sexta-feira, 6 de maio de 2016

Leia agora: a entrevista de Miguel Alvarenga ao jornal "Olé!"




Miguel Alvarenga, 57 anos de idade, 40 anos de jornalismo. Com um estilo próprio de escrita, uma postura de verdade doa a quem doer, cedeu-nos uma entrevista nesta data marcante. Parabéns, Miguel!

Entrevista de Luis Miguel Pombeiro

- Viemos entrevistar-te porque não estávamos nas bancas quando comemoraste 40 anos de Jornalismo. Conta-nos um pouco da tua história, que jornais, etc. etc.
- Cedo me apercebi de que a escrita e o jornalismo eram a minha paixão. Eu acho que não se aprende a ser jornalista, nasce-se jornalista, depois podemos aperfeiçoar-nos, como em tudo na vida. Comecei cedo, escrevia no jornal da minha turma no Colégio Valsassina, depois comecei a publicar uns artigos no jornal "Cidade de Tomar", cidade de onde a minha Família, pelo lado paterno, é natural. E em 1976 iniciei-me a sério, com 18 anos, no jornal "O Diabo", fazendo parte, como estagiário, da equipa dirigida por Vera Lagoa e que nesse ano fundou o jornal, vão passados exactamente 40 anos. Passei por outros jornais, nomeadamente por "A Rua" e "O Crime" (de que fui director), depois fundei "O Título", o "Festa Brava" e mais tarde o "Farpas", que se mantém agora em formato digital.
- Na Tauromaquia consideras-te mais aficionado ou mais jornalista?
- Primeiro que tudo, jornalista. Logo, aficionado. Mas confesso que, como as coisas estão hoje em dia, sou muito menos aficionado do que era quando comecei, quando com 7 ou 8 anos comecei a ir aos toiros com meu Pai. Ser aficionado, hoje em dia, é o mesmo que ser Madre Teresa de Calcutá... Suporta-se tudo com cara de bondade...
- Colocam-te o epíteto de "polémico". Achas que o és?
- Se ser polémico é, como Vera Lagoa me ensinou, não arquivar queixas da gaveta, pôr o dedo nas feridas quando é preciso pô-lo, denunciar os escândalos e contar as verdades, por mais incómodas que sejam, então, sim, sou polémico. Podem chamar-me muitas coisas, nunca me importei com o que dizem de mim. Desde que me leiam... e, na verdade, lêem!
- Abusas da tua liberdade de Jornalista?
- Já fui acusado disso... mas continuo a dormir descansado e ando de consciência tranquila. Graças a Deus!
- Muitas vezes és mal entendido?
- Muitas vezes há quem, propositadamente, não me queira entender... ou prefira fazer outras interpretações e tirar as ilacções que lhe são mais propícias, do que eu falo ou escrevo. Mas eu suporto bem essas más interpretações, já estou habituado há anos e continuo a ser à prova de bala...
- Como vês o actual momento da nossa Festa?
- Mal. Há raríssimos empresários a sério, como havia, noutro tempo, homens como Manuel dos Santos, Alfredo Ovelha, Manuel Gonçalves e tantos mais. Há raríssimos empresários a sério e há muita gente a dar corridas. Há interesses, trocas e baldrocas, está tudo ao revés. Quem triunfa não é repetido, quem tem valor fica em casa. Enfim, isto precisava de levar uma volta radical. Há um assustador amadorismo na Festa em Portugal, há muito poucos profissionais e por isso isto está como está. E não evolui. Basta dizer que as corridas continuam a ser pessimamente promovidas, com os mesmo cartazes dos anos 60, sem o recurso às novas tecnologias... e isto é o único espectáculo onde à noite se vendem bilhetes para... o sol e para a sombra! Acho que está tudo dito... e assim...
- Os jovens vão vingar?
- Que remédio têm eles! Se não vingarem, têm que ir para casa, não podem andar aqui a arrastar-se... Hoje já nenhum toureiro tem força para levar gente às praças e a realidade é que os veteranos ainda são quem maior interesse desperta. Há muitos toureiros bons entre os jovens, mas todos eles têm ainda um longo percurso a percorrer até chegarem aos calcanhares dos pais. E isto, falando dos que são filhos de figuras...
- E as empresas?
- Como disse anteriormente, há muito amadorismo e poucos empresários a sério.
- Achas que há corridas a mais?
- Acho que sim. O Júlio Iglésias enche o Pavilhão Atlântico, agora denominado Meo Arena, porque só cá vem cantar quando o rei faz anos. O Toni Carreira enche-o porque só ali se apresenta uma vez por ano. Se fossem lá cantar todas as semanas aquilo estava vazio. E na tauromaquia é igual, tem que haver profissionalismo. E isso passa por uma redução drástica, mas drástica mesmo, do número de corridas. Não quero exagerar e isso seria impensável, mas se houvesse vinte corridas de toiros por ano em Portugal, estavam esgotadas e a tauromaquia passaria a ser um acontecimento, como o são os concertos musicais. Agora, com corridas "todos os dias" em localidades ao lado umas das outras e sempre com os mesmos nomes, como querem que isto volte a ter prestígio, grandeza, glamour?...
- És saudosista?
- Sou doentiamente saudosista e defenderei até morrer que antigamente tudo era bom e hoje é quase tudo mau. O progresso, as tecnologias modernas, tudo isso é horrível. Prefiro uma máquina de escrever a um computador, uma máquina fotográfica daquelas a sério a uma "metralhadora digital" com as que se usam hoje e que fazem até de um macaco um grande fotógrafo, já que em cento e tal disparos num ferro, há-de haver sempre uma grande foto! No que às corridas e à tauromaquia diz respeito, antigamente, repito, isto era um mundo de grandeza, de glamour, de respeito... hoje é uma balda total, onde todos podem entrar e querer mandar, onde qualquer um penetra sem ter nada a ver com este mundo. Estamos ao deus-dará... em todas as vertentes da Festa e em todas as suas frentes. Infelizmente, é impossível não ser saudosista!

Foto Ana de Alvarenga/Arquivo