compleição física, do que à falta de técnica ou de arrojo. Acabou por sair da arena pelo seu próprio pé e rumar à enfermaria acompanhado pelos Bombeiros, queixando-se de dores na clavícula esquerda (fotos em baixo), que, segundo nos informaram, terá fracturado. A pega foi consumada na sua primeira intervenção, terceira no total, por Pedro Galamba, que não ficou muito bem fechado na cara do toiro, tendo o público protestado sonoramente pela não repetição da sorte. Não deu volta.

Pedro Tavares fechou esta triunfal e muito digna actuação dos Amadores da Tertúlia Tauromáquica do Montijo pegando à segunda tentativa, bem ajudado pelo grupo, o último Castro da tarde, um bom exemplar que fora emotivamente bem lidado por Joaquim Brito Paes. Brindou a pega ao empresário e antigo matador de toiros Rui Bento e a Francisco Costa Montezo, antigo forcado deste e do grupo de Amadores do Montijo e ex-cabo dos Forcados Lusitanos, ainda e sempre uma glória recordada e uma lenda viva da forcadagem montijense.

Em suma, uma jornada importante para o GFA da Tertúlia Tauromáquica do Montijo em tarde de celebração do seu 65º aniversário - a honrar os seus pergaminhos e a surpreender todos aqueles que esperavam "uma tarde trágica". 

O cheiro a tragédia, muitas vezes, leva mais gente às praças - mas, infelizmente, isso não aconteceu ontem no Montijo. As bancadas tiveram uma ocupação referente a cerca de meia casa, exactamente o mesmo número de espectadores que habitualmente acorrem a esta corrida de Maio na Monumental. Recorde-se que há dois anos foi anunciada nesta data a vinda de Pablo Hermoso (que acabou por não vir, alegando que sofrera uma queda...) e o público foi também o costumeiro, nem mais um, nem menos um espectador. Maio no Montijo é sempre fraco. E parece não haver nada a fazer...

Nem sequer marcaram presença, como se impunha, muitos forcados de outros grupos, que ali deviam ter estado a apoiar os companheiros da Tertúlia Tauromáquica local em dia festivo e de tão ousado desafio.

Já está tudo inventado neste mundo da tauromaquia. Já não há tragédias, nem ambulâncias, nem automóveis sorteados, e muito menos toureiros com força de bilheteira, que levem gente às praças. Isso foi noutros tempos "da fidalguia" que já lá vão... É pena, mas é o que temos.

Ficam as sequências das seis valentes pegas. E mais tarde, não perca também as fotos dos melhores momentos das lides dos seis cavaleiros.

Fotos M. Alvarenga



Arena encheu-se de forcados. Nas bancadas faltou público...













Primeira pega brilhantemente executada à primeira por João
Paulo muito bem ajudado por todos os companheiros

















Segunda pega (brindada ao Provedor da Santa Casa) também
consumada à primeira por Armando Costa com o grupo a ajudar
com coesão, encheu o Grupo de moral. Forcado que desmaiou e
foi evacuado de maca pelos Bombeiros nada sofreu de grave

















Quem sabe jamais esquece: grande pega do antigo cabo Márcio
Chapa ao terceiro Castro, à segunda tentativa. Grande Forcado!
















Rija pega do cabo Luis Carrilho, à segunda, ao quarto toiro. 
Lamentável, só, que com a pega já consumada, tivesse havido
uma exagerada concentração de ajudas à volta do toiro... Uma
pega é para ser feita por oito forcados!






























Tiago Feitor fracturou a clavícula esquerda após duas tentativas
para pegar o quinto Castro. Foi dobrado por Pedro Galamba, que
não ficou bem fechado na cara do toiro... 

















Pega brindada a Rui Bento e Francisco Costa: Pedro Tavares
fechou com chave de ouro a tarde de celebração dos 65 anos
do GFA da Tertúlia do Montijo pegando o sexto toiro à segunda