Ricardo Levesinho e a Tauroleve estão de volta à praça de Vila Franca, onde há precisamente dez anos iniciaram a sua actividade empresarial taurina |
Dez anos depois de ter iniciado a sua vida empresarial taurina na praça de Vila Franca de Xira, onde deixou obra feita, Ricardo Levesinho regressa ao leme da centenária “Palha Blanco” e faz ao “Farpas” um balanço dos primeiros anos, conta as novidades para 2018 e aborda a polémica e a guerra que, em surdina, outros concorrentes lhe estão a fazer. A primeira grande entrevista do líder da empresa Tauroleve depois de ganhar o concurso para adjudicação da que considera “a sua praça”, a que se candidataram mais seis empresários.
Entrevista de Miguel Alvarenga
- Ganhou o concurso da “Palha Blanco” e já há “guerra” com alguns dos outros candidatos que, ao que se sabe, lhe querem “fazer a cama” e impugnar todo este processo… Vamos começar por aqui, Ricardo Levesinho…
- Todos os candidatos têm o direito de defender os interesses que considerem legítimos, desde que o façam com valor e de forma cordial, que não é o que se está a passar, lamentavelmente. Sei que há candidatos que pretendem impugnar o concurso, mas também sei e estou plenamente consciente de que não existem quaisquer motivos para isso e não admito que duvidem da minha idoneidade e da minha seriedade. Concorri de acordo com tudo o que estava estipulado no caderno de encargos e dentro da maior legalidade. A Santa Casa da Misericórdia escolheu a minha empresa para gerir a praça de Vila Franca de Xira, lamento muito que isso tenha incomodado outros concorrentes, mas não me admiro. Já há dez anos, quando ganhei pela primeira vez a adjudicação da praça, houve pressões idênticas… Na altura, chocou-me e assustou-me, confesso que isso aconteceu, até porque me estava a iniciar na actividade de empresário taurino e tinha algum desconhecimento do meio. Hoje, dou uma importância relativa a essa “guerra” que alguns me estão a fazer. Lamento que se preocupem tanto com os anti-taurinos quando, na verdade, os mais perigosos e os mais maldosos estão precisamente no seio da nossa Festa para fazer mal uns aos outros…
- Esperava ganhar este concurso?
- Sem dúvida! Construímos um plano de trabalho importante e um projecto engrandecedor do prestígio da praça de Vila Franca de Xira e ele mereceu a confiança da Santa Casa, o que vem aumentar a nossa responsabilidade. A nossa proposta era a mais baixa a nível financeiro, todos sabem que as outras eram superiores e mesmo assim a Santa Casa optou por nós. O que muito nos orgulha e muito acresce a nossa responsabilidade.
- Além da Tauroleve, concorreram mais seis empresas, o que não é muito vulgar… a praça de Vila Franca está mais apetecível?…
- Realmente não é costume apareceram tantas empresas a concurso em Vila Franca. Talvez a “Palha Blanco” tenha agora uma mina de ouro escondida, não sei…
- Com tantos concorrentes, mesmo assim acreditou que vencia?
- Se não fosse a nós, a praça podia ter sido entregue ao José Luis Gomes ou à Toiros & Tauromaquia, penso eu. Mas mesmo com esses concorrentes de peso, nunca pensei não ganhar. Sinceramente, nunca me passou pela cabeça não ganhar. Temos um plano em que acreditamos e nos vamos esforçar para concretizar da melhor forma.
- Que reacções tem tido da aficion de Vila Franca depois desta vitória e deste regresso à sua “Palha Blanco”?
- Todas muito positivas. Há uma satisfação global e a aficion vilafranquense tem sido unânime em aplaudir a decisão tomada pela Santa Casa da Misericórdia. Tenho também sentido todo esse apoio através das redes sociais, onde diversas instituições de Vila Franca e muitos aficionados em particular nos têm manifestado o seu apoio e nos têm dado o seu incentivo.
- Já pode adiantar algum cartel ou alguns nomes para a temporada em Vila Franca?
- Vamos abrir a temporada a 6 de Maio com a Corrida das Tertúlias, como aliás já divulguei ao “Farpas”, com uma corrida imponente da ganadaria Vale do Sorraia, da Família Ribeiro Telles, para comemorar o 70º aniversário da sua antiguidade. Será uma corrida com um cartel fortíssimo de três cavaleiros e provavelmente um ou dois grupos de forcados, estando certa a presença dos Amadores de Vila Franca, queremos recomeçar a nossa actividade na “Palha Blanco” com a maior força e o maior impacto. Depois haverá a corrida mista do Colete Encarnado, que decorre de 6 a 8 de Julho, antecedida da tradicional garraiada da Sardinha Assada e no final da temporada a também tradicional Feira de Outubro, entre os dias 6 e 8, com uma corrida mista e duas à portuguesa. Na totalidade, daremos duas corridas mistas e três à portuguesa, a garraiada da Sardinha Assada e estamos também a colaborar numa parceria com a Escola de Toureio José Falcão para levar a cabo uma ou duas novilhadas. Daremos também um espectáculo de Recortadores, tão do agrado dos aficionados de Vila Franca, praça onde realizámos um pela primeira vez em 2008, nessa altura tinha apenas havido dois nas praças de Santarém e de Coruche.
