Momentos dos "faenões" que este sábado consagraram em definitivo Miguel Ángel Perera como um dos primeiros toureiros do momento - em Las Ventas |
Actuação brilhante dos bandarilheiros que compõem a quadrilha de Miguel Ángel Perera: Javier Ambel, Curro Javier (na foto) e Guillermo Barbero |
Juan del Álamo não teve as mínimas opções com os dois toiros do seu lote, não repetindo o triunfo da Isidrada |
Lopez Simón teve bonitos momentos, como este, mas falhou sempre na hora de matar os toiros. Aqui, lidando o bom sobrero de Santiago Domecq |
É apenas e só ilusão de óptica... a rapariga não estava despida da cintura para cima... mas que parece, parece... |
Jual del Álamo e o seu apoderado Rui Bento no páteo de quadrilhas, momentos antes do início da corrida de sábado |
Contestação aos picadores sobe de tom na principal praça de toiros do mundo.
O público quer vê-los pelas costas...
Enchente na Monumental no sábado, mais de 18 mil almas a assistir à penúltima grande corrida da Feira de Outono |
Juan del Álamo chegou a Las Ventas diminuído fisicamente, o que está bem expresso no seu rosto |
Mesmo sentado à minha frente estava Andrew Moore, o fotógrafo britânico que se apaixonou pela tauromaquia e teve nesta Feira de Outono trabalhos seus expostos na Monumental de Madrid |
Pelayo Leal e Ricardo Relvas, dois veteranos da fotografia taurina |
Ladeado por dois grandes da fotografia taurina: o mexicano Pelayo Leal, um grande amigo dos portugueses e dos Forcados de Turlock e o nosso companheiro Ricardo Relvas |
Na Puerta de Quadrilhas com Ricardo Relvas, o nosso fantástico correspondente em terras de Espanha |
Miguel Alvarenga - Madrid me mata, reza o slogan e é verdade. Três dias a respirar ar puro, a sentir a Festa e a sentir também, em horas que foram marcantes num fim-de-semana de alta tensão, o patriotismo de nuestros hermanos face à tentativa frustada de separatismo que soprou da Catalunha através de um referendo sem legalidade, mas acima de tudo sem lógica.
Madrid encheu-se de Bandeiras nas ruas. E à tarde (sábado) Miguel Ángel Perera conquistou o coração dos madrilenos ao sair em ombros pela porta grande de Las Ventas envolto na Bandeira Nacional e com o público a entoar o Hino espanhol quando chegava em apoteose à rua. Hino que também ele cantou e bem alto, em duas faenas de sonho a toiros de Puerto de San Lorenzo em que consagrou a sua tauromaquia e se impôs como um dos grandes da actualidade. Domínio, mando, arte e temple foram as tónicas de duas importantes faenas do toureiro de Badajoz, que pela quinta vez na sua carreira se consagrou com a saída aos ombros pela porta grande da mais importante praça de toiros do mundo, a Monumental de Madrid. Cortou uma orelha a cada um dos seus toiros.
Praça praticamente cheia e uma enorme expectativa a rodear esta penúltima corrida da Feira de Outono, sobretudo pelo regresso a Las Ventas de Juan del Álamo, que fora um dos triunfadores da Isidrada e pela porta da glória saira também aos ombros. Mas a apoteose não teve repetição.
Fisicamente diminuído depois da brutal voltareta que sofreu em Albacete e a contas com febre e uma gripe arreliadora, como se isso não bastasse, Juan del Álamo enfrentou dois toiros "impossíveis" e que não lhe deram as mínima opções. O primeiro não tinha um passe e investia com violência na esforçada muleta de Álamo. O segundo era um bizarma com 633 quilos e bem se centrou o matador para lhe sacar qualquer coisa, chegando a desenhar bonitas séries de muletazos pela direita, mas que não chegaram para o êxito. Também não esteve brilhante a matar e a sua passagem pela arena onde triunfara em Junho ficou-se desta vez pelos silêncios.
Lopez Simón teve detalhes e teve atitude, mas falhou sempre com a espada e isso impediu-o de cortar uma merecida orelha no último toiro da corrida, em que esteve empenhado e que toureou a gosto com detalhes de muita arte. No primeiro, um bom toiro sobrero de Santiago Domecq, por ter recolhido aos currais o toiro que lhe correspondia da ganadaria Puerto de San Lorenzo, visivelmente diminuído, deu um primeiro ar da sua graça, mas a faena decorreu sem grandes alardes e a matar esteve mal.
Actuação brilhante da fantástica quadrilha de Miguel Ángel Perera: os bandarilheiros Curro Javier e Guillermo Barbero agradeceram os clamorosos aplausos do público de montera em mão depois de bandarilharem supreiormente e Javier Ambel esteve também muito bem a lidar.
Voltei a constatar em Las Ventas a forte, para não dizer mesmo fortíssima, contestação do público aos picadores. Quando um aviso destes chega da exigente aficion da principal praça do mundo, talvez seja a hora de também em Espanha se começar a repensar a Festa - sobretudo no que diz respeito à actuação, se calhar já desajustada e inútil nos tempos que correm, de um tércio, o de picar, que quase sempre diminui o toiro e o deixa depois sem opções para o labor dos matadores. Sou o mais contra possível e não tenho problema algum em aqui o afirmar. Os picadores já estão a mais no século XXI. Doa a quem doer.
Depois, a corrida de domingo, que era aguardada com imensa expectativa, foi um balde de água fria. Praça cheia para ver o regresso de Paco Ureña, que ali deixara importantes marcas na sexta-feira e que actuava mano-a-mano com o francês Juan Bautista, substituto do lesionado António Ferrera. E uma desilusão do tamanho do mundo...
Os toureiros estiveram bem por cima dos toiros de Adolfo Martín, bem apresentados, mas de pouco jogo e complicados. Paco Ureña foi ovacionado nos três e Bautista silenciado no primeiro, aplaudido no segundo e assobiado no último. Muita parra e pouca uva numa tarde que a todos deixou um imenso amargo de boca.
E regressei assim com as baterias carregadas, sobretudo pelo enorme ambiente e pela seriedade que se vive na Monumental de Madrid, pelo triunfo redondo de Miguel Ángel Perera, pelos amigos que ali reencontrei, pelo ar puro que respirei - e pelo simbolismo tão profundo do patriotismo de nuestros hermanos. Por cá, decorreram as eleições autárquicas - e eu ralado. Houve duas corridas importantes em Évora e em Alcácer - e na recta final da temporada voltou a despertar João Telles e a assombrar, pela sua eterna juventude e a sua marcante maestria, o grande e eterno João Moura. Na cidade-museu viveu-se uma noite de emoções com os Forcados e a recordação de Fernando Quintella. Esta noite reencontro-me com a minha Festa em Vila Franca de Xira, uma terra onde a Festa ainda tem um sabor especial e tão distinto.
Fotos Ricardo Relvas, Javier Arroyo/aplausos.es, Plaza 1/las-ventas.com e M. Alvarenga