quarta-feira, 19 de março de 2014

Um a um: Alvarenga analisa os primeiros cartéis da Temporada do Campo Pequeno

Grandes vedetas do toureio equestre ontem no Campo Pequeno: Rui Salvador, Vitor
Ribeiro, Miguel Moura, João Moura Jr., João Moura, João Maria Branco, Joaquim
Bastinhas, António Ribeiro Telles, Rui Fernandes, Jacobo Botero e Marcos Bastinhas
Depois das dúvidas, da especulação e de intrigas mil, tudo continua como dantes
no Campo Pequeno - e vamos ter e melhor Temporada de sempre. Era isto que
importava e era isto que a todos preocupava. Acabaram-se as dúvidas!
Miguel Alvarenga ontem no Campo Pequeno com Abel Correia, Rui Bento
e o Maestro João Moura
Dir-se-ia, pela foto, que se trata de um homem só. Mas é apenas ilusão. Rui Bento
volta a ser o homem em foco na Temporada do Campo Pequeno e viu-se ontem que
está em perfeita e total sintonia - e bem apoiado - pelos novos administradores
da nova Sociedade Campo Pequeno, que sucedem aos demissionários Borges
Foi pela primeira vez neste cenário - na arena e não no Salão Nobre - que decorreu
ontem a apresentação dos primeiros elencos da temporada lisboeta
Toureiros, forcados e ganadeiros ontem em peso, demonstrando união e força,
na apresentação dos primeiros cartéis do Campo Pequeno


Miguel Alvarenga - Como ontem mesmo tive oportunidade de referir na curta entrevista que me fez Diogo Marcelino para o magazine "Faenas TV", considero os primeiros cartéis da Temporada de Abono do Campo Pequeno magníficos, bem rematados, na esmagadora maioria dignos de praça cheia (e mesmo de lotação esgotada, sobretudo os dois primeiros e os de 17 e 24 de Julho) e concordo "a duzentos por cento" com Rui Bento quando afirma que são, de facto, os melhores dos últimos anos.
Houve - e é preciso frisá-lo e louvá-lo - um esforço notório e notável de Rui Bento e também um apoio considerável e importante, decisivo mesmo, da nova Administração da Sociedade Campo Pequeno, para "dar a volta" num momento particularmente difícil, que adveio do complicado processo de insolvência e consequente demissão dos anteriores administradores (Família Borges, sobretudo), para se chegar onde se chegou - a muito bom porto, diga-se em abono da verdade.
Passo então a analisar, um a um, os elencos ontem apresentados.

15 de Maio (8º aniversário da reinauguração do Campo Pequeno, Corrida "Vidas/Correio da Manhã") - Perfeito, interessante e digno da maior expectativa, o cartel de abertura da Temporada de Abono. Primeiro, pela presença de Pablo Hermoso de Mendoza, o cavaleiro espanhol de maior cartel em Lisboa, responsável pelas únicas duas enchentes de 2013 na primeira praça do país. Depois, pela inclusão, altamente merecida, de Rui Salvador, um "cavaleiro de luta" e enorme valor, que comemora nesta temporada 30 anos de carreira/alternativa e que pela segunda vez se defronta precisamente com o Nº 1 do rejoneio mundial (a primeira vez foi em 2002 no Montijo quando era empresário José Vilão - Moura, Salvador e Pablo). Em terceiro, pela presença de João Moura Jr., que regressa em força a arenas nacionais e que é o mais destacado dos cavaleiros da nova vaga, pelo menos em termos internacionais e o único (falo dos filhos das Figuras) que saíu em ombros pela porta grande de Madrid. O cartel é de alta (íssima!) competição e tem a particularidade de contar com a presença de uma ganadaria, a de Santa Maria, do Engº Lobo de Vasconcellos, que normalmente não é lidada por um elenco destes. Fica, aliás, dos cartéis apresentados ontem, a certeza louvável de que as grandes Figuras de Portugal e Espanha não impuseram, pela primeira vez, ganadarias "fáceis" para as suas presenças na Catedral  Mundial do Toureio a Cavalo. Pegam os grupos de forcados de Évora e do Aposento da Moita, dois agrupamentos consagrados.

5 de Junho (Corrida "Flash") - Não vão faltar, pela certa, os habituais "Velhos do Restelo" a criticar o facto de, pela primeira vez na História, se conceder uma alternativa de rejoneador na primeira praça do país. Mas não me incomoda nada que o valoroso cavaleiro colombiano Jacobo Botero - que há alguns anos veio para a quinta de Rui Fernandes decidido a cumprir o sonho de ser toureiro - a receba em Portugal e nomeadamente em Lisboa. Temos que evoluir e que nos modernizar - em todos os aspectos. Se já vários cavaleiros lusos receberam a alternativa em França e em Espanha, acham que vem algum mal ao mundo se um colombiano receber aqui a alternativa de rejoneador? Vai ser apadrinhado por Rui Fernandes, seu mestre - e o único cavaleiro português presente este ano nas duas principais feiras taurinas de Espanha, as de Sevilha e Madrid, o que por si só fala do seu valor e do reconhecimento internacional que, muito meritoriamente, lhe é devido - e terá como testemunha Diego Ventura, que nesta noite regressa a Lisboa, depois de ter estado dois anos sem ali tourear. Dois "leões" - Fernandes e Ventura -, cada qual a querer certamente levar a melhor... e um "leãozinho" que promete ser, dos jovens cavaleiros actuais, aquele que mais vai marcar a diferença, a atestar pelo "boom" que protagonizou na temporada passada. Por isso, a certeza de mais uma noite de grande competição, também aqui com a particularidade de se lidar uma ganadaria dura, a de António Charrua (Herdeiros), que foi grande triunfadora no ano anterior no seu regresso à capital. Dois bons grupos de forecados - Alcochete e Aposento da Chamusca - também presentes neste segundo cartel da magnífica Temporada de Abono no Campo Pequeno.

