Miguel Alvarenga - Os últimos foram ontem os primeiros no agradável festival do Coliseu do Redondo, falo dos triunfadores Brito Paes e Ribeiro Telles, numa tarde onde apenas houve a lamentar a falta de público nas bancadas, sinal dos tempos, sinal, talvez, da falta de dinheiro, sinal (preocupante) de que o público começa a fartar-se de ver sempre os mesmos? Mas a realidade é que ontem tínhamos um cartel atractivo, com a novidade Gamero, os consagrados Filipe Gonçalves e Rouxinol Júnior, as promessas Mara Pimenta, Joaquim Brito Paes e António Ribeiro Telles (filho), e a verdade é que os aficionados nem assim "meteram a cabeça"...
Já aqui falei de Emiliano Gamero. Vou agora falar dos cavaleiros portugueses. E começo pelo fim.
Joaquim Brito Paes convenceu-me desde a primeira hora. Aliás, pese embora o valor dos seus antecessores e o facto de ainda estar em actividade seu valoroso irmão António Maria, a realidade é que a dinastia Brito Paes tem a significativa particularidade de melhorar de geração em geração e o jovem Joaquim é disso o exemplo maior. Está apto e mais que apto para a alternativa que, tudo indica, ocorrerá na corrida inaugural da temporada do Campo Pequeno.
Os toiros da ganadaria Ribeiro Telles, de que já aqui falei do longo do dia, tiveram nota altíssima ontem no Redondo. Bem apresentados para um festival, a porem mudanças, a exigirem e a proporcionarem, pelo seu excelente comportamento, óptimas e aplaudidas lides a cavaleiros e forcados. Merecia ter sido chamado à praça o representante da divisa. Mas há tantas coisas que são merecidas e ficam esquecidas na nossa Festa...
Brito Paes lidou um exemplar que se arrancava de todos os terrenos e fê-lo com inteligência e saber, dando prioridade ao oponente, citando-o de praça a praça, deixando-o arrancar, indo ao seu encontro para depois fazer a batida ao piton contrário e deixar ferros de muita emoção e valor.
Uma coisa é atacar os toiros, outra é esperar por eles, provocá-los, deixá-los arrancar, indo-lhe à cara com a decisão e a verdade com que o fez ontem Joaquim Brito Paes. Lide brilhante, mais um passo em frente de um bom cavaleiro que está a subir os degraus da fama e não duvido de que rapidamente chegará à primeira fila.
E o mesmo digo do novo António Telles, o audaz e ousado filho do Maestro dos Maestros, que toureia com a classe e a autenticidade dos da sua ilustre Família, demonstrando ontem, também, que tem tido uma notável evolução e que está apto e mais que apto para aquele que vai ser o primeiro grande desafio da sua ainda tão nova e ascendente carreira, já no próximo domingo 10 de Abril, em Almeirim, com os consagrados Luis Rouxinol e Pablo Hermoso de Mendoza, nem mais!
Ontem, António enfrentou um toiro "da casa", também com qualidade e casta, que lidou primorosamente, com bonitos e bem executados detalhes de grande brega e temerárias entradas "pelo oponente dentro", colocando ferros que agitaram o público e a todos deram a verdadeira dimensão do valor e da raça deste novo e valoroso Ribeiro Telles. Muito bem, António!
Abriu praça Filipe Gonçalves, que ainda não tem novo apoderado e me confessou que é capaz de ficar sózinho nesta temporada, mais uma feita à base do seu imenso valor e já com vários contratos assegurados. Toureiro dos que não gostam de perder nem a feijões, o valoroso Filipe esteve igual a si próprio, encastado, a tourear de verdade, a colocar emoção nas sortes e a triunfar, como é seu timbre.
Estreou ontem o "Taco", um cavalo novo na sua quadra, com o ferro do seu amigo Diego Ventura, que promete dar que falar nas próximas corridas. O público esteve com ele, como sempre está, mercê da empatia e da simpatia com que chega às bancadas, mas sobretudo pelo impacto do seu toureio de valor.
Luis Rouxinol Júnior iniciava ontem a temporada "de todas as injustiças", em que está, incompreensivelmente, afastado dos primeiros grandes cartéis que já são conhecidos nas principais praças, como ele próprio referiu no início da semana na entrevista ao site "Tauronews".
Teve um princípio de actuação algo irregular, deixando um segundo comprido muito traseiro, mas depressa se emendou e se encastou, abrindo o livro e deixando o perfume da sua arte, da sua muita raça toureira e da força com que impôs, em tão poucos anos de alternativa, a certeza de que não seria apenas "o filho do Maestro Rouxinol", fazendo valer a sua indomável vontade e o seu querer e afirmando-se com um estilo próprio. Actuação muito aplaudida e que, como sucedeu com todos os companheiros, foi premiada com música pelo diligente director de corrida Domingos Jeremias.
A jovem Mara Pimenta deu tudo de si na lide, aplaudida, de outro bom exemplar da ganadaria Ribeiro Telles, pautada por altos e baixos no início, mas que depois veio a mais e terminou em beleza. Certamente. motivada com o incentivo de ter agora um novo apoderado (que também é empresário), José Luis Zambujeira, a cavaleira de Almeirim voltou ontem no Redondo a prometer um futuro risonho.
Foi assim o festival de ontem no Redondo, marcado ainda, como na primeira crónica aqui sublinhei, pela diferença de Emiliano Gamero, que deixou claro que vem trazer uma lufada de ar distinto na tauromaquia lusa e pode contribuir, como muitos dos nossos, para que a Festa saia do marasmo em que, às vezes, parece ter adormecido.
Uma nota final para aplaudir todos os bandarilheiros que integraram ontem as quadrilhas dos seis cavaleiros, com destaque para os veteranos João Ribeiro "Cuqui" e Manuel dos Santos "Becas", para Cláudio Miguel, António Telles Bastos e João Martins - sem desprimor pelos restantes.
Foto M. Alvarenga