quinta-feira, 2 de abril de 2020

Pior que isto só mesmo o fim do mundo...



Mais um dia igual aos outros. Que é como quem diz, um dia parvo. Está um dia óptimo para uma voltinha de Vespa, mas...

Miguel Alvarenga - Há coisas a que normalmente não damos importância nenhuma e agora têm tanta. Senti mais ou menos o mesmo nos tempos do Linhó, onde um papel e uma caneta, pot exemplo, tinham toda a importância do mundo para escrever qualquer coisa.
Hoje, metidos em casa, damos uma importância enorme ao cd que não ouvíamos há anos, ao livro que estava li esquecido na estante, sei lá, a tanta coisa de que no dia-a-dia, em situação normal, ne, nos lembramos.
Deixei de acordar cedo. Não há nada que fazer, o único compromisso que tenho é este, aqui, convosco. Agora acordo sempre depois das 10 ou 11, tanto faz, durmo até me apetecer ou até ser acordado por algum amigo que me ligue.
E depois é a rotina costumeira: o café, o duche e hoje lá dei a minha voltinha habitual pelos mesmos sítios de sempre, por este Campo Pequeno deserto, não tanto como isso, lá se vê uma ou duas pessoas, carros na avenida, mas nada como era dantes. E não sabemos quando isto acaba, caramba.
Na praça já não está ninguém a trabalhar, foram todos mandados para casa. Do concurso para adjudicação das corridas nada se sabe. Ficou adiado para depois de terminar o Estado de Emergência, mas ninguém sabe quando isso será, nem ninguém sabe quando poderão realizar-se corridas de toiros este ano - nem mesmo se se chegarão a realizar algumas.
E os candidatos, continuarão a querer ser candidatos no meio desta incerteza tão grande? E com um caderno de encargos que foi feito para tempos normais e não para tempos como os que estamos a viver. Depois de isto acabar, insisto, haverá dinheiro para ir aos toiros? E, mais que dinheiro, haverá vontade? Alguém se vai meter num banho de multidão, numa praça de toiros, sem ainda haver a vacina? Duvido muito.
Exemplar a entrevista de ontem do General Ramalho Eanes à RTP. Haja, ao menos, uma voz assim no meio de toda este mediocridade.
Os jornais, as revistas, dizem todos a mesma coisa, falam só do coronavírus. De repente, deixou de haver outras notícias, outras coisas para dizer e para escrever.
Fechados em casa, começamos todos a enlouquecer um pouco. Vamos ficar mal dos olhos, pior ainda, por passarmos os dias a ler, a escrever no computador, a jogar na Playsation, a olhar para o televisor.
Faz falta uma esplanada, um restaurante para ir jantar, um cinema, tudo o que nos foi roubado.
Pior que isto, só mesmo o fim do mundo...
Fiquem bem.

Fotos M. Alvarenga