Última Hora - Segundo as nossas fontes hospitalares, Fernando Clemente passou a noite bem, é um doente que está orientado (termo médico que, como indica, significa que está lúcido, consciente e não "desorientado") e a sua situação é estável.
Vítima de grave acidente quando fotografava na trincheira da praça do Montijo, sofreu um traumatismo crânioencefálico com perda de consciência e foi de imediato transportado ao Hospital do Barreiro, de onde foi transferido ao final da noite de ontem para o Hospital Garcia de Orta (foto de cima), em Almada, onde está internado no Serviço de Neurocirurgia.
Fala, sabe o que lhe aconteceu, encontra-se muito lúcido e, segundo nos informam, até já terá manifestado alguma preocupação pelo facto de estar a circular nas redes sociais um video do acidente que ontem sofreu na praça de toiros do Montijo, temendo que com isso a IGAC venha a tomar medidas mais drásticas contra a presenças de fotógrafos nas trincheiras das praças de toiros (o que, segundo apurámos, pode mesmo vir a acontecer).
O simpático repórter fotográfico, de 78 anos, director do site "Parar, Templar, Mandar", estava ontem na trincheira da Monumental do Montijo, junto à porta dos curros (por onde saem e depois entram os toiros, uma zona considerada de maior risco para a permanência de pessoas), a fazer a reportagem da Capeia Arraiana (espectáculo de manifestação popular taurina tradicional no Concelho do Sabugal e que uma vez por ano se mostra numa praça de toiros nacional), quando um toiro entrou na arena e se dirigia para o forcão segurado pelos homens (é isso o prato-forte da Capeia Arraiana), voltando-se subitamente para trás, provavelmente atraído pela voz ou pelo gesto de alguém que também estava na trincheira, embatendo violentamente contra uma porta (que, estranhamente, estava aberta), atrás da qual estava o fotógrafo.
Fernando Clemente foi brutalmente atingido pela porta e projectado para o chão, tendo batido com a cabeça com violência e ficado logo ali inanimado. Não foi tocado pelo toiro, que depois de embater na porta voltou para a arena. Clemente terá sofrido no local uma paragem cárdiovascular e foi prontamente acudido e reanimado pelos Bombeiros Voluntários do Montijo. No referido video (da autoria de um espectador), vê-se um elemento do Corpo Socorrista dos Bombeiros a dar uma massagem cardíaca a Clemente.
O fotógrafo foi levado para a enfermaria e estabilizado. Sangrava da cabeça. Recuperou os sentidos e até se riu quando Marcos Lopes (Director de Comunicação da Santa Casa da Misericórdia, que se encontrava também na trincheira e a escassos metros de Clemente quando tudo aconteceu) lhe disse que "nunca mais o deixava estar na trincheira sem um capacete".
Fernando Clemente foi transportado ao Hospital do Barreiro, onde foi sujeito a primeiros exames, e ao final da noite foi transferido para o Hospital Garcia de Orta (Almada), onde está internado no Serviço de Neurocirurgia.
As últimas notícias que obtivemos, há momentos, dão conta de que o seu estado continua estável, que se encontra orientado e lúcido, mas há resultados de exames que não são ainda conclusivos, pelo que vai ser submetido a mais uma TAC e, dado o seu histórico clínico, vai continuar internado mais 24 horas, em observação, só tendo alta quando houver a certeza de que tudo está bem.
Recorde-se que este não é o primeiro acidente sofrido por Fernando Clemente numa trincheira de uma praça de toiros. Há cinco anos, na noite de 12 de Setembro de 2019, foi alcançado por um toiro da ganadaria Prudêncio com 525 quilos, que saltou a trincheira na praça da Moita e o apanhou mesmo na porta de um burladero, provocando-lhe graves lesões que o mantiveram cerca de três meses hospitalizado e de que, graças a Deus, recuperou.
Ontem, na trincheira da praça do Montijo, num espectáculo que não tinha direcção de um delegado da IGAC, Fernando Clemente estava na trincheira e não se encontrava protegido dentro de um burladero - o que é obrigatório para todos aqueles que se encontram "entre tábuas".
O acidente, felizmente não tão grave como o que o mesmo Clemente sofreu há cinco anos na Moita, pode (e deve) agravar agora as medidas que a Inspecção-Geral das Actividades Culturais (IGAC) tomará sobre a autorização de permanência nas trincheiras das praças de toiros, apenas e só, a pessoas indispensáveis à realização do espectáculo.
E os fotógrafos, doa a quem doer, não precisam de estar na trincheira para realizar o seu trabalho. Fotografa-se muito bem - ou melhor, até - desde uma barreira.
Fotos M. Alvarenga e D.R.