Rouxinol em triunfo - ele não sabe estar mal... |
Cerejo em Lisboa com muita dignidade |
Moura Caetano está um toureiro sólido, confiante, triunfador |
Não foi fácil, mas resultou brilhante, a pega de Joel Zambujeira (Cascais) |
Henrique Ferreira, dos Amadores de Tomar |
Miguel Alvarenga - A corrida de ontem no Campo Pequeno, de homenagem ao emigrante, voltou a registar uma excelente afluência de público nas bancadas e foi, para quem o viu na praça e para quem o acompanhou através de TVI (com os idóneos comentários de Joaquim Grave e o oportuno sentido jornalístico de José Manuel Santos), um belíssimo espectáculo.
Muitíssimo bem apresentados (umas estampas!) os toiros de Mestre David R. Telles "mansearam" na generalidade, buscando o refúgio em tábuas, exigindo muita entrega e esforçado trabalho aos cavaleiros e batendo depois com brutalidade nos forcados. A tarefa não foi fácil para uns e para outros, mas, feitas as contas, cada qual levou com brio a água ao seu moinho.
João Pedro Cerejo, há uns anos afastado do meio, vinha a Lisboa confirmar a alternativa... 18 anos depois de a ter tomado em Cascais. Constituia uma incógnita: não se sabia como estaria, se preparado, se não. Nem se percebia bem os "porquês" da sua inclusão num cartel da primeira praça do país...
Justiça seja feita: Cerejo andou "meio atrapalhado" nos compridos, mas depois cumpriu com nota alta a segunda parte da sua exibição, nos curtos. Boa brega, bons ferros, um excelente cavalo e um toureiro moralizado e satisfeito com a sua chegada ao Campo Pequeno, após 18 anos de profissionalismo. Esteve digno, sim senhor. Aplausos.
Era discutível, em termos de gestão de carreira, a vinda de Rouxinol ao Campo Pequeno, neste cartel, para lidar um só toiro, depois de um mês antes ter saído em ombros pela "porta grande". Mas o cavaleiro de Pegões não sabe tourear mal, fica sempre bem em qualquer cartel, dá tudo de si, entrega-se, é de uma honestidade tremenda. Sabia que só tinha um toiro e "espremeu" tudo o que este tinha para dar. Protagonizou mais uma actuação extraordinária e vibrante, com o público entregue, eufórico. Como sempre. Ressalve-se o bonito gesto do brinde ao companheiro Rui Salvador.
Sónia Matias estreava-se esta temporada em Lisboa. E estreava também um bonito traje desenhado pela estilista Fátima Lopes, bem feminino. Todos irão escrever que cravou um "ferro descaído" (porque lhe "faltou toiro" na reunião), mas que importa isso, se a actuação de Sónia foi muito mais que esse "incidente"? Esteve a jovem toureira decidida, valente até mais não, dando-se por positiva a sua actuação.
Pedro Salvador é um toureiro genial. De inspiração, ousado, atrevido. Incompreensivelmente, não teve direito a música. Mas teve direito, isso sim, ao reconhecimento do público pela sua entrega, pela sua honestidade, pela garra com que "se foi ao toiro", provocando as investidas de um manso que não facilitava. Ferros emocionantes. Um bom triunfo na capital.
João Moura Caetano foi também um destacado triunfador da noite de ontem no C. Pequeno. Está um toureiro super-maduro, sólido, consolidado, a superar-se de dia para dia. Cravou grandes ferros, mas brilhou sobretudo na preparação das sortes e nos artísticos remates, galvanizando o público que dias antes o aplaudira com justiça no Montijo, na noite em que ombreou com os gigantes Moura e Ventura. Em Lisboa, Moura Caetano voltou a reafirmar o grande momento da sua carreira - e a provar que merecia agora inclusão num cartel de competição, com dois toiros, na arena da capital.
Manuel Telles Bastos teve pela frente o mais colaborante dos toiros do curro enviado por seu Avô. Mas não foi por isso que triunfou também. Foi porque está um grande toureiro, na linha clássica do tio António, senhor de si, detentor de um estilo que emociona e é verdadeiro. Esteve brilhante e inspirado, toureou a gosto e divertiu o público, encantou os aficionados.
Henrique Ferreira, do grupo de Tomar e Joel Zambujeira, do grupo de Cascais, foram autores das duas grandes pegas da noite. Garra e decisão do tomarense numa "cara" emotiva e dura. Técnica e brilhantismo do jovem Joel, que lutou com ganas e todas as forças para ficar na cara do toiro e ficou, assim foi, de modo espectacular. Pelos dois grupos, grandes pegas, também, de Hélder Parker (Tomar) e Bruno Cantinho (Cascais), com as respectivas formações a ajudar com coesão.
O Grupo de Turlock (Califórnia) esteve valente, mas sem repetir o êxito anterior da sua estreia (premiada) em Lisboa. Foram forcados de cara Jorge Martins (filho do cabo, do mesmo nome) à terceira e Mickael Lopes à primeira. Na generalidade, o grupo esteve empenhado.
Exceptuando a "nega" da música a Salvador, Pedro Reinhardt esteve bem na direcção da corrida.
Fotos João Dinis/www.touroeouro.com