Miguel Alvarenga - Empresário desde 2008 na "Palha Blanco" (com apenas um curto intervalo em que a praça foi gerida por Paulo Pessoa de Carvalho), Ricardo Levesinho sempre pautou o seu caminho, como ele próprio refere no comunicado de despedida desta manhã, "assente em Valores como a Honra, a Coragem e a Dignidade". Ninguém tem dúvidas, todos lhe aplaudem essa forma com que esteve na tauromaquia e na praça de Vila Franca de Xira - que conhece como ninguém.
Ninguém entendeu ainda - e se calhar nunca se vai perceber - por que razão a vida e a actividade de Ricardo Levesinho descambaram, ou descarrilaram no último ano. Se tudo correu sempre sobre rodas e nunca ninguém teve um dedo a apontar-lhe, não é fácil compreender, muito menos aceitar, que desde o último ano tudo lhe tenha corrido mal e tantos lhe tenham dedos a apontar.
O que aconteceu no domingo em Vila Franca foi mau demais para ser verdade. Noutros tempos, como ocorreu em outras ocasiões, Levesinho teria toda a ginástica e mais alguma para solucionar a questão, Para ir para a frente com a corrida. Com outros toiros, com outros toureiros, fosse como fosse. Mas nunca deixaria que a corrida caísse por terra, como caíu.
Vir agora a público justificar-se sacudindo a água do capote e acusando os toureiros (os matadores) é uma emenda muito maior que o soneto.
Levesinho era o promotor da tourada. Os toureiros tinham que ter garantidas e asseguradas pela empresa todas as condições para que tudo funcionasse tal como haviam sido contratados.
Não havia sobreros para o toureio a pé. A culpa não é dos toureiros. É do promotor da tourada: Levesinho. Não houve soluções para ultrapassar a questão e proporcionar aos toureiros (matadores) as condições que se exigiam, tinham que se arranjar outras soluções, fossem elas quais fossem. Iam-se buscar outros toiros. Contratavam-se outros matadores. Tinha que haver uma solução. Ou duas. Ou três. A solução nunca podia ter sido cancelar a tourada.
Levesinho vem agora justificar-se num comunicado/declaração de oito páginas sem que em nenhuma delas esteja uma justificação plausível para que se compreenda por que razão não foi para a frente com a tourada - e a preferiu cancelar.
No fim de tudo isto, estilo criança amuada, Levesinho baixa os braços e desiste - afirma que considera (porquê?) "ser este o momento para fechar este ciclo na Palha Blanco" e anuncia que não pretende beneficiar do direito de opção, desistindo da gestão da sua praça.
A Santa Casa vai agora certamente levar a praça a concurso. O mais natural é apareceram muitos candidatos e no fim a praça ser entregue (caso a pretendam, não sei) a Samuel Silva e Jorge Dias, provavelmente em parceria com Pombeiro. Não me vou enganar muito se preconizar este cenário. A ver vamos depois se tenho ou não tenho razão.
Resta agora saber se tudo isto não foi a crónica de um fim anunciado. Se Ricardo Levesinho, saindo de Vila Franca, não está a sair da tauromaquia. E se assim for, é pena. É pena que aos poucos se vá desmoronando tudo isto. Estão a cair os pilares que sustentaram esta Festa insustentável nos últimos anos.
Ricardo Levesinho deu-nos a todos alegrias, cartéis únicos, momentos para lembrar. Ir-se embora por causa da birra de um sobrero não tem nexo e não faz sentido.
Mas é o estado (triste) a que isto chegou...
Foto M. Alvarenga