terça-feira, 18 de setembro de 2018

Juan José Padilla, a entrevista: 25 anos de toureio, 39 cornadas e muitas bênçãos de Deus

Padilla abriu três vezes a porta grande do Campo Pequeno para por ela sair
apoteoticamente em ombros. Esta quinta-feira regressa para se despedir dos
aficionados portugueses
Juan José Padilla com a Drª Paula Mattamouros Resende, administradora
da empresa do Campo Pequeno
"Recordo e agradeço a entrega do prémio de triunfador na temporada de 2016
e o facto de, no dia da entrega, num jantar no Campo Pequeno, ter sido levado
em ombros pelos aficionados presentes, encontrando-me vestido à paisana"
Padilla com Rui Bento e Miguel Alvarenga quando recebeu na praça do Campo
Pequeno o Troféus "Farpas/Volapié" como triunfador da temporada de 2016


Caso único na História do Toureio, exemplo de coragem, tenacidade e fé, Juan José Padilla despede-se do público português esta quinta-feira no Campo Pequeno. A entrevista, antes do adeus

O matador de toiros espanhol Juan José Padilla decidiu retirar-se das arenas no final da temporada e incluiu o Campo Pequeno na lista de praças de cujo público gostaria de se despedir.
A data da despedida é esta quinta-feira, numa corrida mista em que Padilla repartirá cartel com os cavaleiros João Moura Caetano e Duarte Pinto e os grupos de forcados Amadores de Santarém e Amadores de Montemor, lidando-se toiros de Herdeiros de Mário e Manuel Vinhas (quatro para cavalo) e Herdeiros de Varela Crujo (dois para pé).
A este propósito, colocámos algumas questões a Juan José Padilla que satisfez a nossa curiosidade com a disponibilidade e a entrega com que enfrenta o toiro.

- Quando tomou a decisão de se retirar no final desta temporada?
- No ano passado, após a Feira del Pilar, disse à minha família e aos meus pais, que em 2018 faria 25 temporadas em activo e pareceu apropriado que no final da temporada me despediria das arenas, depois de ter recebido do toureio mais do que alguma vez sonhara.
- Que balanço faz desta temporada de despedida?
- Mais do que um balanço, ficam as recordações de grandes e sentidas emoções. Não houve uma única praça onde não tivesse havido um detalhe que guarde na memória. O público mostrou ter memória e tem sido muito grato comigo. Grato e respeitoso. Tudo isto tem sido também possível por muitas das empresas terem querido contar com a minha presença nos cartéis desta temporada.
- Porque incluiu Lisboa nesta gíria de despedida?
- Criei uns laços muito profundo com Lisboa, depois dos triunfos que obtive no Campo Pequeno. A forma como o público e a empresa me têm tratado tem sido espectacular. Aproveito para recordar e agradecer a entrega do prémio de triunfador na temporada de 2016 e o facto de, no dia da entrega, num jantar no final desse ano, no Campo Pequeno, ter sido levado em ombros pelos aficionados presentes, encontrando-me vestido de “paisano”.
- Como sente o público do Campo Pequeno?
- Antes de mais, quero agradecer a Rui Bento Vasques a oportunidade que me deu para me apresentar no Campo Pequeno. Tinha um desejo especial de tourear em Lisboa, pela categoria da sua praça e da sua afición, uma afición tão exigente quanto sensível, que me emociona e apaixona pela sua entrega.
- Que mais aprecia no Campo Pequeno?
- A tudo o que já referi, acrescentaria ainda as suas fantásticas instalações e a sua inigualável arquitectura...
- Qual o momento mais importante da sua trajectória profissional e o mais dramático?
- Durante as minhas 25 temporadas de matador de toiros tive de todos os momentos que se podem viver numa carreira larga e de muito risco, mas igualmente recheada de grandes emoções. Tive muitas bênçãos de Deus e, quando digo isto, é porque estou convencido de que o sofrimento é parte da glória. Se é verdade que paguei com graves cornadas esse tributo à glória, como aconteceu em Huesca, Pamplona, Valencia e Zaragoza (a mais grave de todas) também tive imensas bênçãos divinas como foram as saídas em ombros pela Porta do Príncipe (Sevilha), o indulto de um toiro na Praça México, ser triunfador nos “Sanfermines” em vários anos, ter liderado o “escalafón” em três temporadas, são ocasiões que significam para mim a recompensa pelo meu esforço
- Quantas cornadas sofreu ao longo da sua carreira?
- 39 cornadas contando as de alguns tentaderos.
- Que balanço faz da sua trajectória profissional?
- Sinto-me feliz e orgulhoso de tudo quanto vivi na minha profissão. Nunca imaginei que poderia merecer tanto respeito e admiração da parte dos meus companheiros e, em geral de toda a sociedade e essa é a maior satisfação que podemos levar no momento da retirada.
- Como gostaria que os aficionados o recordassem?
- A essa pergunta, não deveria ser eu a responder…
- Que conselho daria a um jovem que queira ser toureiro?
- Que com disciplina, constância e tenacidade tudo se consegue...
- E depois do adeus às arenas…?
- Estarei sempre nas mãos de Deus. Agora estou concentrado naquilo que me compete que é deixar a melhor das recordações em cada uma das arenas que piso.
- Gostaria de deixar uma mensagem de despedida aos aficionados portugueses?
- Admiro e respeito os aficionados portugueses. Agradeço-vos de todo o coração todas as mostras de carinho e respeito que de vós recebi. Se Deus quiser, continuaremos a ver-nos, pois embora o traje de luces fique guardado, a minha pessoa continuará a apoiar e a desfrutar da festa de toiros, da nossa cultura e estarei sempre pronto para visitar Lisboa.

Fotos Frederico Henriques/@Campo Pequeno, Emílio de Jesus e Maria Mil-Homens