"Manda tradição arreigada no espírito do aficionado lisboeta que, em Domingo de Páscoa haja toiros na muito bela praça de toiros do Campo Pequeno, monumento rubro à coragem e valentia da gente do toureio. E essa tradição tem sido religiosamente cumprida ao longo de muitas décadas com essa corrida tão castiça como é a que ficou populosamente conhecida por 'corrida dos palhinhas', o característico chapéu de palha armada que usavam outrora os aficionados que 'presumiam' e não vinham, afinal, a mais nenhuma corrida ao longo da temporada... A corrida, então, era motivo de alegre romaria à praça que ainda ficava fora de portas e que é hoje - como o tempo anda!... - um dos centros vitais da grande urbe. Mas se o progresso mudou a fisionomia do local e revolucionou os costumes, a praça e a tradição taurina de Domingo de Páscoa permaneceu" - lia-se no texto da autoria do jornalista José Sampaio, ao tempo o Relações Públicas da empresa do Campo Pequeno, assumida pelo filho do falecido (um ano antes) Manuel dos Santos, Manuel Jorge Diez dos Santos, por Américo Pena, José Cardal, Alfredo Ovelha e o Dr. Paulo Rodrigues, no verso do programa da corrida de inauguração da Temporada de 1974 em Lisboa, no Domingo de Páscoa, 14 de Abril. Faltavam apenas 11 dias para a "revolução" de 25 de Abril e esta foi, há 40 anos, a última corrida realizada em Lisboa sob a égide do Estado Novo.
40 anos depois, o progresso voltou a revolucionar os costumes e a tradição da famosa "corrida dos palhinhas" foi-se perdendo com o tempo até deixar de existir. Nunca mais se inaugurou a Temporada no Campo Pequeno pelo Domingo de Páscoa...
Com oito "gordos e bonitos" toiros da ganadaria de Dª. Maria Ana Passanha, tourearam neste dia os cavaleiros Manuel Conde e José Maldonado Cortes e os matadores Fernando dos Santos e o espanhol "Carnicerito de Úbeda", tendo as pegas estado a cargo dos Forcados Amadores do Ribatejo, então comandados por Rui Souto Barreiros. Os bilhetes mais caros (barreiras) custavam 300 escudos (um euro e cinquenta cêntimos...) e os mais baratos, nas galerias, tinham o preço de 50 escudos (25 cêntimos...). "Como o tempo anda!", tal como escrevia José Sampaio no texto de apresentação desta corrida...