segunda-feira, 7 de outubro de 2024

A bronca de Vila Franca: Ricardo Levesinho (não) dá a sua versão do escândalo

Esperava-se - e mais que isso, impunha-se! - que o empresário Ricardo Levesinho tivesse vindo a terreiro esclarecer de uma vez por todas as razões do escândalo de ontem em Vila Franca, sobretudo depois de, num comunicado emitido ao início da noite, o matador de toiros "Juanito" ter apresentado a sua versão dos factos e culpabilizado a empresa por ter sido a única responsável pela inviabilização da realização da tourada.

A empresa Tauroleve limitou-se ontem a emitir um curtíssimo e lacónico comunicado, que afixou junto das bilheteiras da praça "Palha Blanco" e divulgou também nas redes sociais, informando, sem explicar nada, da decisão de cancelamento da tourada e afirmando que isso se ficara a dever ao facto de "os toureiros" (presume-se que o espanhol Daniel Luque e o português "Juanito", uma vez que a celeuma não teve a ver com os toiros das lides a cavalo) não terem aceite lidar "os toiros aprovados segundo o RET" (RET é o Regulamento do Espectáculo Tauromáquico... houve quem pensasse que seria uma nave espacial ou qualquer outra coisa estranha...).

Pois bem. O empresário Ricardo Levesinho não só não se dignou ainda vir a público defender-se das acusações (graves) do toureiro "Juanito", que lhe atribui exclusivamente a culpa pela não realização da tourada, como antes preferiu enviar esta manhã ao Director do "Farpas" esta mensagem por WhatsApp que aqui publicamos já de seguida, onde volta a não dizer nada... e ainda se dá ao luxo de insinuar que a culpa, afinal, foi toda do Miguel Alvarenga para aumentar as visualizações do "Farpas" ... "pois quanto mais polémica, melhor!".

Aqui vai a tomada de posição do empresário:

"Caro Miguel, é notório o seu interesse em fazer disparar as visitas ao seu site (não precisava de o ter escrito), que o seu telefone toque 200 vezes, que lhe peçam para publicar isto e aquilo, pois quanto mais polémica, melhor! 

"No entanto, não vou alimentar o sensacionalismo pretendido e direi o que tiver por conveniente depois da corrida de terça-feira, dia 8, pois até lá o meu foco é esse! Um cartel de toureiros de topo em que um cavaleiro toma alternativa e outro se despede das arenas ao final de 40 anos. Que Deus me ajude a proporcionar aos aficionados uma festa inesquecível e que perdoe a quem precisa!

"Nota: bilheteiras sempre abertas com a nossa presença até as 18:30. O meu irmão esteve sempre a falar com as pessoas sempre que necessário e até ao fecho das bilheteiras!".

Ricardo Levesinho


Meu caro, admirado e estimado Ricardo, é notório, infelizmente, o seu interesse em tapar o sol com uma peneira e deixar andar, sem esclarecer de uma vez por todas, como se impunha e como muito o beneficiava, as verdadeiras razões que ditaram ontem o cancelamento da tourada mista de Vila Franca.

"Juanito", que não tenho por pessoa mentirosa, veio a público dar a sua versão dos factos e deixar muito claramente declarado que quem inviabilizou a realização da tourada foi a empresa. Isto é, você, Ricardo.

Não havia mesmo nenhum plano b ou c ou d que tivesse permitido a realização da tourada? Se o espanhol se recusou a tourear por falta de um sobrero que lhe agradasse, não podia dar-se o caso de "Juanito" tourear sózinho os toiros das lides a pé? Isso em algum momento foi sugerido por ele ou por si? Não se podia ter recorrido a um outro matador para actuar em vez do espanhol: António João Ferreira, por exemplo, digo eu, que até é o professor da Escola Taurina der Vila Franca? Não se lembra de há uns anos, na Moita, ter chamado a correr o "Juanito" para vir substituir o Miguel Ángel Perera, que se recusara a tourear? 

