Arte e maestria de António Telles numa grande actuação frente a um bom novilho de Varela Crujo |
Atenção, há um "novo" Brito Paes disposto a marcar esta temporada de 2016! |
Já caía a noite quando Luis Rouxinol Júnior iluminou Serpa com uma actuação empolgante. Rei do futuro já com trono assegurado! |
Cláudio Miguel em evidência na arte das bandarilhas. Sempre em forma |
Primeira pega, à segunda, esteve a cargo do Real Grupo de Moura, por intermédio de Alexandre Rato |
A segunda pega foi consumada à terceira tentativa pelo jovem forcado David Carvalho, dos Amadores de Beja |
Miguel Alvarenga - Está velho, fazia
falta uma dieta rigorosa, mais isto e mais aquilo, mas a realidade é que,
quarenta anos passados sobre a explosão da revolução mourista (1976, Madrid),
João Moura ainda aí está para as curvas e em Serpa renasceu, novamente bem
montado e ainda (e sempre) moralizado para enfrentar mais uma campanha. Quando
quer e quando pode (a cavalaria está de novo em alta), ainda dá 100 a 0 ao
pelotão - é essa a verdade! E o resto, passadas quatro longas décadas, continuam a ser cantigas!
A faena de João Moura, a um novilho
complicado - ou menos empenhado - de Ascensão Vaz a que deu a volta com o seu saber e a sua técnica,
no sábado em Serpa foi um encanto de pureza, de arte, de temple e de maestria -
foi uma eternidade de bom toureio, uma lição das que ficam para lembrar, como
exemplo, como espelho. E que nele se vejam os mais novos.
A outra lição do festival de Serpa, uma
cuidada e sempre tão aficionada organização dos Bombeiros locais personificada
pelo empreendedor José Luis Pires,
deu-a o enorme e heróico Juan José Padilla, essa força viva da natureza, esse Toureiro de raça e
de fibra que um dia ressuscitou das trevas e voltou às arenas, com um olho a
menos, mas com valentia a dobrar e um querer que move montanhas.
Teve pela frente um extraordinário
novilho de Falé Filipe, que merecidamente valeu ao ganadeiro uma volta à arena,
acompanhando o matador, que antes dera uma devolvendo chapéus, bonés e sorrisos
ao carinho e ao reconhecimento de um público que encheu a praça e resistiu aos
chuviscos para marcar presença num festejo com elenco de luxo e que já faz
parte, por tradição, do calendário taurino nacional.
Joelhos em terra, alma aberta e sempre a
dar tudo de si em que praça fôr, Padilla recebeu o novilho com uma
"afarolada" de arrepiar, prosseguiu com cingidas "verónicas"
e depois com artísticas "chicuelinas", bandarilhou com o poderio que fez dele um dos
grandes nesta arte e depois desenhou uma variada e templada faena com a muleta,
onde marcou pelo arrojo, pela ousadia, pela afirmação e a atitude. Um caso. E a
verdade é que desde o ano passado na Moita, Padilla está de moda em Portugal -
esperamos por ele no Campo Pequeno (14 de Julho).
O "novo" Brito Paes
Com um bom novilho de Varela Crujo,
António Ribeiro Telles pôde abrir o livro e dar azo à sua arte e à classe do
seu bom toureio, numa lide empolgante e valorosa - pela verdade, pelo rigor,
pelos pormenores de brega, pela beleza dos "desenhos" que ali deixou
pintados.
A surpresa foi o "novo" Brito
Paes. Parece ele que renasceu das cinzas ou que arrancou agora, decidido, por
fim, a marcar uma posição que há muito era merecida e cuja porta tardava em
abrir. Bem montado, sem acusar o início de temporada, vimos um António Maria
Brito Paes decidido, maduro, empenhado e moralizado. Uma actuação acima da
média, onde tudo foi bem feito e onde tudo superou a perfeição. Fantástico.
Fechou o festival (os matadores actuaram
no meio da função), já caía a noite e a praça não tem iluminação, o iluminado
Luis Rouxinol Júnior. Quem sai aos seus não degenera e o jovem Luis sai a um
dos maiores toureiros nacionais, por isso não há que admirar a garra, a raça e
a força com que triunfou no sábado em Serpa, quase que jurávamos que se trata
de um cavaleiro feito, com anos de experiência e actividade e, afinal, ainda
"há dias" começou. Ajudou a raça e o empenho do novilho de Passanha,
de comportamento notável.
Atrevimento e intuição, uma empatia
contagiante com o público e uma técnica aperfeiçoada ao pormenor fazem de
Rouxinol II um futuro rei já com trono garantido. Sempre o reconheci e nunca me
enganei: é uma das figuras certas de um futuro próximo. Grande Luís!
Ao veterano e já retirado matador
espanhol Juan Pedro Galán há que reconhecer (e aplaudir) o carinho e a
disponibilidade com que ao longo dos anos tem apoiado, com a sua presença, os
Bombeiros e a aficion de Serpa. O diestro de Huelva fez tudo para agradar numa
faena com pinceladas de arte e que só pecou por ter sido demasiado arrastada,
obrigando a que escutasse um aviso, mas havia novilho para dar e durar (de Falé
Filipe e também de excelente nota) e a Galán sobrava vontade, tão a gosto
estava para dali voltar a sair, como em anos anteriores, em plano de
triunfador.
Nas pegas, estiveram os forcados do Real
Grupo de Moura (com intervenções de Alexandre Rato e Tierry Gonçalves, este com
um par de braços de ferro e a criar emoção numa pega muito aplaudida) e os
Amadores de Beja (por intermédio de David Carvalho e Gonçalo Borges,
destacando-se este segundo pela técnica e a toreria com que esteve na cara do
oponente, recuando bem, vencendo a investida confusa e fechando-se com
perfeição).
É de toda a justiça louvar o bom empenho de todos os bandarilheiros, em especial João Ganhão, João Ribeiro "Curro", António Telles Bastos, Luis Brito Paes, Josué Salvado e Ricardo Pedro e também a excelência com as bandarilhas do grande Cláudio Miguel.
Bom ambiente, praça cheia, público a
responder, apesar da chuva, ao empenho da organização e ao excelente cartel -
e, a abrir o festejo, destaque para a emotiva recordação da memória de um
ilustre filho da terra, o inesquecível Nicolau Breyner, por quem se guardou um emotivo minuto de silêncio e a quem João Moura dedicou a sua actuação, inesquecível
também, aos céus elevando o seu sombrero.
Juan José Padilla foi homenageado com os
brindes de Brito Paes, de Galán e dos forcados e também de João Moura, que lhe
dedicou o primeiro ferro curto. Rouxinol chamou à arena os Bombeiros e José
Luis Pires e foi a eles que honrou com o brinde da sua empenhada actuação.
Na direcção do festival, diligente e com
a competência usual, esteve Tiago Tavares. E venha o próximo festival de 2017
em Serpa! Este valeu (muito) a pena!
Fotos Maria Mil-Homens