19 de Junho - A Novilhada de Promoção de Novos Valores tem este ano um formato "mais sério" que nas edições anteriores. É uma verdadeira "corrida" mista com diversos polos de atractivo distintos. Primeiro, a ganadaria de Murteira Grave (que regressa em duas ocasiões a Lisboa); depois, a prova de praticante do promissor Luis Rouxinol Jr. em competição com um jovem clássico, Manuel Vacas de Carvalho (pupilo de Mestre Luis Miguel da Veiga); por fim, a estreia em Portugal da nova coqueluche do toureio espanhol, o novilheiro José Garrido (triunfador em Olivença e em Valência, nas Fallas) num emotivo mano-a-mano que promete ser mais uma importante afirmação para Diogo Peseiro, o mais emblemático diestro da Academia de Toureio do Campo Pequeno. Nas pegas, o valoroso e jovem grupo de forcados de Arruda dos Vinhos. Perfeito e atractivo, o cartel.

3 de Julho - Apenas certa nesta corrida mista as presenças da ganadaria de Carlos Falé Filipe e do matador espanhol António Ferrera, triunfador de Madrid em 2013 e um toureiro com imensa popularidade em Portugal. Este cartel esteve envolto em algumas peripécias (que Rui Bento não especificou em particular, mas que o "Farpas" vai aqui contar amanhã - a não perder!), chegou a estar quase rematado (com dois cavaleiros que depois sairam) e está ainda à espera de um segundo matador. Que pode ser, revelou Bento, Pedrito de Portugal. Aguarde-se. Fica o suspense, como todos os anos tem acontecido, para esta "Corrida Surpresa" - que pode ser de sete toiros, com dois cavaleiros (lidando um toiro a duo) e dois matadores; ou de seis toiros, com duas opções: dois cavaleiros e apenas Ferrera a pé; ou um dos cavaleiros que mais se destacar nos cartéis anteriores, com dois matadores (Ferrera e Pedrito ou outro... que pode ser uma grande surpresa!). Amanhã conto tudo!

10 de Julho - O cartel da comemoração dos 50 anos da Corrida TV (RTP) é, quanto a mim, o menos "diferente" e o mais "banal" de todos os que ontem Rui Bento apresentou. O elenco da comemoração do cinquentenário da mais antiga e mais prestigiada corrida do calendário taurino nacional merecia ser de arromba - e não é. É um elenco vulgar, sem que esta minha apreciação traduza qualquer tipo de menosprezo pelo valor dos três cavaleiros que nele participam, pelo contrário. António Ribeiro Telles, o rei do classicismo, é um grande Toureiro; Vitor Ribeiro reafirmou no ano passado todo o valor que sempre lhe reconhecemos; e João Maria Branco é um dos mais consagrados cavaleiros da chamada nova vaga. Mas fica a impressão de que falta "qualquer coisa mais" para tornar mais atractivo, e sobretudo mais bombástico, (se comparado com os anteriores cartéis, todos eles verdadeiramente fora de série), este cartel - que é, apenas e só, vulgar, tendo em conta a comemoração que se assinala e a importância que sempre teve a Corrida TV. Importante mesmo, nesta corrida, é a presença da ganadaria Murteira Grave e a competição entre os consagrados grupos de forcados de Montemor e Lisboa, que foram precisamente os que integraram há 51 anos (por que houve um ano em que esta corrida não se efectuou) a 1ª Corrida TV. Resumindo: toiros e forcados são, a meu ver, o atractivo número-um deste cartel.

17 de Julho (Corrida "Correio da Manhã") - A alternativa de Miguel Moura é, sem dúvida, um dos acontecimentos mais esperados desta temporada. O facto de Rui Bento ter cozinhado um cartel de Dinastias, com os Moura e os Bastinhas em competição, torna a corrida apetecível e muito ao gosto do aficionado português. É terno, é bonito, é sempre bom e agradável de se ver pais e filhos juntos na mesma corrida. O povo gosta. E, no caso concreto, estamos a falar de dois dos primeiros nomes do nosso toureio a cavalo, João Moura e Joaquim Bastinhas, com os respectivos filhos, Miguel Moura e Marcos Tenório Bastinhas. É um cartel para esgotar o Campo Pequeno, sobretudo com o público alentejano. Bento teve a habilidade de também reunir em competição três grupos de forcados do Alentejo - Portalegre, Monforte e Académicos de Elvas - e uma ganadaria prestigiada da mesma zona, a de Dª Maria Guiomar Cortes de Moura, que um mês antes (7 de Junho) estará presente, pelo segundo ano consecutivo, na Feira de Santo Isidro em Madrid.

24 de Julho - Segunda presença em Lisboa de Diego Ventura, com a particularidade de este ano não tourear em mais nenhuma praça portuguesa, apenas e só nestas duas ocasiões no Campo Pequeno. Novamente a presença de uma ganadaria dura, a de Herdeiros de Alberto Cunhal Patrício - o que é, outra vez, uma prova da dignidade e da verdade com que Ventura assumiu este compromisso de regressar "noutros termos" e depois das polémicas em anos anteriores, a Lisboa. Desta vez, em competição com os dois cavaleiros que com ele tiveram alguma celeuma em ocasiões passados: o campeão Luis Rouxinol e o sempre imprevisto João Salgueiro. Uma noite de "guerra", portanto, também a fazer prever uma enchente digna de registo. Nas pegas, mais dois grandes grupos de forcados: Santarém e Vila Franca de Xira.

Fotos Ana de Alvarenga