- Ganadarias e toureiros contratados, ainda não há?
- Tencionamos apostar no toiro-toiro e em ganadarias do maior prestígio e nas principais figuras do toureio, obviamente. Na proposta que apresentámos já referíamos a intenção de contratar António Ribeiro Telles e Diego Ventura e vamos contar com todos os toureiros de valor e aqueles que venham a criar valor para justificarem estar na “Palha Blanco”. De momento não há ainda toureiros contratados, mas até 31 de Março, provavelmente nesse mesmo dia, tencionamos dar uma conferência de imprensa para apresentar já todos os cartéis da temporada em detalhe, por forma a recuperar o Abono da Temporada, que já praticámos em anos anteriores e permitir aos aficionados que comprem a preços mais acessíveis as suas entradas para todos os espectáculos da temporada ou, conhecendo todos os cartéis, possam seleccionar aqueles que preferirem. Vamos também criar todas as condições ao Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca por forma a alcançar o maior êxito possível na temporada de sucessão do cabo.
- O que sentiu nestes três anos em que a praça esteve entregue a outro empresário? Muitas vezes o vi, bem como a seu irmão e seu pai, assistindo às corridas na bancada… sentia alguma nostalgia?
- Quase sempre estivemos na “Palha Blanco” a ver as corridas. No início foi uma sensação estranha, estávamos ali, mas faltava-nos aquela adrenalina. Mas estes três anos em que estivemos fora da praça de Vila Franca deram-nos uma maior experiência de vida e do negócio. Sinto que estamos mais completos e mais preparados para voltar a gerir a praça.
- Como viu a gestão de Paulo Pessoa de Carvalho nestas três temporadas?
- Houve erros e houve triunfos e experiências positivas, prefiro não comentar o trabalho dos meus companheiros. Também nós, quando estivemos aqueles anos todos à frente da “Palha Blanco”, cometemos erros que nos ajudaram a crescer como empresários e a ganhar a maturidade que, no início, não tínhamos. Passámos pela gestão de outras praças, este ano cumprimos uma década como empresários tauromáquicos, aprendemos com os nossos erros e também aprendemos com os erros dos outros. E com os triunfos.
- Num momento particularmente duro e difícil para toda a família taurina, peço-lhe uma evocação da figura do empresário António Manuel Cardoso “Nené”.
- Foi um grande empresário tauromáquico, será sempre uma referência, não só nessa actividade como no mundo dos forcados e presto-lhe as nossas homenagens. Tivemos algumas quezílias, ainda agora fomos ambos concorrentes neste projecto de Vila Franca, mas prefiro lembrar, em respeito pelo luto da família e pela memória de “Nené”, a grande figura do mundo taurino que ele foi e que todos iremos sempre recordar.
- Têm também a vosso cargo a gestão da praça da Figueira da Foz, que vos foi de novo entregue, pergunto-lhe se, como em anos passados, tencionam gerir mais algumas praças?
- A nossa batalha é Vila Franca! Ficámos muito honrados com o convite da administração do Coliseu Figueirense para continuar a gerir a praça da Figueira da Foz, mas não tencionamos candidatar-nos a mais nenhuma. Neste momento importa não desperdiçar energias, vamos concentrá-las todas em Vila Franca e na Figueira da Foz.
- O público de Vila Franca é um público difícil, complicado, é protestante?…
- Ainda bem que é difícil, o público de Vila Franca tem um nível de exigência muito alto, é uma aficion entendida e que não permite deslizes, mas isso é positivo e acresce a nossa responsabilidade. Cabe-nos encontrar aliciantes para cativar o público e cabe-nos ir ao encontro da sua sensibilidade, das suas vivências e das suas preferências. O elevado grau de exigência do público aficionado de Vila Franca é uma mais valia para o nosso trabalho e para nos esforçarmos cada vez mais para lhe proporcionar os espectáculos que quer ver.
- Vila Franca e o seu regresso à “Palha Blanco” era o tema base desta entrevista, mas vou também perguntar-lhe quais os projectos para a temporada na Figueira da Foz.
- Vamos dar três corridas, uma em Julho e duas em Agosto, mas vamos primeiro submeter as datas à aprovação da administração do Coliseu Figueirense e depois então avançaremos com a montagem dos cartéis e anunciaremos as datas das três corridas.
Fotos Maria Mil-Homens