O momento emotivo da passagem de testemunho de Filipe Pires a seu primo Manuel Pires, novo cabo do grupo após dez anos de liderança do cabo fundador |
Antigos e actuais elementos fardaram-se na 2ª feira para participar na corrida comemorativa do 10º aniversário dos Forcados do Ramo Grande |
Luis Valadão pegou à segunda o primeiro toiro de António Silva, dando aplaudida volta à arena com Luis Rouxinol |
Miguel Alvarenga - O Grupo de Forcados Amadores do Ramo Grande, segundo grupo existente na Ilha Terceira, este representando a Praia da Vitória, comemorou com uma actuação a todos os títulos memorável e com uma tremenda dignidade, os seus 10 anos de existência na corrida que segunda-feira se celebrou, com praça cheia, na Monumental de Angra do Heroísmo e que foi a segunda das Festas da Praia.
Já na primeira corrida, na noite de sexta-feira, o novo cabo do grupo, Manuel Pires, fizeram uma pega "do outro mundo", ganhando muito merecidamente o troféu que premiava a melhor pega da noite, em jornada de muita competição com os grupos continentais de S. Manços e de Arronches, que tiveram igualmente momentos de grande triunfo com pegas brilhantes, honrando as respectivas jaquetas e a forcadagem alentejana - como oportunamente aqui referimos.
Na segunda-feira o dia era de festa para os Forcados do Ramo Grande e para a Tauromaquia Terceirense. O grupo não só comemorava o seu 10º aniversário como mudava de cabo, despedindo-se Filipe Pires, cabo fundador e entrando em funções seu primo Manuel Pires, um dos grandes forcados do momento.
Homenageado ao início da corrida pela Câmara Municipal da Praia da Vitória, que o distinguiu com a Medalha de Mérito Cultural, Filipe Pires teve depois durante toda a corrida o carinho e o respeito do público e dos seus forcados, assim como dos três cavaleiros em praça, Luis Rouxinol, Tiago Pamplona e João Moura Júnior, que lhe dedicaram as suas lides, bem como ao novo cabo Manuel Pires.
Interviu, dando ajudas, na quinta pega da corrida, a do seu sucessor, acabando por se ferir ao ser colhido e projectado contra as tábuas, mas felizmente sem gravidade. Foi depois ao centro da arena e despiu a jaqueta que souve honrar e elevar com brio e dignidade ao longo de uma década, entregando-a a Manuel Pires, que a partir de agora assume o comando do grupo. Em ambiente de enorme emoção, Filipe Pires deu depois uma volta à arena acompanhado de todos os elementos do grupo e sózinho ficou no centro da praça, com o público todo de pé a aplaudi-lo, lágrimas nos olhos, em reconhecimento pelo brilhante desempenho de que foi protagonista durante os últimos dez anos.
O trabalho de Filipe Pires sentiu-se ao longo das seis grandes pegas dos Amadores do Ramo Grande, hoje um dos grandes grupos do país, não tenho a menor dúvida em afirmá-lo. E a ele se deve esse destacado estatudo de que o grupo se pode hoje orgulhar de ter atingido.
Mais: é de inteira justiça louvar o facto de o grupo ter eleito para a corrida comemorativa dos seus 10 anos um curro imponente de uma ganadaria dura e séria, a continental dos Herdeiros do Dr. António Silva, de Coruche, toiros de verdade, exigentes e a espalhar emoção, toiros dos que pedem contas a toureiros e a forcados e com os quais os Amadores do Ramo Grande tiveram uma digna e triunfal actuação. Bastará dizer que a corrida foi de um sucesso enorme e que terminou com todos os artistas, cavaleiros e o grupo de forcados, na arena, bem como a jovem representante da ganadaria, Sofia Silva Fava, com o público a aplaudir entusiasmado aquela que foi uma das tardes de maior apoteose dos últimos anos na Monumental de Angra do Heroísmo. Há muitos anos, comentava-se à saída da praça, que não se via um curro de toiros tão sério como este na Ilha Terceira!
Os forcados de cara foram, como já aqui referimos, Luis Valadão (que executou a pega ao segundo intento, depois de um forte derrote na primeira tentativa), Daniel Brasil (numa emotiva e tecnicamente perfeira pega à primeira, em que o toiro fez o pino, rodando o forcado, sem que este saísse da cara), Carlos Silva (à segunda), o veterano Alex Rocha (com uma pega brilhante, em que recuou templando a investida, fechando-se com braços de ferro, com o grupo a ajudar coeso e bem), o novo cabo Manuel Pires (que voltou a fazer um pegão!) e César Pires (também numa valente e bem executada pega ao primeiro intento, a única de que não temos imagens).
Destaque para o impressionante silêncio do público no momento das pegas. Se cair um alfinete na arena ouve-se. Chama-se a isso o culto e o respeito pelo Forcado Amador. Em poucas praças assisti a um silêncio assim. De arrepiar.
Tarde brilhante e de plena consagração para os Forcados Amadores do Ramo Grande - que no próximo fim-de-semana pegam na Feira da Graciosa e a 9 de Setembro actuam na corrida concurso de ganadarias na praça da Nazaré. E já que vêm por essa altura ao continente, deixo a sugestão à empresa do Campo Pequeno: depois deste memorável triunfo e de estarem nesta temporada a comemorar o seu 10º aniversário, impunha-se que viessem a Lisboa, onde há uma corrida no dia 7. Fazia todo o sentido. E o grupo merece!
Fotos António Valinho, Paulo Gil e M. Alvarenga