terça-feira, 3 de outubro de 2017

Arriba Espanha! E viva Miguel Ángel Perera!

Patriotismo em tarde de apoteose: Miguel Ángel Perera saíu no sábado em ombros
pela porta grande da Monumental de Madrid (pela quinta vez) envolto na Bandeira
e na rua o público aclamou o seu gesto entoando o Hino Nacional. Também em Las
Ventas se contestou vivamente o sopro separatista que este fim-de-semana veio da
Catalunha
Momentos dos "faenões" que este sábado consagraram em definitivo Miguel
Ángel Perera
como um dos primeiros toureiros do momento - em Las Ventas
Actuação brilhante dos bandarilheiros que compõem a quadrilha de Miguel
Ángel Perera: Javier Ambel, Curro Javier (na foto) e Guillermo Barbero
Juan del Álamo não teve as mínimas opções com os dois
toiros do seu lote, não repetindo o triunfo da Isidrada
Momento de glória: o emotivo e carinhoso beijo do apoderado Fernando
Cepeda a Miguel Ángel Perera, depois de cortar mais uma orelha ao seu
segundo toiro e assim garantir a saída aos ombros pela porta grande, a da
apoteose para os toureiros
Lopez Simón teve bonitos momentos, como este, mas falhou sempre na hora
de matar os toiros. Aqui, lidando o bom sobrero de Santiago Domecq
É apenas e só ilusão de óptica... a rapariga não estava
despida da cintura para cima... mas que parece, parece...
Jual del Álamo e o seu apoderado Rui Bento no páteo de quadrilhas, momentos
antes do início da corrida de sábado
Contestação aos picadores sobe de tom na principal praça de toiros do mundo.
O público quer vê-los pelas costas...

Enchente na Monumental no sábado, mais de 18 mil almas a assistir à penúltima
grande corrida da Feira de Outono
Juan del Álamo chegou a Las Ventas diminuído fisicamente, o que está bem
expresso no seu rosto
Mesmo sentado à minha frente estava Andrew Moore, o fotógrafo britânico que
se apaixonou pela tauromaquia e teve nesta Feira de Outono trabalhos seus
expostos na Monumental de Madrid
Com o antigo cavaleiro Paulo Brazuna, que amanhã, dia 4, assinala os seus 30
anos de alternativa, recebida em 1987 na praça de Vila Franca das mãos de João
Palha Ribeiro Telles com o testemunho de Rui Salvador e dos Forcados de Vila
Franca e do ABV de Alcochete; e seu filho, o jovem diestro "Fonsi"
Pelayo Leal e Ricardo Relvas, dois veteranos da fotografia taurina
Ladeado por dois grandes da fotografia taurina: o mexicano Pelayo Leal, um
grande amigo dos portugueses e dos Forcados de Turlock e o nosso companheiro
Ricardo Relvas
Na Puerta de Quadrilhas com Ricardo Relvas, o nosso fantástico correspondente
em terras de Espanha
Aterrei em Madrid com manifestações de patriotismo, Bandeiras na rua e a
afirmação de uma Espanha una e indivisível, apesar dos ventos de separatismo
que sopraram das bandas da Catalunha. Na Monumental de las Ventas vivi
a seriedade da Festa e a emoção do triunfo redondo de Miguel Ángel Perera


