A pega heróica de Pedro Gil, dos Amadores de Lisboa, ao rinoceronte de 770 quilos |
Praça de Salvaterra registou ontem meia entrada, apesar de se anunciaram toiros espanhóis quase com 800 quilos... |
João da Câmara, do Grupo de Montemor, saíu da arena muito maltratado, mas regressou depois à trincheira e não sofreu, aparentemente, nenhuma lesão de maior gravidade |
Aparatosa colhida, felizmente sem consequências, do bandarilheiro João Viegas, da quadrilha de António Prates |
Mansidão e fuga: boiada de Dolores Aguirre ontem em Salvaterra... |
Sérgio Silva com o segundo rinoceronte da noite, com 705 quilos... |
Classe e estética na arte do capote do grande bandarilheiro Manuel dos Santos "Becas" |
A classe de Manuel Telles Bastos, aqui frente ao rinoceronte de 770 quilos... |
Luis Rouxinol Jr. bem quis e bem demonstrou disposição, mas faltaram toiros... |
Ousadia, entrega e valentia - António Prates voltou a somar pontos |
O novilho de José Palha e a lide brilhante do amador António Telles salvaram ontem a boiada de Salvaterra... que nem os Magos conseguiram salvar!... |
Um toiro com 800 quilos não é um toiro, é um rinoceronte... |
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. A Festa precisa de emoção, é um espectáculo de alto risco, sim senhor, estamos de acordo. Mas toiros com quase 800 quilos não deveriam ser permitidos. Nem isso tem minimamente a ver com a morfologia de um toiro. Ontem em Salvaterra sairam à arena rinocerontes e o que se anunciava como um "autêntico hino ao toiro-toiro", não deixou de o ser pela presença e pelo exagerado trapio dos exemplares de Dolores Aguirre, mansos, sem casta, maus e perigosos, mas foi muito mais uma autêntica e vergonhosa boiada. Só por milagre, mas mesmo só por milagre, não morreu nenhum forcado. E por muita verdade e emoção que se exija, os forcados não podem ser carne para canhão. Actuação heróica dos Amadores de Montemor e dos Amadores de Lisboa (que ontem estiveram superiores), verdadeiros gladiadores numa tourada à antiga. O melhor "toiro" foi o novilho de José Palha lidado pelo amador António Telles
Miguel Alvarenga - À saída, ouvi espectadores a criticar o empresário Rafael Vilhais pela boiada de Dolores Aguirre - e não concordo. As intenções do empresário - empresário sério e credível - terão sido as melhores: trazer emoção com um curro de toiros de Madrid. Nas redes sociais li protestos pelo facto de na pega do terceiro toiro (705 quilos), executada pelo cabo de Montemor, António Vacas de Carvalho, a dobrar João da Câmara, terem saltado à arena quase todos os elementos do grupo para ajudar - e não concordo. O caduco Regulamento estabelece que uma pega deve ser feita por oito forcados - mas não fala em toiros com mais de 700 quilos. E para parar um comboio daqueles, se calhar nem vinte forcados chegavam. Os forcados não podem ser carne para canhão. Defendo a emoção, o risco e o perigo como essências básicas do espectáculo tauromáquico. Mas o Regulamento tem que ser urgentemente revisto. E se há pesos mínimos dos toiros estabelecidos, também deveria haver pesos máximos. Um toiro com quase 800 quilos é uma anormalidade total. Não tem a ver com a morfologia do toiro. É uma espécie de batata do Entroncamento com cem quilos... Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, meus senhores!
Ontem em Salvaterra de Magos não foi uma tourada que se viu. Foi uma verdadeira e perigosa luta de gladiadores, no que aos valentes forcados diz respeito - que não tem (quase) nada a ver com uma corrida de toiros.
Levanto-me e aplaudo, como ontem fiz várias vezes, os gloriosos grupos de forcados amadores de Montemor e de Lisboa. Dois grandes grupos. O de Lisboa esteve ontem indiscutivelmente superior e foram merecidos os prémios para a melhor pega e para o melhor grupo - que o júri, credenciado e avalizado, lhe entregou. Há dias assim e nem sempre se pode estar por cima. O Grupo de Montemor não deixou de ser quem é.
Foi enorme, heróica e à antiga, um verdadeiro hino à imagem do Forcado Amador, a pega do lisboeta Pedro Gil ao rinoceronte de 770 quilos (que tinha mais peso...) e que, por mais estranho que pareça, até foi, dos seis de Dolores Aguirre, aquele que demonstrou mais mobilidade.
