quarta-feira, 4 de março de 2020

Gilberto Filipe, Campeão Mundial de Equitação de Trabalho: "É a tourear que me realizo!"

Passámos uma tarde com Gilberto Filipe e assistimos a mais um treino no
tentadero da sua quinta, onde ficou bem patente a excelente qualidade da sua
quadra para a temporada. Em baixo, quando o apoderado Leandro Flores
gravava o spot promocional da sua presença no próximo sábado no festival
taurino que se vai realizar em Alcochete


Exímio equitador, Campeão Mundial de Equitação de Trabalho, é a tourear que Gilberto Filipe se realiza. Iniciou-se há mais de vinte anos nas arenas e tomou a alternativa há dezasseis. Promete continuar. No próximo sábado inicia a temporada actuando no festival de Alcochete. E em Abril toureia em Arles na encerrona de Ventura

Miguel Alvarenga - Lembro-me, há muitos anos, do saudoso e sapiente Fernando Camacho me ter dito que "de todos estes novos que aí andam, o único que é realmente bom é o cavaleiro do Amorim", referindo-se ao então jovem praticante Gilberto Filipe, que era ao tempo apoderado e estava a ser lançado por José Carlos Amorim.
Os anos passaram, mais de vinte, Gilberto Filipe tomou a sua alternativa há dezasseis, na corrida de São Pedro da Monumental do Montijo (28 de Junho de 2004), apadrinhado por Joaquim Bastinhas com o testemunho de Luis Rouxinol, Rui Salvador, Sónia Matias e João Pedro Cerejo e dos grupos de forcados da Tertúlia do Montijo e Amadores do Montijo. Lidaram-se toiros da ganadaria Rio Frio, de José Lupi.
Três anos antes, a 29 de Julho de 2000, prestara provas para cavaleiro praticante num espectáculo realizado em Loures, alternando nessa tarde com os cavaleiros Joaquim Bastinhas, Rui Salvador e Miguel Fernandes e os matadores Vitor Mendes, Rui Bento Vasquez e Álvaro de la Calle, bem como os já desaparecidos forcados Amadores de Loures.
Destes vinte anos de toureio, fora aqueles em que actuou como cavaleiro amador, Gilberto Filipe guarda "gratas recordações" e faz um balanço "positivo":
"Hoje em dia estou também muito dedicado à modalidade de Equitação de Trabalho, dou aulas aqui ao lado da minha quinta no Picadeiro Quinta da Horta, vou dar aulas (classes) ao estrangeiro, mas a verdade é que é a tourear que me realizo e tourear é o que mais gosto de fazer. Penso que tive até aqui uma trajectória digna, posso não ter chegado no toureio ao mesmo pódium a que cheguei na Equitação de Trabalho, onde no ano passado me sagrei em Munique como Campeão Mundial, mas considero que andei sempre com dignidade nas arenas e sem nunca defraudar o público nem todos aqueles que sempre acreditaram em mim".
E é verdade. Gilberto é um toureiro bom, que nunca desilude e "fica bem" em qualquer cartel. Assisti nos últimos anos a grandes triunfos seus em várias praças e recordo uma grande actuação, creio que há duas temporadas, no Campo Pequeno.
"As coisas não estão fáceis, tenho consciência disso, mas dos muitos cavaleiros que apareceram e não eram filhos de toureiros, acho que eu e o Filipe Gonçalves somos dos poucos que nos mantivemos e que continuamos a dar a cara todas as tardes e a ombrear com os melhores", afirma.
Gilberto Filipe conseguiu, de facto, conquistar um posto entre os eleitos. Na temporada passada participou em dez corridas e este ano vai iniciar a sua campanha já no próximo sábado, dia 7, no festival que se realiza em Alcochete. "Um cartel bem rematado e atractivo", considera.
Alcochete é a sua primeira meta. A segunda será Arles, em França, onde na segunda-feira de Páscoa, 13 de Abril, actuará como primeiro sobressalente de Diego Ventura na sua encerrona, sendo o segundo o também cavaleiro português David Gomes.
"Já toureei em França, mas nunca em Arles. É uma imensa ilusão que levo comigo para essa corrida num dos principais palcos da tauromaquia mundial", diz o toureiro.
Apoderado há seis anos pelo seu amigo de infância Leandro Flores, o cavaleiro montijense afirma-se "animado e moralizado" para mais uma temporada e garante que tão cedo não se vai retirar: "Tourear realiza-me".
Tem uma quadra bem preparada, como ficou demonstrado no treino a que assisti na última sexta-feira. "Antigamente quando tinha um cavalo bom, vendia-o, havia muito mais negócios de cavalos, hoje há menos e, por outro lado, prefiro manter os que tenho para não passar pelo que passei noutros tempos: vendia os bons e depois tinha que fazer novos cavalos e muitas vezes não tinha uma quadra à altura para corresponder às exigências do público, mas ia-me safando...", explica, acrescentando que "agora sinto-me mais seguro com a quadra que tenho".
No tentadero da sua quinta, deixou bem patente a qualidade e o aprumo da quadra para 2020. Cravou mesmo um par de bandarilhas, que não correu mal, mas depois gracejou: "Isto não é a minha praia...". Ou seja, saber, sabe, mas não é uma sorte que o vamos ver interpretar nas suas actuações.
A tarde ia longa e depois do treino Gilberto rumou à Quinta da Horta, o picadeiro mesmo ali ao lado, que arrendou para transformar no seu Centro Equestre e formar novos cavaleiros.
Ao longo do ano vai andar cá e lá em provas equestres, mas vai continuar a marcar presença nas arenas. A sua vida são os cavalos. Na última Feira da Golegã, conquistou em diversas modalidades a esmagadora maioria dos prémios que estavam em disputa. Nas arenas vai prosseguir a sua carreira, porque é vestido de toureiro e a enfrentar os toiros que se sente "realizado" e que desfruta dessa vida por que se apaixonou ainda em criança. Nasceu para ser toureiro.

Fotos M. Alvarenga