Terminada a sua derradeira volta à arena, Manuel Jorge deixou o tricórnio e as flores no centro da arena |
Momentos da última e notável actuação de Manuel Jorge de Oliveira |
Manuel Jorge de Oliveira fez questão de partilhar com o filho, também cavaleiro (amador) a sua derradeira presença numa arena |
Miguel Alvarenga - Manuel Jorge de
Oliveira, um dos mais importantes e mais emblemáticos cavaleiros tauromáquicos das décadas de 70 e
80, despediu-se (inesperadamente) das arenas depois de uma triunfal actuação no
primeiro toiro da corrida que sexta-feira se realizou no Cartaxo, a primeira de
gala à antiga portuguesa ali efectuada nos 147 anos de existência daquela
praça.
Não tinha avisado os membros da sua
quadrilha - o veterano e seu amigo de longa data Paco Duarte e Diogo Malafaia
-, nem sequer a própria Família. Sua Mulher, Zulmira Oliveira e filhos, que assistiam à corrida,
foram supreendidos pela decisão de Manuel Jorge, que quando entrou na arena
para receber os aplausos do público se dirigiu à trincheira e solicitou o
microfone, anunciando a todos que aquela tinha sido a sua última corrida. O
público explodiu em emotiva ovação e depois obrigou-o a dar uma segunda volta à
arena, aplaudindo de pé aquela que foi a sua derradeira presença, vestido de
toureiro, numa praça de toiros.
Protagonista de uma das mais brilhantes
alternativas de que há memória na praça do Campo Pequeno (em 1997, numa célebre
Corrida da Associação dos Comandos, em que foi apadrinhado pelo saudoso D. José
João Zoio), Manuel Jorge de Oliveira teve uma memorável trajectória, sobretudo
nos anos 70 e 80, sendo histórica a sua famosa quadra de cavalos pretos com o
ferro de Ortigão Costa (coudelaria e ganadaria de que seu Pai, Joaquim
Oliveira, já falecido, era feitor). Foi, ao tempo, um dos mais aguerridos
competidores de João Moura (no auge deste) e também de Mestre Batista e Zoio,
com quem rivalizou em muitas corridas. Fez também notável carreira em arenas de
Espanha, ombreando com os maiores rejoneadores da época, como Álvaro Domecq e
Manuel Vidrié. Embora nos últimos anos afastado da actividade regular, nunca
esteve retirado, toureando sempre todas as temporadas, apesar de pouco.
Dedicou-se mais ao ensinamento da equitação em Portugal e no estrangeiro.
Sexta-feira passada, na arena do
Cartaxo, frente a um codicioso toiro do Engº Jorge de Carvalho e depois de
brindar ao seu companheiro e amigo Joaquim Bastinhas (a assinalar 30 anos de
alternativa), Manuel Jorge mostrou que quem sabe nunca esquece. Foi autor de
uma fantástica lide, onde sobressaíu a sua excelente equitação e a sua maestria
como toureiro. Brilhante, sobretudo, nos ferros curtos, demonstrou como se brega e se lida
um toiro. À antiga.
Adeus, Toureiro!
A praça de toiros do Cartaxo encheu -
grande moldura humana - e a corrida, bem dirigida por Lourenço Luzio, decorreu
em ritmo agradável e com êxitos para todos os intervenientes. Para isso
contribuiram os sérios e colaborantes toiros do Engº Jorge Carvalho, justificando em pleno a chamada do ganadeiro à praça. Há a
registar também a positiva surpresa que constituiu a triunfal actuação em
solitário do Grupo de Forcados Amadores de Alenquer, chefiado por Jorge Vicente
(também empresário e promotor deste espectáculo). Coesão de grupo e grande
intervenção de todos os forcados de cara numa noite que fica na história.
A par de Manuel Jorge de Oliveira, foram
destacados triunfadores da noite o também veterano Rui Salvador (com uma
actuação que fez recordar os seus tempos de glória e onde colocou emoção e
verdade em todos os "passos" que deu) e o jovem Marcos Bastinhas, com
ferros de "parar corações" a um toiro agressivo que pedia contas e
investia "para magoar". A atravessar momento brilhante e de plena
afirmação, o jovem Bastinhas é, como já aqui afirmei, um dos mais sérios
candidatos ao trono de triunfador desta temporada!
Joaquim Bastinhas, homenageado antes da
corrida no páteo de quadrilhas da praça, onde foi descerrada uma placa
comemorativa do 30º aniversário da sua alternativa, lidou um toiro encrençado
em tábuas, mansote, a que deu a volta com ferros a sesgo e a habitual sabedoria
e técnica, mercê de muitos anos de maestria nas arenas.
Marco José teve uma actuação de menos a
mais. Irregular nos compridos, brilhou depois nos ferros curtos e terminou em
grande.
A cavaleira Ana Rita, muito rodada em
Espanha, lidou com desembaraço e emoção o último toiro da noite, sendo
vibrantemente aplaudida na volta que deu à arena.
Em suma, uma grande corrida de toiros -
e um grande toureiro que não mais vamos ver nas arenas. Manuel Jorge de
Oliveira até nisso esteve bem: elegeu, sem o anunciar, uma praça cheia, depois
de uma notável actuação, como palco da sua despedida. Saíu tal como entrou: em
grande e em triunfo!
Não perca, já a seguir, todas as fotos
de Emílio de Jesus desta grande noite de toiros no Cartaxo!
Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com