Pelo Grupo de Lisboa pegaram ainda Duarte Mira (a emendar Tiago Silva) e João Varanda, à segunda, este também numa grande pega ao último toiro da corrida.
Por Montemor foram caras Francisco Bissaya Barreto à primeira e o cabo António Vacas de Carvalho, na sua primeira tentativa, a emendar três de João da Câmara. O sexto toiro foi pegado de cernelha, com emoção e bem, por António Cortes Pena Monteiro e Francisco Godinho.
José Maria Marques, de Montemor, pegou à primeira o novilho de José Palha, com elementos dos dois grupos, lidado em quarto lugar pelo cavaleiro amador António Ribeiro Telles.
Os toiros de Dolores Aguirre não deixaram boas lembranças. De Espanha (com tanto toiro bom que aqui temos...) nunca veio bom vento nem bom casamento... e, no caso de ontem, também não vieram bons toiros.
Mansos perdidos, desinteressados, a fugir aos cavalos, a fazer mal, com perigo, sem casta, sem chama alguma, parados no meio da arena, outros a refugiarem-se em tábuas e a procurarem uma porta para fugir, os toiros só tiveram "corpo" e nada mais. E, ainda assim, "corpo" a mais. Um exagero e uma imagem que não tem nada a ver com uma verdadeira corrida de toiros. Ontem foi antes uma boiada. Demasiado ordinária.
Sem matéria prima para tourearem, quanto mais para brilharem, os cavaleiros Manuel Telles Bastos, Luis Rouxinol Jr. e António Prates destacaram-se pela sua entrega, pelo seu querer e pelo seu elevado profissionalismo, esforço, entrega e desejo de agradar.
Telles Bastos exibiu toda a sua classe usual e as boas maneiras do seu apurado toureio. Lidou em primeiro lugar um toiro de 560 quilos que se refugiou em tábuas e em segundo o tal de 770 quilos, que teve alguma mobilidade, mas transmitiu só... peso e mais nada. E até nesta disparidade de pesos foi um verdadeiro disparate a corrida... toiros com 200 quilos de diferença, valha-me Deus, Nossa Senhora!
Luis Rouxinol Júnior fez o que pôde com o segundo toiro da noite, com 605 quilos, parado, sem humilhar, sem investir. Teve a atitude e demonstrou toda a sua disposição no segundo do seu lote, esperando para uma sorte de gaiola (que não resultou por o toiro ter saído a passo e distraído) um outro rinoceronte com 740 quilos que mal se mexeu ao longo da (possível) lide...
António Prates vive um momento de euforia e de afirmação e foi assim que andou ontem, disposto, ousado, a arriscar, apontando momentos e ferros de emoção, mas sem conseguir romper por falta de toiros. O seu primeiro pesou 705 quilos e o segundo 660...
Sem toiros não pode haver toureiros, por mais que eles ali estejam e por mais que eles o sejam. E estes três são. Dos de verdade. E dos de cima. Mas ontem não houve hipóteses com a boiada de Dolores Aguirre.
Os melhores momentos da noite foram proporcionados pelo novilho-toiro de José Palha, bravo, nobre, a transmitir e a emocionar, e pela lide brilhante do jovem António Ribeiro Telles, que não me canso de repetir que vai ser grande e vai fazer História - como seu pai e como todos os Telles a fazem e fizeram. Irreverente, ousado, com sentido enorme de lide e dos terrenos, a lidar com arte e saber, a cravar com emoção e verdade, foi o António o triunfador da noite. E também o ganadero José Palha, filho do nosso querido e saudoso José Pereira Palha, que deu merecida e aplaudida volta à arena. O novilho foi aplaudido no final e o director de corrida concedeu-lhe honras de volta à arena. Merecidas.
Marco Cardoso dirigiu com consciência e aficion esta espécie de tourada, reconhecendo o valor aos cavaleiros e concedendo-lhes música pelo esforço que demonstraram. Esteve assessorado pelo médico veterinário Jorge Moreira da Silva.
E pronto, amigos meus, está tudo dito. Revejam o Regulamento. Deveria ser estabelecido, tal como acontece com o peso mínimo, o peso máximo de um toiro. É que, por mais que me contem estórias, um toiro com 800 quilos não é um toiro. Se sai manso ou bravo, quanto a isso nada se pode estabelecer e muito menos adivinhar. Mas um toiro com 800 quilos é uma coisa anormal.
Uma palavra final para voltar a deixar aqui o meu aplauso aos dois valentes grupos de forcados. Que ontem, mais que forcados, foram autênticos e aclamados heróis.
Fotos M. Alvarenga