quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Que venham todos! Se faltarmos amanhã ao Campo Pequeno, estamos a faltar ao futuro...

Miguel Alvarenga - De uma vez por todas, sejamos realistas, demos as mãos e avancemos para a frente com a convicção de que não podemos ser vencidos - doa a quem doer e custe o que custar.

Há quem critique o cartel de amanhã no Campo Pequeno. Por isto e por aquilo. 

Porque, apesar de todos os seis cavaleiros serem bons e terem todos o direito e haver todas as justificações para estarem na primeira praça do país (é preciso que não o deixe de ser), impunha-se que, em apenas quatro corridas, os elencos fossem mais ousados e mais atractivos - e este, sendo bom, é um cartel pouco imaginativo e de "mais do mesmo".

Porque vai haver um Concurso de Pegas e, pese embora o valor e, também, o direito que os três grupos que o disputam têm de estar no Campo Pequeno, impunha-se que estivessem anunciados outros grupos de primeira que ficaram inexplicavelmente de fora da mini-temporada lisboeta.

Porque, dizem ainda outros, este é um "cartel de compromissos" e um empresário que esteja à frente da praça do Campo Pequeno tem que estar livre de todo e qualquer compromisso.

Porque mais isto e porque mais aquilo.

Todos os argumentos são válidos e todos têm o seu quê de alguma verdade para justificar um certo descontentamento dos aficionados face, não à qualidade (que não se discute e não se põe em causa), mas sim à vulgaridade deste segundo cartel da temporada do Campo Pequeno.

Mesmo assim, impõe-se que façamos um esforço - e que não deixemos de ir amanhã ao Campo Pequeno. Por tudo e mais alguma coisa.

O empresário de concertos musicais mais conceituado do país, Álvaro Covões, é hoje quem manda no Campo Pequeno - porque nenhum taurino teve a coragem que ele teve de concorrer à adjudicação da praça. Covões não goste nem desgosta de touradas, tem a faca e o queijo na mão e ofereceu a Pombeiro as piores datas que tinha para lhe oferecer, estilo prenda envenenada para acabar de vez com as touradas que tanto martirizam os adeptos dos seus concertos - é uma realidade.

A primeira quinta-feira de Agosto já foi, noutros tempos, a principal data do Campo Pequeno. Esgotava com a Corrida da Imprensa, esgotava depois com a Corrida da Rádio. As pessoas podiam estar de férias no reino do Algarve, mas vinham por aí acima ver estas corridas - de muito atractivos cartéis. Hoje, custa-me a acreditar que alguém interrompa as férias para vir a Lisboa ver a corrida de amanhã. Mas deviam fazê-lo. Porque depois não arrepender-se de não o ter feito.

Covões ofereceu a Pombeiro esta data, que há já alguns anos passou de fantástica a péssima. Os tempos mudaram. Pior que isto, só disponibilizando-lhe a possibilidade única de levar a efeito uma tourada às sete da manhã (para ninguém ir) ou às três da tarde (para todos fugirem do calor e irem para a praia)...

E pergunto: se em vez deste cartel igual a tantos, Pombeiro tivesse apresentado para a noite de amanhã o cartel que Rui Bento apresentou no passado sábado na Nazaré (que encheu a praça), estaria neste momento mais descansado, mais tranquilo, com os bilhetes quase todos vendidos, sem recear que amanhã lhe deixem a praça com menos de meia lotação preenchida?

Não acredito. Um cartel que enche a Nazaré não enche obrigatoriamente Lisboa. São públicos - e entusiasmos - diferentes. A Nazaré tem aficionados que vão à praça. Lisboa não tem aficionados. Encheu muitos anos com os aficionados alentejanos e ribatejanos - que, entretanto, deixaram de vir às touradas à capital. Lisboa teve noutros tempos um público aficionado. Deixou de o ter há muitos anos.

E então, fazemos o quê?

A corrida de amanhã é transmitida em directo para todo o mundo pelo canal OneToro. Penalizamos Pombeiro e os seus parceiros da empresa Toiros com Arte pela vulgaridade do cartel, virando as costas ao Campo Pequeno e permitindo, assim, que todo o mundo veja que não há aficionados na capital de Portugal, que a praça tem as bancadas vazias?

Se assim for, Covões tem, para o ano, toda a legitimidade e mais alguma para disponibilizar a Pombeiro uma só data ou mesmo nenhuma, sob pretexto de que não vale a pena estar a perder tempo com um espectáculo a que o público não adere.

Deixamos morrer a Festa no Campo Pequeno e guardamo-nos só para as praças de província, onde ainda há aficionados e onde os festejos continuam a registar lotações esgotadas?

Ou enchemo-nos de brio, puxamos dos nossos galões e esgotamos amanhã o Campo Pequeno para assim mostrar ao mundo a nossa força (se, de facto, a tivermos) e provarmos que ainda existem aficionados em Portugal?

Parece que não tem importância nenhuma, mas tem toda a importância do mundo que o Campo Pequeno esteja cheio amanhã. Pode-se discutir ali o futuro da primeira praça do país como "Nossa Casa" ou definitivamente como a casa de todos, menos dos que gostam de touradas.

Eu vou ao Campo Pequeno! Porque admiro todos os artistas que integram o cartel. Porque se vai lidar um dos maiores curros da temporada (da ganadaria Vinhas). Porque acredito que nos vamos divertir e que vai acontecer uma belíssima noite de festa.

Mas, acima de tudo, porque tenho a consciência de que, faltando amanhã ao Campo Pequeno, estamos a faltar ao futuro. E sem futuro, isto acaba.

Venham daí!

Foto D.R.