Miguel Alvarenga - Madrid me mata, reza o slogan e é verdade. Três dias a respirar ar puro, a sentir a Festa e a sentir também, em horas que foram marcantes num fim-de-semana de alta tensão, o patriotismo de nuestros hermanos face à tentativa frustada de separatismo que soprou da Catalunha através de um referendo sem legalidade, mas acima de tudo sem lógica.
Madrid encheu-se de Bandeiras nas ruas. E à tarde (sábado) Miguel Ángel Perera conquistou o coração dos madrilenos ao sair em ombros pela porta grande de Las Ventas envolto na Bandeira Nacional e com o público a entoar o Hino espanhol quando chegava em apoteose à rua. Hino que também ele cantou e bem alto, em duas faenas de sonho a toiros de Puerto de San Lorenzo em que consagrou a sua tauromaquia e se impôs como um dos grandes da actualidade. Domínio, mando, arte e temple foram as tónicas de duas importantes faenas do toureiro de Badajoz, que pela quinta vez na sua carreira se consagrou com a saída aos ombros pela porta grande da mais importante praça de toiros do mundo, a Monumental de Madrid. Cortou uma orelha a cada um dos seus toiros.
Praça praticamente cheia e uma enorme expectativa a rodear esta penúltima corrida da Feira de Outono, sobretudo pelo regresso a Las Ventas de Juan del Álamo, que fora um dos triunfadores da Isidrada e pela porta da glória saira também aos ombros. Mas a apoteose não teve repetição.
Fisicamente diminuído depois da brutal voltareta que sofreu em Albacete e a contas com febre e uma gripe arreliadora, como se isso não bastasse, Juan del Álamo enfrentou dois toiros "impossíveis" e que não lhe deram as mínima opções. O primeiro não tinha um passe e investia com violência na esforçada muleta de Álamo. O segundo era um bizarma com 633 quilos e bem se centrou o matador para lhe sacar qualquer coisa, chegando a desenhar bonitas séries de muletazos pela direita, mas que não chegaram para o êxito. Também não esteve brilhante a matar e a sua passagem pela arena onde triunfara em Junho ficou-se desta vez pelos silêncios.
Lopez Simón teve detalhes e teve atitude, mas falhou sempre com a espada e isso impediu-o de cortar uma merecida orelha no último toiro da corrida, em que esteve empenhado e que toureou a gosto com detalhes de muita arte. No primeiro, um bom toiro sobrero de Santiago Domecq, por ter recolhido aos currais o toiro que lhe correspondia da ganadaria Puerto de San Lorenzo, visivelmente diminuído, deu um primeiro ar da sua graça, mas a faena decorreu sem grandes alardes e a matar esteve mal.
Actuação brilhante da fantástica quadrilha de Miguel Ángel Perera: os bandarilheiros Curro Javier e Guillermo Barbero agradeceram os clamorosos aplausos do público de montera em mão depois de bandarilharem supreiormente e Javier Ambel esteve também muito bem a lidar.
Voltei a constatar em Las Ventas a forte, para não dizer mesmo fortíssima, contestação do público aos picadores. Quando um aviso destes chega da exigente aficion da principal praça do mundo, talvez seja a hora de também em Espanha se começar a repensar a Festa - sobretudo no que diz respeito à actuação, se calhar já desajustada e inútil nos tempos que correm, de um tércio, o de picar, que quase sempre diminui o toiro e o deixa depois sem opções para o labor dos matadores. Sou o mais contra possível e não tenho problema algum em aqui o afirmar. Os picadores já estão a mais no século XXI. Doa a quem doer.
Depois, a corrida de domingo, que era aguardada com imensa expectativa, foi um balde de água fria. Praça cheia para ver o regresso de Paco Ureña, que ali deixara importantes marcas na sexta-feira e que actuava mano-a-mano com o francês Juan Bautista, substituto do lesionado António Ferrera. E uma desilusão do tamanho do mundo...
Os toureiros estiveram bem por cima dos toiros de Adolfo Martín, bem apresentados, mas de pouco jogo e complicados. Paco Ureña foi ovacionado nos três e Bautista silenciado no primeiro, aplaudido no segundo e assobiado no último. Muita parra e pouca uva numa tarde que a todos deixou um imenso amargo de boca.
E regressei assim com as baterias carregadas, sobretudo pelo enorme ambiente e pela seriedade que se vive na Monumental de Madrid, pelo triunfo redondo de Miguel Ángel Perera, pelos amigos que ali reencontrei, pelo ar puro que respirei - e pelo simbolismo tão profundo do patriotismo de nuestros hermanos. Por cá, decorreram as eleições autárquicas - e eu ralado. Houve duas corridas importantes em Évora e em Alcácer - e na recta final da temporada voltou a despertar João Telles e a assombrar, pela sua eterna juventude e a sua marcante maestria, o grande e eterno João Moura. Na cidade-museu viveu-se uma noite de emoções com os Forcados e a recordação de Fernando Quintella. Esta noite reencontro-me com a minha Festa em Vila Franca de Xira, uma terra onde a Festa ainda tem um sabor especial e tão distinto.

Fotos Ricardo Relvas, Javier Arroyo/aplausos.es, Plaza 1/las-ventas.com e M. Alvarenga