sexta-feira, 28 de março de 2014

1974: a última tourada do Estado Novo no Campo Pequeno



"Manda tradição arreigada no espírito do aficionado lisboeta que, em Domingo de Páscoa haja toiros na muito bela praça de toiros do Campo Pequeno, monumento rubro à coragem e valentia da gente do toureio. E essa tradição tem sido religiosamente cumprida ao longo de muitas décadas com essa corrida tão castiça como é a que ficou populosamente conhecida por 'corrida dos palhinhas', o característico chapéu de palha armada que usavam outrora os aficionados que 'presumiam' e não vinham, afinal, a mais nenhuma corrida ao longo da temporada... A corrida, então, era motivo de alegre romaria à praça que ainda ficava fora de portas e que é hoje - como o tempo anda!... - um dos centros vitais da grande urbe. Mas se o progresso mudou a fisionomia do local e revolucionou os costumes, a praça e a tradição taurina de Domingo de Páscoa permaneceu" - lia-se no texto da autoria do jornalista José Sampaio, ao tempo o Relações Públicas da empresa do Campo Pequeno, assumida pelo filho do falecido (um ano antes) Manuel dos Santos, Manuel Jorge Diez dos Santos, por Américo Pena, José Cardal, Alfredo Ovelha e o Dr. Paulo Rodrigues, no verso do programa da corrida de inauguração da Temporada de 1974 em Lisboa, no Domingo de Páscoa, 14 de Abril. Faltavam apenas 11 dias para a "revolução" de 25 de Abril e esta foi, há 40 anos, a última corrida realizada em Lisboa sob a égide do Estado Novo.
40 anos depois, o progresso voltou a revolucionar os costumes e a tradição da famosa "corrida dos palhinhas" foi-se perdendo com o tempo até deixar de existir. Nunca mais se inaugurou a Temporada no Campo Pequeno pelo Domingo de Páscoa...
Com oito "gordos e bonitos" toiros da ganadaria de Dª. Maria Ana Passanha, tourearam neste dia os cavaleiros Manuel Conde e José Maldonado Cortes e os matadores Fernando dos Santos e o espanhol "Carnicerito de Úbeda", tendo as pegas estado a cargo dos Forcados Amadores do Ribatejo, então comandados por Rui Souto Barreiros. Os bilhetes mais caros (barreiras) custavam 300 escudos (um euro e cinquenta cêntimos...) e os mais baratos, nas galerias, tinham o preço de 50 escudos (25 cêntimos...). "Como o tempo anda!", tal como escrevia José Sampaio no texto de apresentação desta corrida...