Miguel Alvarenga ontem no Campo Pequeno com Abel Correia, Rui Bento e o Maestro João Moura |
Foi pela primeira vez neste cenário - na arena e não no Salão Nobre - que decorreu ontem a apresentação dos primeiros elencos da temporada lisboeta |
Toureiros, forcados e ganadeiros ontem em peso, demonstrando união e força, na apresentação dos primeiros cartéis do Campo Pequeno |
Miguel Alvarenga - Como ontem mesmo tive
oportunidade de referir na curta entrevista que me fez Diogo Marcelino para o
magazine "Faenas TV", considero os primeiros cartéis da Temporada de
Abono do Campo Pequeno magníficos, bem rematados, na esmagadora maioria dignos
de praça cheia (e mesmo de lotação esgotada, sobretudo os dois primeiros e os
de 17 e 24 de Julho) e concordo "a duzentos por cento" com Rui Bento
quando afirma que são, de facto, os melhores dos últimos anos.
Houve - e é preciso frisá-lo e louvá-lo
- um esforço notório e notável de Rui Bento e também um apoio considerável e
importante, decisivo mesmo, da nova Administração da Sociedade Campo Pequeno,
para "dar a volta" num momento particularmente difícil, que adveio do
complicado processo de insolvência e consequente demissão dos anteriores
administradores (Família Borges, sobretudo), para se chegar onde se chegou - a
muito bom porto, diga-se em abono da verdade.
Passo então a analisar, um a um, os
elencos ontem apresentados.
15 de Maio (8º aniversário da
reinauguração do Campo Pequeno, Corrida "Vidas/Correio da Manhã") -
Perfeito, interessante e digno da maior expectativa, o cartel de abertura da
Temporada de Abono. Primeiro, pela presença de Pablo Hermoso de Mendoza, o
cavaleiro espanhol de maior cartel em Lisboa, responsável pelas únicas duas
enchentes de 2013 na primeira praça do país. Depois, pela inclusão, altamente
merecida, de Rui Salvador, um "cavaleiro de luta" e enorme valor, que
comemora nesta temporada 30 anos de carreira/alternativa e que pela segunda vez se defronta precisamente com o Nº 1 do rejoneio mundial (a primeira vez foi em 2002 no Montijo quando era empresário José Vilão - Moura, Salvador e Pablo). Em terceiro, pela
presença de João Moura Jr., que regressa em força a arenas nacionais e que é o
mais destacado dos cavaleiros da nova vaga, pelo menos em termos internacionais
e o único (falo dos filhos das Figuras) que saíu em ombros pela porta grande de
Madrid. O cartel é de alta (íssima!) competição e tem a particularidade de
contar com a presença de uma ganadaria, a de Santa Maria, do Engº Lobo de
Vasconcellos, que normalmente não é lidada por um elenco destes. Fica, aliás,
dos cartéis apresentados ontem, a certeza louvável de que as grandes Figuras de
Portugal e Espanha não impuseram, pela primeira vez, ganadarias
"fáceis" para as suas presenças na Catedral Mundial do Toureio a Cavalo. Pegam
os grupos de forcados de Évora e do Aposento da Moita, dois agrupamentos
consagrados.
5 de Junho (Corrida "Flash") -
Não vão faltar, pela certa, os habituais "Velhos do Restelo" a
criticar o facto de, pela primeira vez na História, se conceder uma alternativa
de rejoneador na primeira praça do país. Mas não me incomoda nada que o
valoroso cavaleiro colombiano Jacobo Botero - que há alguns anos veio para a
quinta de Rui Fernandes decidido a cumprir o sonho de ser toureiro - a receba em
Portugal e nomeadamente em Lisboa. Temos que evoluir e que nos modernizar - em todos os aspectos. Se já vários cavaleiros lusos receberam a
alternativa em França e em Espanha, acham que vem algum mal ao mundo se um
colombiano receber aqui a alternativa de rejoneador? Vai ser apadrinhado por
Rui Fernandes, seu mestre - e o único cavaleiro português presente este ano nas
duas principais feiras taurinas de Espanha, as de Sevilha e Madrid, o que por
si só fala do seu valor e do reconhecimento internacional que, muito
meritoriamente, lhe é devido - e terá como testemunha Diego Ventura, que nesta
noite regressa a Lisboa, depois de ter estado dois anos sem ali tourear. Dois
"leões" - Fernandes e Ventura -, cada qual a querer certamente levar
a melhor... e um "leãozinho" que promete ser, dos jovens cavaleiros
actuais, aquele que mais vai marcar a diferença, a atestar pelo
"boom" que protagonizou na temporada passada. Por isso, a certeza de
mais uma noite de grande competição, também aqui com a particularidade de se
lidar uma ganadaria dura, a de António Charrua (Herdeiros), que foi grande
triunfadora no ano anterior no seu regresso à capital. Dois bons grupos de
forecados - Alcochete e Aposento da Chamusca - também presentes neste segundo
cartel da magnífica Temporada de Abono no Campo Pequeno.
