segunda-feira, 5 de maio de 2014

Vila Franca: toiros sérios para cavaleiros e forcados de verdade!

O ganadeiro António Francisco Teixeira no momento em que saltava da bancada
para receber na arena a calorosa e merecida ovação do público. Importante e sério
triunfo da ganadaria Veiga Teixeira ontem na praça "Palha Blanco"!
Marcelo Mendes (na foto, dando a volta com o valente forcado Márcio Francisco)
teve ontem em Vila Franca a mais destacada actuação frente ao melhor toiro da
corrida, rubricando a sua melhor exibição dos últimos tempos


Miguel Alvarenga - Não sendo a única, felizmente, a empresa "Tauroleve" é, contudo, das poucas que preza e apresenta nas suas praças aquilo que pode fundamentalmente ser a garantia de um bom espectáculo ou, pelo menos, de um espectáculo sério - o toiro, a base essencial da Festa Brava.
Mesmo ausente, ainda em casa a recuperar de uma delicada operação à coluna (as melhoras, meu amigo!), o empresário Ricardo Levesinho foi, sem dúvida, um dos triunfadores maiores da corrida de ontem na praça de Vila Franca - onde o sucesso principal coube aos toiros de António José da Veiga Teixeira, ganadeiro de saudosa memória, um exemplo do lavrador à antiga, divisa agora dirigida - e bem - por seu filho António Francisco.
Foram imponentes estampas, na maioria dos casos cresceram ao longo da lide, investiram com alegria, trouxeram emoção e seriedade à praça e isso foi o principal. Quando há toiros, há espectáculo, há verdade e há emoção. A corrida de toiros era isso, noutros tempos. Antes dos "murubes", antes dos toirinhos "telecomandados". Os Teixeiras de ontem na "Palha Blanco" fizeram-nos reviver esse passado. E são toiros destes, como de outras ganadarias, que podem devolver a verdade ao espectáculo tauromáquico.
Sobre os toiros estamos conversados. Merecidíssima a chamada à arena do ganadeiro no final da lide do quinto, o melhor da tarde, de nome "Manique", que regressou à ganadaria depois de, como referimos esta manhã, ter sido lidado de muleta e à porta fechada, por solicitação do ganadeiro, pelos bandarilheiros e antigos novilheiros Manuel dos Santos "Becas" e Fábio Machado.
A corrida de ontem teve, como se sabe, duas alterações, mas, verdade seja dita, quase não se deu por elas. Nelson Limas, que ia tomar a alternativa, foi substituído por Marcelo Mendes (que lidou o melhor toiro da tarde e teve destacadíssima exibição); João Salgueiro, que menos de 24 horas antes anunciou a inesperada e desajustada decisão de suspender a temporada, sem se perceber bem porquê, foi substituído por Brito Paes, que teve igualmente meritória actuação, numa temporada em que parece disposto, outra vez, a subir os degraus que tinha descido.
Pena que o público não correspondesse, como se impunha, ao empenho da empresa e à expectativa de se verem toiros de verdade. Mas Vila Franca tem destes mistérios: meia casita fraca, mas muito entusiasmo nas bancadas e, sobretudo, muito aficionado de solera e alguns toureiros entre o público.
O destaque da tarde, entre os seis cavaleiros, foi ontem, indiscutivelmente, de Marcelo Mendes. Lidou o melhor toiro da corrida (o quinto, que "nunca é mau", como reza, às vezes, a tradição), sim senhor, mas protagonizou também, verdade seja dita, a melhor actuação que lhe vimos nos últimos tempos. Houve arte, valor, raça e toureirismo em todos os detalhes. Terminou em grande com os adornos únicos do cavalo "Único", mas antes já dissera que estava ontem ali para marcar a diferença - e marcou-a, de facto. Foi uma lide em crescendo, com o cavaleiro a arriscar e a pôr a carne toda no assador, desenhando sortes frontais de grande emoção e cravando com verdade "en su sítio", rematando todas as sortes com inspirada veia artística. Melhor era impossível. Grande Marcelo!
Em Dia da Mãe, abriu praça a valente Sónia Matias, com um emotivo brinde a sua Mãe, vítima de graves problemas de saúde, mas a recuperar felizmente e que assistiu em cadeira de rodas à corrida. Dedicou-lhe Sónia uma actuação plena de ousadia, de verdade toureira e de grandes ferros em sortes de arrepiar. Impôs seriedade à lide e triunfou.
Ana Batista rubricou de seguida, também, uma excelente actuação frente ao segundo toiro da tarde. Esteve correcta na preparação das sortes, séria na cravagem e alegre nos remates. Com um toiro que pedia contas, veio acima a garra da cavaleira de Salvaterra, sempre um portento de classe. Muito bem.
António Maria Brito Paes procura reafirmar-se e reocupar o posto que já foi seu. Está novamente bem montado e moralizado. Rubricou uma lide limpa e sem falhas, que chegou ao público, sobretudo quando montando o cavalo com o ferro de Pablo Hermoso.
Paulo Jorge Santos é um cavaleiro de valor e mostra sempre que o é. Merece maior atenção por parte das empresas - repito, como já o disse aquando do seu recente triunfo em Salvaterra. Ontem teve pela frente o toiro mais complicado da corrida. Insistiu nos "câmbios" e as coisas nem sempre resultaram. Teve altos e baixos a sua lide. No final, recusou a volta à arena. Esteve toureiro.
Depois do triunfo de Marcelo Mendes, foi o amador colombiano Jacobo Botero quem fechou a corrida. Decidido e com as ganas de sempre, esperou sózinho o toiro no centro da arena e cravou um comprido de grande impacto e justificada emoção. Desenvolveu depois animada lide, pecando apenas por sucessivos toques sofridos no momento do ferro.
Os toiros de Veiga Teixeira impunham respeito e seriedade e tiveram pela frente grandes forcados, pese embora o facto de terem ido quase sempre "pelo seu caminho", com a força de um comboio, mas sem dificultar em demasia. Houve rijas pegas e houve, sobretudo, momentos de grande emoção protagonizados pelos valentes rapazes das jaquetas de ramagens dos grupos de Vila Franca e de Coruche.
Pelos vilafranquenses pegaram, todos à primeira e com o grupo a ajudar muitíssimo bem, Pedro Castelo, Bruno Casquinha (com excelente e oportuna ajuda de Tiago Oliveira, chamado no final à arena) e Márcio Francisco.
Pelo grupo coruchense, foram caras José Marques e José Sousa, ao primeiro intento; e Ricardo Dias à segunda, após sofrer violento derrote na primeira tentativa. Também aqui, destaque para as valorosas intervenções de todos os elementos em praça.
Excelente actuação de todos os bandarilheiros que integraram as quadrilhas de ontem e, como sempre, uma correcta direcção de Rogério Jóia, sobre o qual recairam no final do espectáculo algumas críticas - desajustadas, a meu ver - sobre os "timing's" da concessão de música aos cavaleiros. Jóia foi o homem certo no lugar certo e a banda do Ateneu Artístico Vilafranquense, na minha oponião, tocou no momento em que merecia ser ouvida. Mais nada.

Já a seguir: todas as fotos de ontem em Vila Franca!

Fotos M. Alvarenga e Ana de Alvarenga