segunda-feira, 28 de março de 2016

Moura e Padilla marcaram, mas todos triunfaram no sábado em Serpa

Mesmo sem sol e ameaços de chuva (que chegou a cair durante o espectáculo),
público acorreu em força e encheu as bancadas da praça portátil no sábado
em Serpa, para assistir ao tradicional Festival Taurino que já é uma tradição
no arranque da temporada nacional. De parabéns voltam a estar os Bombeiros
Voluntários da terra do saudoso Nicolau Breyner (por quem se guardou um emotivo
minuto de silêncio), pelo empenho e pelo rigor na montagem deste grande cartel
De novo muito bem montado (três cavalos novos que pertenciam a Francisco
Cortes vieram reforçar a quadra), João Moura abriu a temporada com uma lição
de deixar tudo e todos em sentido. Cumprem-se esta temporada 40 anos
da explosão da revolução mourista (1976, Las Ventas, Madrid) e o Maestro de
Monforte está para dar e durar!
Arte e maestria de António Telles numa grande actuação frente a um bom
novilho de Varela Crujo
Atenção, há um "novo" Brito Paes disposto a marcar esta temporada de 2016!
Já caía a noite quando Luis Rouxinol Júnior iluminou Serpa com uma actuação
empolgante. Rei do futuro já com trono assegurado!
Cláudio Miguel em evidência na arte das bandarilhas. Sempre em forma
Arrastou a faena, escutou um aviso, mas havia novilho para dar e durar e ao
veterano (retirado) Juan Pedro Galán sobrava vontade de agradar. Público
reconheceu com calorosos aplausos e uma merecida volta à arena o valor e
a disponibilidade que sempre manifestou para estar ao lado dos Bombeiros
Voluntários de Serpa
Profissional até mais não, dando a cara com a mesma raça e a mesma força numa
Monumental de primeira ou numa simples portátil, Juan José Padilla marcou o
festival de sábado em Serpa com uma actuação fora de série a um extraordinário
novilho de Falé Filipe, que o acompanhou merecidamente numa segunda e muito
aplaudida volta à arena
Primeira pega, à segunda, esteve a cargo do Real Grupo de Moura, por intermédio
de Alexandre Rato
A segunda pega foi consumada à terceira tentativa pelo jovem forcado David
Carvalho
, dos Amadores de Beja
As duas últimas pegas foram as melhores da tarde. Nas fotos de cima, a terceira,
executada por Tierry Gonçalves (Real Grupo de Moura), que esteve "dentro e fora"
mas se aguentou com um par de braços de ferro, resultando emotiva e empolgante
a sua intervenção; em baixo, Gonçalo Borges (Amadores de Beja) na quarta e
última pega do festival de Serpa, tendo estado perfeito e com imensa técnica a
recuar na cara do novilho, fechando-se com arrojo e decisão



Miguel Alvarenga - Está velho, fazia falta uma dieta rigorosa, mais isto e mais aquilo, mas a realidade é que, quarenta anos passados sobre a explosão da revolução mourista (1976, Madrid), João Moura ainda aí está para as curvas e em Serpa renasceu, novamente bem montado e ainda (e sempre) moralizado para enfrentar mais uma campanha. Quando quer e quando pode (a cavalaria está de novo em alta), ainda dá 100 a 0 ao pelotão - é essa a verdade! E o resto, passadas quatro longas décadas, continuam a ser cantigas!
A faena de João Moura, a um novilho complicado - ou menos empenhado - de Ascensão Vaz a que deu a volta com o seu saber e a sua técnica, no sábado em Serpa foi um encanto de pureza, de arte, de temple e de maestria - foi uma eternidade de bom toureio, uma lição das que ficam para lembrar, como exemplo, como espelho. E que nele se vejam os mais novos.
A outra lição do festival de Serpa, uma cuidada e sempre tão aficionada organização dos Bombeiros locais personificada pelo  empreendedor José Luis Pires, deu-a o enorme e heróico Juan José Padilla, essa força viva da natureza, esse Toureiro de raça e de fibra que um dia ressuscitou das trevas e voltou às arenas, com um olho a menos, mas com valentia a dobrar e um querer que move montanhas.
Teve pela frente um extraordinário novilho de Falé Filipe, que merecidamente valeu ao ganadeiro uma volta à arena, acompanhando o matador, que antes dera uma devolvendo chapéus, bonés e sorrisos ao carinho e ao reconhecimento de um público que encheu a praça e resistiu aos chuviscos para marcar presença num festejo com elenco de luxo e que já faz parte, por tradição, do calendário taurino nacional.
Joelhos em terra, alma aberta e sempre a dar tudo de si em que praça fôr, Padilla recebeu o novilho com uma "afarolada" de arrepiar, prosseguiu com cingidas "verónicas" e depois com artísticas "chicuelinas", bandarilhou com o poderio que fez dele um dos grandes nesta arte e depois desenhou uma variada e templada faena com a muleta, onde marcou pelo arrojo, pela ousadia, pela afirmação e a atitude. Um caso. E a verdade é que desde o ano passado na Moita, Padilla está de moda em Portugal - esperamos por ele no Campo Pequeno (14 de Julho).