Não podia, em último caso, ficar a tourada por um mano-a-mano entre os cavaleiros João Telles e Francisco Palha? Não havia mesmo nada a fazer para conseguir que se realizasse a tourada? Juan Bautista, apoderado do matador espanhol, não ligou ao ganadeiro Calejo Pires a indagar se tinha toiros para colmatar a falta do tal sobrero e ele disse que sim, mas o Ricardo não aceitou essa solução? Ou, como por aí corre à boca cheia, houve mas foi uma grande tempestade na bilheteira e estavam muito poucos bilhetes vendidos e assim foi preferível fomentar um escândalosinho para não dar a tourada? Estas - e muitas outras - são as questões que agora ficam no ar e que era importante e necessário ver respondidas pela empresa. Isto é, por si? Em vez de vir insinuar que... o culpado fui eu para fazer disparar as visualizações do "Farpas"...

Esperar pela corrida de amanhã e só vir a terreiro dar a sua versão dos factos no dia a seguir, quarta-feira, é muito mau. E vai, não duvido, prejudicar altamente a tourada dos cavaleiros de amanhã. Acha, Ricardo, que depois de ontem terem atirado o prestígio e a credibilidade "Palha Blanco" ao ar, deixando-a de pernas para o ar, alguém tem vontade para ir amanhã outra vez a uma praça que ficou completamente descredibilizada, podendo chegar lá e não haver tourada outra vez? Já tinha acontecido em Maio, não se esqueça.

E, meu caro e estimado Ricardo, não pense que, para mim, passou de bestial a besta. Não senhor. Ainda na crónica da noite fantástica dos meninos Marco Pérez e Tomás Bastos o elogiei - e mantenho tudo o que escrevi - como um empresário que está uns furos muito acima da sua classe.

Quanto ao meu "notório interesse em fazer disparar as visitas" do "Farpas", esqueça isso, Ricardo. Já me estou tanto nas tintas para os bois e as touradas, que tanto se me dá que leiam o "Farpas" três pessoas ou trinta ou três mil ou trinta mil. Já não tenho que provar nadinha a ninguém. Os aficionados meus leitores conhecem-me há anos, sabem quem sou e como sou. Sou jornalista - e estou há muitos anos na profissão pela Verdade, contra a Mentira. Aprendi com Vera Lagoa. E era uma excelente professora, acredite.

Por pouco, o Ricardo acusava-me de ter sido eu o culpado da bronca de ontem em Vila Franca para fazer disparar as visitas ao "Farpas" e para alimentar sensacionalismos...

Ou seja, fazem as merdas (desculpem o termo, mas é exactamente isso), o "Farpas" noticia e depois acusam-me de querer mas é sensacionalismo e de que "quanto mais polémica, melhor"

Sabe, Ricardo, vocês, os dos bois, deviam mas era não provocar as polémicas. Logo, evitavam sensacionalismos, pretendidos ou não.

A minha vontade de estar aqui neste meio é tanta que até lhe posso anunciar, aqui que ninguém nos ouve, que está para muito breve a minha decisão de fechar o "Farpas", de acabar com o blogue pelo menos no formato em que existe há quinze anos - para dar início a outros projectos, um jornalístico, outros não. Já não tenho paciência nenhuma para touradas e para a gente dos bois. Há coisas e há gente muito mais interessantes na vida.

Amanhã vou antes ao jantar de aniversário do meu neto (sou tão estúpido às vezes, que cheguei a imaginar faltar para ir à tourada na "Palha Blanco"), Deus me livre de voltar a Vila Franca.

Sorte, Ricardo, para a tourada. E para os toureiros e forcados. Divirtam-se, que eu tenho mais que fazer. Depois da noite fantástica de sábado, não tiveram habilidade para aproveitar a onda e fazer desta Feira de Vila Franca, com a tourada de domingo, uma jornada de grande promoção e engrandecimento da Festa.

Preferiram deitar tudo a perder. E virar a "Palha Blanco" de pernas para o ar. Agora vai ser muito difícil voltar a pô-la direita. A praça e a Festa. Foi uma machadada fatal, mesmo. Pena. tenho pena. Mas não me incomoda nada. A tauromaquia, tal como está nos dias de hoje, já não tem qualquer razão de existir. É uma coisa, um negócio e um espectáculo que já não faz sentido nenhum.

O último a sair que feche a porta. Bem fechada.

Um abraço, Ricardo.

Miguel Alvarenga