domingo, 4 de outubro de 2015

Elvas: Caetano e Moura deixam recado para 2016

Moura e Caetano, uma dupla para 2016. Salgueiro da Costa, um toureiro a ferver!
Caetano brindou a sua última actuação de 2015 à sua equipa: ao apoderado João
Pedro Bolota
, aos bandarilheiros "Parrita" e Pedro Paulino e ao moço de espadas
Sérgio Batista
Faltou este ano a Moura Caetano um grande triunfo em Lisboa, mas sobraram
êxitos e prémios em todas as praças onde impôs a sua arte
Moura brindou a sua última faena de 2015 em arenas nacionais a sua noiva,
Concha Rodríguez, com quem casa no próximo sábado
Temple, quietude, raça e muita arte! João Moura Júnior terminou a temporada
nacional com duas grandes lições na 6ª feira em Elvas
Momentos altos e de grande emoção das lides de Salgueiro da Costa - que de um
momento para o outro pode explodir. Todos esperamos por isso!
Os Forcados Académicos de Elvas comemoraram o seu 15º aniversário
João Bandeiras ficou inanimado na arena ao tentar pegar o primeiro toiro da
corrida, recuperando os sentidos já na trincheira
A grande pega de João Restolho ao quinto toiro. A melhor da noite
Brilhante a última pega de Tadeu Lopes, que a seguir entregou a jaqueta ao cabo
e, emocionado (fotos de baixo) recebeu calorosa ovação nos médios




Miguel Alvarenga - Noutros tempos (da fidalguia...) os toiros tinham o peso justo e não deixava por isso de haver emoção nas corridas. Lembro-me dos grandes êxitos de Batista, de Veiga, de Zoio com toiros de 420, 430 quilos e foi também com toiros desses que fizeram história em Lisboa nomes famosos como "Paquirri", Dámaso González, "Niño de la Capea", Ruiz Miguel e tantos mais. Quando apareciam toiros de 500 quilos era dia de festa na aldeia. Normalmente eram os Prudêncio, na Corrida das Vindimas de Almeirim, os maiores toiros de cada temporada. Lembro-me de um pegão histórico do José Luis Gomes nessa corrida que tinha fama e por forma enchia a praça. Foi nos anos 80 que a dupla empresarial formada por Rogério Amaro e "Nené" modificou as coisas e passou a anunciar as corridas do toiro-toiro, apresentando animais (entretanto criados pelos senhores ganadeiros com esse objectivo) de 500 e 600 quilos. Aculturou-se a ideia de que o toiro-bisonte era mais perigoso, sobretudo para os forcados. Mas a verdade é que o toiro com esse exagerado peso, veio depois a provar-se e em Espanha está também neste momento a ser altamente contestado, tem muito menos mobilidade e até menor agressividade. E assim, como seria um dia de prever, está-se a voltar ao toiro com a morfologia adequada e o peso normal. Ainda bem.

Triunfo da ganadaria Pontes Dias

Isto tudo, meus amigos, para dizer que foram notáveis os toiros da ganadaria Pontes Dias lidados sexta-feira em Elvas. Com pesos e apresentação q.b., sem tamanho exagerado e também sem portestos do público por isso, os toiros tiveram mobilidade, comportamento notável, pimenta e bravura, investiram com alegria para os cavalos, de todos os terrenos e ainda deram água pela barba aos forcados - o que comprova o que anteriormente escrevi. Não é o peso-pesado que emociona.
Exceptuando o sobrero, que Salgueiro lidou no fim - por o seu toiro ter saído à arena diminuído - e que foi um toiro desinteressado e distraído, os outros cinco serviram na perfeição, como se usa agora dizer, tiveram raça e nobreza e proporcionaram êxitos aos toureiros e, como disse, algumas dificuldades ao grupo de forcados.

Moura Caetano: raça e decisão

A competição entre Caetano e Moura deixou portas abertas para cartéis no próximo ano. Os dois, com João Telles e o renovado Marcos Bastinhas, podem constituir um quarteto interessante para assegurar alguma rivalidade na temporada que vem.
A João Moura Caetano faltou apenas redondear este ano uma temporada que teria maior importância se tem pisado a arena de Lisboa. Apesar de não ter estado no Campo Pequeno, marcou por êxitos as presenças noutras praças e conquistou uma série de prémios que lhe dão um palmarés invejável neste ano de 2015.
Sexta-feira em Elvas demonstrou a sua raça e a sua decisão ao esperar o primeiro toiro de praça a praça, sem bandarilheiros, aguentando, dando toda a vantagem e quarteando-se depois num palmo incrível de terreno para deixar o primeiro comprido de forma magnífica e o público em alvoroço nas bancadas. Uma coisa assim merecia logo música, mas o director deixou arrastar, só a concedendo ao segundo ou terceiro ferro curto...
O segundo comprido foi igual, de praça a praça e a dar todas as vantagens ao toiro e, nos curtos, Caetano armou o taco e consagrou-se num triunfo daqueles que marcam. Voltou a estar em grande plano no quarto da ordem, outro bom exemplar de Pontes Dias e deixou a mensagem de que pode e tem que entrar no próximo ano nas grandes competições da temporada. Tem uma quadra de cavalos fora do vulgar e está num momento "cumbre".

