quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Joaquim Grave sobre Mourão: "Valeu a pena!"


Joaquim Grave (na foto, brindado por "Cuqui de Utrera" no domingo), organizador dos dois Festivais Taurinos que na última semana abriram oficialmente a temporada nacional em Mourão, faz o balanço do sucesso e conclui que "valeu a pena". Um texto importante e que diz tudo sobre o êxito enorme da iniciativa. Carregado de sentimento e de aficion.

Um "Desmadre" 
de Arte

No rescaldo da III Feira de Nossa Sr.ª das Candeias em Mourão, devo dizer que fiquei bastante satisfeito. No plano artístico não posso deixar de salientar três nomes no 1º festival: David Gomes, Juan Leal e Manuel Perera tiveram actuações de muito bom nível antevendo uma temporada excelente. Também o segundo novilho do Dr. Calejo Pires foi extraordinário e marcou a tarde.
No dia 4, surpreendeu-me pela positiva o extraordinário ambiente apesar do frio que se fez sentir. Não tenho dúvida nenhuma que quem se decide a assistir a um festival com 9 ou 10 graus de máxima, tem afición para dar e vender. Quanto ao espectáculo, teve momentos mágicos. Os três matadores veteranos ofereceram-nos faenas pletóricas de sabor e torería. O capote de Curro Díaz e o conjunto de "El Cid" fizeram as delícias dos aficionados. José Garrido com o único novilho um pouco tardo, mostrou a técnica e gosto do seu toureio e Galdós, antes do arrimón que entusiasmou a assistência, soube submeter um novilho que lhe pediu os documentos. O “nosso” Manuel Dias Gomes, mais uma vez, mostrou que está continuamente a evoluir, que possui uma técnica invejável e deu-nos um princípio de faena sensacional! Há muito tempo que Portugal não tinha um toureiro com tantas faculdades; merece toda a ajuda.
Apenas um breve apontamento sobre "Cuqui de Utrera": o primeiro novilho que lhe tocou em sorte foi talvez o menos claro, foi duro, a precisar de un puyazo, a que se juntou o momento de mais vento da tarde.
Conhecendo-o bem, devido à nossa longa e bonita amizade, logo me apercebi da desilusão que o invadiu, depois da enorme expectativa com que viveu as semanas que antecederam o Festival. Veio junto a mim e pediu-me se poderia comprar o sobrero para tourear, prática corrente em muitos países taurinos. Claro que lhe respondi que não podia comprar o novilho sobrero, apenas pela simples razão que eu lho oferecia! Imediatamente lhe notei um brilho nos olhos que acompanhou um sorriso de enorme esperança.
Quando o precioso burraco saltou à arena e galopou com aquele tranco, percebi na hora, que aquelas hechuras não podiam falhar. A partir de aí foi um “desmadre” de arte e entrega de um toureiro maravilhoso. "Verónicas" lentas, de mãos muito reunidas e baixas, rematadas com uma média de sonho.
“Chorreando miel por las sapatillas” andou Joaquín Díaz pelo albero de Mourão, entregado a si próprio, metido consigo, querendo silêncio (por duas vezes mandou calar a música) para sentir-se “más a gusto”, querendo escutar a música própria do seu toureio. A custo travou umas lágrimas que teimosamente afloraram ao brilho dos seus olhos, mistura de emoção e felicidade. Valeu a pena!
Quanto aos novilhos e sabendo que não se deve (em público) ser juíz em causa própria, dir-vos-ei que gostei do conjunto da novilhada com destaque para o segundo, terceiro, quinto e sétimo.
Agradeço a todos os que me agradeceram e a todo o público fantástico que suportou o frio para mitigar a sua afición. Até para o ano!

Joaquim Grave

Foto D.R./@Murteira Grave/Facebook