19 de Junho - A Novilhada de Promoção de
Novos Valores tem este ano um formato "mais sério" que nas edições
anteriores. É uma verdadeira "corrida" mista com diversos polos de
atractivo distintos. Primeiro, a ganadaria de Murteira Grave (que regressa em
duas ocasiões a Lisboa); depois, a prova de praticante do promissor Luis
Rouxinol Jr. em competição com um jovem clássico, Manuel Vacas de Carvalho
(pupilo de Mestre Luis Miguel da Veiga); por fim, a estreia em Portugal da nova
coqueluche do toureio espanhol, o novilheiro José Garrido (triunfador em Olivença
e em Valência, nas Fallas) num emotivo mano-a-mano que promete ser mais uma
importante afirmação para Diogo Peseiro, o mais emblemático diestro da Academia
de Toureio do Campo Pequeno. Nas pegas, o valoroso e jovem grupo de forcados de
Arruda dos Vinhos. Perfeito e atractivo, o cartel.
3 de Julho - Apenas certa nesta corrida
mista as presenças da ganadaria de Carlos Falé Filipe e do matador espanhol
António Ferrera, triunfador de Madrid em 2013 e um toureiro com imensa
popularidade em Portugal. Este cartel esteve envolto em algumas peripécias (que
Rui Bento não especificou em particular, mas que o "Farpas" vai aqui
contar amanhã - a não perder!), chegou a estar quase rematado (com dois
cavaleiros que depois sairam) e está ainda à espera de um segundo matador. Que pode
ser, revelou Bento, Pedrito de Portugal. Aguarde-se. Fica o suspense, como
todos os anos tem acontecido, para esta "Corrida Surpresa" - que pode
ser de sete toiros, com dois cavaleiros (lidando um toiro a duo) e dois
matadores; ou de seis toiros, com duas opções: dois cavaleiros e apenas Ferrera
a pé; ou um dos cavaleiros que mais se destacar nos cartéis anteriores, com dois
matadores (Ferrera e Pedrito ou outro... que pode ser uma grande surpresa!).
Amanhã conto tudo!
10 de Julho - O cartel da comemoração
dos 50 anos da Corrida TV (RTP) é, quanto a mim, o menos "diferente"
e o mais "banal" de todos os que ontem Rui Bento apresentou. O elenco
da comemoração do cinquentenário da mais antiga e mais prestigiada corrida do
calendário taurino nacional merecia ser de arromba - e não é. É um elenco
vulgar, sem que esta minha apreciação traduza qualquer tipo de menosprezo pelo
valor dos três cavaleiros que nele participam, pelo contrário. António Ribeiro
Telles, o rei do classicismo, é um grande Toureiro; Vitor Ribeiro reafirmou no
ano passado todo o valor que sempre lhe reconhecemos; e João Maria Branco é um
dos mais consagrados cavaleiros da chamada nova vaga. Mas fica a impressão de
que falta "qualquer coisa mais" para tornar mais atractivo, e
sobretudo mais bombástico, (se comparado com os anteriores cartéis, todos eles
verdadeiramente fora de série), este cartel - que é, apenas e só, vulgar, tendo
em conta a comemoração que se assinala e a importância que sempre teve a
Corrida TV. Importante mesmo, nesta corrida, é a presença da ganadaria Murteira
Grave e a competição entre os consagrados grupos de forcados de Montemor e
Lisboa, que foram precisamente os que integraram há 51 anos (por que houve um
ano em que esta corrida não se efectuou) a 1ª Corrida TV. Resumindo: toiros e
forcados são, a meu ver, o atractivo número-um deste cartel.
17 de Julho (Corrida "Correio da
Manhã") - A alternativa de Miguel Moura é, sem dúvida, um dos
acontecimentos mais esperados desta temporada. O facto de Rui Bento ter
cozinhado um cartel de Dinastias, com os Moura e os Bastinhas em competição,
torna a corrida apetecível e muito ao gosto do aficionado português. É terno, é
bonito, é sempre bom e agradável de se ver pais e filhos juntos na mesma corrida. O povo gosta. E, no
caso concreto, estamos a falar de dois dos primeiros nomes do nosso toureio a
cavalo, João Moura e Joaquim Bastinhas, com os respectivos filhos, Miguel Moura
e Marcos Tenório Bastinhas. É um cartel para esgotar o Campo Pequeno, sobretudo
com o público alentejano. Bento teve a habilidade de também reunir em
competição três grupos de forcados do Alentejo - Portalegre, Monforte e
Académicos de Elvas - e uma ganadaria prestigiada da mesma zona, a de Dª Maria
Guiomar Cortes de Moura, que um mês antes (7 de Junho) estará presente, pelo
segundo ano consecutivo, na Feira de Santo Isidro em Madrid.
24 de Julho - Segunda presença em Lisboa
de Diego Ventura, com a particularidade de este ano não tourear em mais nenhuma
praça portuguesa, apenas e só nestas duas ocasiões no Campo Pequeno. Novamente
a presença de uma ganadaria dura, a de Herdeiros de Alberto Cunhal Patrício - o
que é, outra vez, uma prova da dignidade e da verdade com que Ventura assumiu
este compromisso de regressar "noutros termos" e depois das polémicas
em anos anteriores, a Lisboa. Desta vez, em competição com os dois cavaleiros
que com ele tiveram alguma celeuma em ocasiões passados: o campeão Luis Rouxinol e o sempre imprevisto João
Salgueiro. Uma noite de "guerra", portanto, também a fazer prever uma
enchente digna de registo. Nas pegas, mais dois grandes grupos de forcados:
Santarém e Vila Franca de Xira.
Fotos Ana de Alvarenga