quarta-feira, 4 de março de 2020

Acabou o tabu: Campo Pequeno terá touradas, garante Álvaro Covões

Tranquilizem-se! O Campo Pequeno não vai ser só um palco musical estilo
Coliseu, vai continuar a ser também praça de toiros...
Álvaro Covões tranquilizou finalmente os aficionados quando ontem foi interpelado
pelo jornalista Rui Lavrador do site infocul.com, afirmando que "há obrigatoriedade
de dar corridas" e que vai cumprir essa cláusula do contrato
João Gonçalves, novo director-geral do Campo Pequeno (à esquerda, na foto)
com o cavaleiro Manuel Telles Bastos, Paula Resende e Rui Bento, quando há
seis anos esteve na administração da empresa, de que acabou por sair. Em
baixo, Rui Lavrador, o único jornalista que até aqui tem chegado à fala com
o empresário Álvaro Covões


"Há uma obrigatoriedade de dar corridas, aliás isso é público". Álvaro Covões, o novo "dono" do Campo Pequeno, falou finalmente sobre o tema que parecia ser, até aqui, tabu. Em declarações ao site Infocul, o empresário do mundo da música veio por fim esclarecer que o facto de não ser promotor de touradas não vai inviabilizar que elas se realizem, como sempre aconteceu, na primeira praça do país

Miguel Alvarenga - Até agora e apesar de contactado por vários meios de comunicação social, entre os quais o "Farpas", Álvaro Covões remetera-se ao silêncio no que respeita às suas intenções sobre a continuidade das touradas no Campo Pequeno, enquanto novo "dono" da praça.
As poucas declarações que proferiu foram sempre ao jornalista Rui Lavrador (foto ao lado), director do site infocul.com, um orgão de comunicação social essencialmente dedicado ao mundo do espectáculo e que nos últimos tempos vem dedicando também grande espaço à tauromaquia.
Rui Lavrador tem-se cruzado com Álvaro Covões em vários eventos do mundo da música e ontem, numa conferência de imprensa de apresentação da 7ª edição do EDP Live Bands, que decorreu na Fábrica Musa em Marvila, voltou a questionar o empresário sobre o tema que, precisamente por falta de informação e pelo silêncio de Covões, vinha a preocupar todo o mundo aficionado.
Perguntou-lhe, por exemplo, se era sua intenção "proibir" a realização de corridas de toiros em Lisboa. E Álvaro Covões desdramatizou a situação:
"Proibir? Essa é uma palavra muito difícil, só se proibiam espectáculos até 25 de Abril de 74. Portanto, a palavra proibir é uma palavra muito perigosa e não gosto muito disso".
Acrescentou ainda:
"Eu acho que, de facto, as touradas são um tema que divide as pessoas. Já o disse publicamente que, enquanto promotor, não sou promotor de touradas, porque não é o meu negócio e acho que nós, quando organizamos eventos, devemos fazer aquilo que sabemos fazer e não podemos inventar. Eu sei que é um tema que ultimamente tem sido muito discutido na sociedade portuguesa e é a sociedade portuguesa que tem que discutir qual é o seu futuro".
Apesar de por meias palavras, Covões esclarece nesta declaração que não deixarão de haver touradas no Campo Pequeno, não serão é promovidas por ele, dando a entender, como já constava, que alugará datas para outor promotores levarem as corridas por diante.
Sabemos que há, pelo menos, quatro grupos empresariais distintos interessados em promover datas no Campo Pequeno e, à partida, nestas declações ontem proferidas, Covões afasta a hipótese de manter Rui Bento à frente da organização das corridas, quando diz que "neste momento temos uma pessoa responsável, como director-geral, que está com a equipa de eventos a trabalhar no sentido de fazer cumprir as obrigações que temos e os contratos que temos", referindo-se a João Gonçalves, o gestor que já há seis anos estivera na administração do Campo Pequeno com Paula Resende e que acabou por sair em rota de colisão com ela.
Rui Bento ainda se mantém diariamente no Campo Pequeno, no seu escritório, mas como ontem referimos já está a negociar com a nova administração a sua saía e, pelos vistos, Covões e o director-geral João Gonçalves não terão manifestado a intenção de o manter, como seria justo e lógico, no posto que ocupou nos últimos catorze anos.
Álvaro Covões não especifica quantas corridas de toiros haverá este ano em Lisboa, mas deixa claro que a praça não vai deixar de ser praça de toiros quando afirma a Rui Lavrador que "há uma obritoriedade de dar corridas, aliás isso é público".
E, sobre os processos pendentes nos tribunais e que foram instaurados pelos anteriores administradores da sociedade, a Família Borges, o novo "dono" da praça garante que "a escritura foi feita e assinada a 7 de Fevereiro e o processo seguiu normalmente", acrescentando que "todos os processos que estão na Justiça, estão na Justiça", sem que isso, nomeadamente a providência cautelar de João Borges, tenha interferido de alguma forma no normal procedimento da compra.
"Vi coisas escritas que nem sequer a escritura tinha sido feita, mas o processo seguiu normalmente", disse ainda o empresário, certamente referindo-se ao facto de aqui termos dado conta de que, pelo menos até há duas semanas, a escritura não estar ainda apensa aos autos do processo.
Apesar de algo evasivas, as declarações que Rui Lavrador conseguiu ontem obter de Álvaro Covões deixam pelo menos claro que o maior empresário do mundo musical não tem, para já, a intenção de impedir a realização de corridas de toiros no Campo Pequeno - o que seria, à partida, uma atitude impensável. Ficamos assim mais tranquilos. O novo empresário, que é o primeiro não taurino em mais de cem anos a assumir a gestão da primeira praça de toiros do país, não vai ser, como alguns temiam, o "Coveiro" da Tauromaquia. Isso já não é mau de todo.
Vamos aguardar. Diz quem sabe que "em meados deste mês de Março já haverá novidades" sobre quantas corridas se vão realizar este ano no Campo Pequeno e que empresas as irão promover. Pode ser uma só a assumir a temporada. Como podem ser várias a organizar as touradas.

Fotos Guilherme Alvarenga, revistabica.com, Emílio de Jesus/Arquivo e M. Alvarenga