O "Farpas" marcou ontem presença no festejo de juventude de Alcochete para apoiar e espreitar o futuro da Festa Foto João Silva/cortesia "sol e sombra" |
Ricardo Cravidão foi ontem o cavaleiro mais destacado no festival de juventude que se realizou na praça de Alcochete |
Classe e arte no toureio de António Núncio, que sobre degraus de actuação em actuação |
Um bom ferro curto de Francisco Correia Lopes |
Manuel de Oliveira toureou com esta verdade |
Bernardo Salvador tem classe e tem ambição, é ousado. Deu aplaudida volta com os forcados Joaquim Pedro Quintela e Miguel Tacão, que executaram uma pega de cernelha |
Forcados Amadores de Alcochete puseram ontem à prova novos valores |
Miguel Alvarenga - O toureio a cavalo tem futuro e há novos valores com ambição de singrar e de marcar. E Alcochete continua a ser uma terra onde "os forcados nascem do chão". Foram as conclusões que tirei do agradável festival de juventude que ontem à noite teve lugar na praça de Alcochete, que se destinava a angariar fundos para o Fundo de Assistência dos Forcados Amadores de Alcochete e que registou uma entrada de meia casa, talvez mesmo algo mais.
Lidaram-se novilhos das ganadarias Samuel Lupi, Rio Frio, São Martinho e Paulo Caetano, todos eles coaborantes e a proporcionar o bom desempenho da generalidade dos jovens artistas, a maior parte dos quais nunca vira tourear.
A actuação mais redonda e mais destacada coube a Ricardo Cravidão. Bom equitador, cheio de boas maneiras, bem montado - dizem-me que utilizou os cavalos de João Branco, de que é cunhado - e a fazer tudo bem feito, Cravidão tem garra, tem raça e toureou com verdade, colocando emoção no momento do ferro, demonstrando na sua lide estar já em fase adiantada e possuir qualidades para poder dar o salto. Esteve correcto na brega, a lidar e nos remates. Tem "pinta toureira", tem nobreza na forma como está em praça. E tem classe. Gostei muito.
António Núncio abriu a noite com uma lide desenvolta e onde pôs tudo de si para sacar o triunfo. É um jovem cavaleiro de dinastia e com um apelido de peso acrescido de responsabilidade, sabe o que faz e mistura o classicismo com a moderna e evoluída arte de tourear a cavalo. Demonstrou decisão e querer ao esperar o novilho à porta da gaiola e depois evidenciou valor não apenas a mexer com o oponente, como a cravar, ao estribo e à antiga, em sortes emotivas e com verdade.
Francisco Correia Lopes é filho de um cavaleiro que muito prometeu no seu tempo (anos 70), José Manuel Correia Lopes, que primou sempre sobretudo pela superior forma de montar, mas que uma grave colhida em Santarém obrigou a ficar pelo caminho. E nisso da equitação, o jovem cavaleiro sai ao Pai. Francisco monta primorosamente e é um excelente equitador. Como toureiro, terá apenas que corrigir a forma demasiado apressada com que aborda o toiro. Houve velocidade a mais nos compridos e esteve depois mais calmo e tranquilo na ferragem curta, não desiludindo.
Manuel de Oliveira, filho do também retirado cavaleiro Manuel Jorge de Oliveira, deixou ontem ver-se que é, dos seis que compunham o cartel, um dos que vai mais à frente. Esteve correcto a receber o novilho e a dobrar-se com ele, elegeu os terrenos certos e entrou recto na cravagem dos ferros. Tem escola, vê-se, que é o que falta a muitos. E sabe tourear, além de ser também um bom equitador. Tem princípios e pode ir longe. Aposto nele, como há muitos anos apostei em seu Pai.
Bernardo Salvador, filho do grande Rui Salvador, tem intuição, tem vontade e arrisca. Precisa de rodar mais, porque valor tem ele de sobra. Houve algum desnorteio na forma de abordagem ao novilho, sentiu dificuldades em o parar e colocar, houve demasiadas passagens em falso e excessivos capotazos dos bandarilheiros, mas assim que de endireitou e foi com arrojo aos terrenos e à cara do oponente, os ferros resultaram emotivos e em alguns pôs mesmo "a carne no assador", causando "uis" e "ais" na bancada. O Bernardo vai fazer-se. Tem raça, em muitas ocasiões e nas próprias expressões, recorda-nos o Pai- E tem sobretudo ambição, raça, querer e uma elevada educação. Sabe estar em praça. É um Senhor.
Em último lugar actuou Filipe Peseiro, já algo avançado na idade em relação aos "miúdos" com quem competia. Bem vestido e bem a montar, está ainda demasiado verde no que ao toureio e à lide diz respeito. Sofreu alguns "apertos", desenrascou-se como pôde e no fim cravou um bom ferro em terrenos de compromisso. É irmão do jovem novilheiro Diogo Peseiro, a estrela da Academia de Toureio do Campo Pequeno.
Os Forcados Amadores de Alcochete obtiveram ontem um excelente triunfo. Vasco Pinto comandou as operações à paisana, tendo saindo como cabo o jovem António José Cardoso (filho de "Nené") numa formação de novos valores, muitos deles filhos e irmãos de grandes forcados do grupo.
João Belmonte fez a primeira pega da noite ao terceiro intento; Francisco Miguel foi autor da pega da noite, valente como as armas, aguentando firme e decidido todos os derrotes e fugas de rota do novilho, consumando ante fortes aplausos ao primeiro intento; a terceira pega foi muito bem executada, à segunda, por Manuel Pinto, irmão do cabo Vasco, mais um filho do grande António José Pinto a seguir as pisadas de glória do Pai; o quarto novilho foi pegado de cernelha e sem dificuldades por Joaquim Pedro Quintela e Miguel Tacão; Vitor Marques fez a quinta pega da noite ao primeiro intento, com raça e valor; e a última coube a Lourenço Barbosa, ao segundo intento, que esteve garboso e decidido a citar, a recuar e a fechar-se, com pronta intervenção de todos os elementos.
Registe-se a presença nas bancadas de muitos aficionados do toureio a cavalo e de um vasto número de apoiantes do Grupo de Alcochete. O festejo foi dirigido com muita aficion por Manuel Gama, que ao longo da noite concedeu música a todos e teve um importante papel a incentivar os jovens cavaleiros pela positiva, sem demasiado rigor, nem excessiva exigência. Era um festejo distinto e o director esteve à altura.
Fotos Fernando Clemente/www.pararmandartemplar.com