Moura reafirma liderança com vantagem e autoridade

João Moura Júnior é o triunfador nato desta temporada - com vantagem e autoridade. Palcos importantes como os de Lisboa, de Sevilha e de Madrid, consagraram-no como primeiro e em todas as praças em que se apresentou arreou forte e afirmou-se seguramente e serenamente como um toureiro de valor e risco, dos que assustam e comovem. Em Elvas, deu mais duas lições de temple, de ousadia e de querer, não deixando dúvidas a ninguém: foi e é, de facto, o grande líder desta temporada de 2015.
Esteve enorme a bregar e a lidar, cravou em terrenos de compromisso e rematou todos os ferros com o perfume artístico do toureio mourista. Melhor é impossível.
A última lide brindou-a a Concha Rodríguez, sua noiva, com quem casa no próximo sábado, dia 10. E vestiu uma casa azul veludo, bordada a ouro, que foi a prenda de casamento de Concha. Um pormenor, apenas - mas que não deixa de ser importante mencionar, da mesma forma que já ontem aqui referimos que Moura Caetano fechou a sua temporada vestindo a casaca verde veludo bordada a ouro (desenhada por sua Avó, Dª Marília Lurdes Caetano) que seu Pai, Paulo Caetano, usou há 35 anos na tarde da sua recordada alternativa em Santarém.

Continuamos à espera de Salgueiro...

João Salgueiro da Costa não foi propriamente um mero figurante numa noite que mais pareceu um mano-a-mano de Caetano e Moura. Esforçou-se, arrimou-se, emocionou, cravou dois grandes ferros no terceiro da ordem, mas, imprevisível como sempre, aliou o muito bom ao assim-assim. No último, o sobrero de pouca qualidade, fez tudo por tudo e pôs tudo de si para triunfar, colocando-se do outro lado da praça, procurando imprimir verdade às sortes, mas o toiro não colaborou e Salgueiro esteve apenas regular, cumprindo a ferragem, sem um destaque por aí além.
É um toureiro que pode explodir a qualquer momento, continuo a acreditar nas suas imensas potencialidades mas, caramba, já cá anda há muitos anos e nunca mais passa de uma promessa. Vou terça-feira a Vila Franca com a expectativa de o ver finalmente afirmar-se e distanciar-se deste "meio termo" em que tem andado. Força, Joãozinho!

Académicos de Elvas comemoraram aniversário

Os Forcados Académicos de Elvas, fundados há quinze anos por Iván Nabeiro e que tiveram trajectória e obra feita além-fronteiras, com triunfos em Portugal, Espanha, França e Venezuela , assinalavam o seu aniversário e deixaram-no marcado com uma actuação que não se pode dizer que tenha sido absolutamente triunfal, mas que teve na quinta pega, por João Restolho, ao primeiro intento e com valorosa intervenção, o seu momento mais alto e na despedida de Tadeu Lopes, que pegou também à primeira o quarto toiro, o mais emotivo pormenor da noite.
De resto, nem sempre as ajudas estiveram à altura dos forcados de cara e os toiros de Pontes Dias, cheios de raça e de força, em nada facilitaram no momento das pegas.
O primeiro toiro foi pegado por Luis Machado na sua primeira tentativa e sem dificuldades de maior, depois de João Bandeiras ter ficado inanimado na arena quando o tentou pegar, recuperando os sentidos já depois de levado para a trincheira.
A segunda pega foi de cernelha e a cargo do cabo António Patrício e do rabejador Tiago Mimoso, executada depois de um tempo sem fim em moldes pouco ortodoxos e com o eficiente bandarilheiro Diogo Malafaia a substituir os cabrestos com o seu capote, fixando o toiro e permitindo que a dupla entrasse.
André Bandeiras pegou o terceiro toiro à segunda e Gonçalo Machado fechou-se com o sexto à terceira e já bem maltratado, com o grupo sempre mal a ajudar.

Direcção meio descoordenada...

Marco Gomes dirigiu a corrida assessorado pelo médico veterinário Dr. José Miguel Guerra. Teve altos e baixos e desta vez revelou alguma descoordenação. Cada uma veste-se como quer e a mais não é obrigado, mas o director excedeu-se ao apresentar-se no lugar do "inteligente" trajado como se tivesse ido beber um copo a uma discoteca, de casaco claro e calças vermelhas. Enfim...
Demorou a premiar com música as duas primeiras brilhantes actuações de Caetano e de Moura. E tardou, assim como o veterinário, em tomar a decisão de mandar recolher o último toiro, que saíu à arena manifestamente inferiorizado e meio descoordenado - como aliás, estiveram as coisas lá pelo palco da direcção de corrida...
Depois, mandou sair os cabrestos quando Salgueiro ainda estava em praça e só por pouco o cavaleiro não chocou com os animais quando se dirigia para a porta de saída...
De resto, a corrida foi agradável, deixou marcas para a próxima temporada no que diz respeito ao interesse da rivalidade Caetano/Moura, não teve grande assistência (meia casita, um cartel assim merecia bem mais, mas a Feira de S. Mateus já se foi e este festejo estava, por isso, fora de prazo...) e também não entendeu muito bem por que razão o director de corrida se esqueceu de autorizar, uma que fosse, a merecida volta à arena do ganadeiro Pontes Dias. Coisas...

Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com