O "novo" Brito Paes

Com um bom novilho de Varela Crujo, António Ribeiro Telles pôde abrir o livro e dar azo à sua arte e à classe do seu bom toureio, numa lide empolgante e valorosa - pela verdade, pelo rigor, pelos pormenores de brega, pela beleza dos "desenhos" que ali deixou pintados.
A surpresa foi o "novo" Brito Paes. Parece ele que renasceu das cinzas ou que arrancou agora, decidido, por fim, a marcar uma posição que há muito era merecida e cuja porta tardava em abrir. Bem montado, sem acusar o início de temporada, vimos um António Maria Brito Paes decidido, maduro, empenhado e moralizado. Uma actuação acima da média, onde tudo foi bem feito e onde tudo superou a perfeição. Fantástico.
Fechou o festival (os matadores actuaram no meio da função), já caía a noite e a praça não tem iluminação, o iluminado Luis Rouxinol Júnior. Quem sai aos seus não degenera e o jovem Luis sai a um dos maiores toureiros nacionais, por isso não há que admirar a garra, a raça e a força com que triunfou no sábado em Serpa, quase que jurávamos que se trata de um cavaleiro feito, com anos de experiência e actividade e, afinal, ainda "há dias" começou. Ajudou a raça e o empenho do novilho de Passanha, de comportamento notável.
Atrevimento e intuição, uma empatia contagiante com o público e uma técnica aperfeiçoada ao pormenor fazem de Rouxinol II um futuro rei já com trono garantido. Sempre o reconheci e nunca me enganei: é uma das figuras certas de um futuro próximo. Grande Luís!
Ao veterano e já retirado matador espanhol Juan Pedro Galán há que reconhecer (e aplaudir) o carinho e a disponibilidade com que ao longo dos anos tem apoiado, com a sua presença, os Bombeiros e a aficion de Serpa. O diestro de Huelva fez tudo para agradar numa faena com pinceladas de arte e que só pecou por ter sido demasiado arrastada, obrigando a que escutasse um aviso, mas havia novilho para dar e durar (de Falé Filipe e também de excelente nota) e a Galán sobrava vontade, tão a gosto estava para dali voltar a sair, como em anos anteriores, em plano de triunfador.
Nas pegas, estiveram os forcados do Real Grupo de Moura (com intervenções de Alexandre Rato e Tierry Gonçalves, este com um par de braços de ferro e a criar emoção numa pega muito aplaudida) e os Amadores de Beja (por intermédio de David Carvalho e Gonçalo Borges, destacando-se este segundo pela técnica e a toreria com que esteve na cara do oponente, recuando bem, vencendo a investida confusa e fechando-se com perfeição).
É de toda a justiça louvar o bom empenho de todos os bandarilheiros, em especial João Ganhão, João Ribeiro "Curro", António Telles Bastos, Luis Brito Paes, Josué Salvado e Ricardo Pedro e também a excelência com as bandarilhas do grande Cláudio Miguel.
Bom ambiente, praça cheia, público a responder, apesar da chuva, ao empenho da organização e ao excelente cartel - e, a abrir o festejo, destaque para a emotiva recordação da memória de um ilustre filho da terra, o inesquecível Nicolau Breyner, por quem se guardou um emotivo minuto de silêncio e a quem João Moura dedicou a sua actuação, inesquecível também, aos céus elevando o seu sombrero.
Juan José Padilla foi homenageado com os brindes de Brito Paes, de Galán e dos forcados e também de João Moura, que lhe dedicou o primeiro ferro curto. Rouxinol chamou à arena os Bombeiros e José Luis Pires e foi a eles que honrou com o brinde da sua empenhada actuação.
Na direcção do festival, diligente e com a competência usual, esteve Tiago Tavares. E venha o próximo festival de 2017 em Serpa! Este valeu (muito) a pena!

Fotos Maria Mil-Homens