Já não bastava o vírus, ainda a chuva. Hoje abria a temporada em Almeirim, mas com um dia destes também não haveria corrida... |
Dificilmente nos próximos tempos veremos uma praça assim, ninguém vai arriscar ir para um local onde estão todos em cima uns dos outros |
Vou pensar o dia todo, isto das touradas não vai ser forma de vida nos próximos tempos, talvez um dia eu seja Papa ou qualquer coisa assim... |
Hoje devíamos estar em Almeirm, mas com esta chuva também não estaríamos de certeza... E custa-me a acreditar que este ano voltemos um dia a estar numa praça de toiros...
Miguel Alvarenga - Chove a potes, é domingo e não há missa, hoje não vou escrever, vou antes pensar.
Pensar no que vou fazer à minha vida, que isto de escrever de toiros dá-me a ideia de que acabou, pelo menos nos próximos tempos - que serão longos.
E tenho que mudar rapidamente de vida, se calhar fechar o "Farpas" ou então transformá-lo num blog generalista, que noticie tudo. Sei lá. Posso ser astronauta, posso um dia vir a ser Papa, esse é um sonho que alimento há muitos anos, mas crítico tauromáquico ou jornalista (apenas) tauromáquico, acho que já passou o tempo, pelo menos pelos próximos tempos.
Vamos ter que nos consciencializar que muito provavelnente e mesmo que ainda este ano se possam voltar a realizar touradas, nada será como dantes. Ainda não existe a vacina, fala-se com insistência numa muito provável segunda fase da pandemia e não acredito que as praças de toiros voltem a encher, nem os concertos, nem os cinemas, nem nada disso. A parte psicológica vai comandar as nossas vidas e ninguém vai arriscar banhos de multidão, seja onde for, nem nas praias este Verão, sem saber se o parceiro do lado está imune ou contaminado. Nada vai ser igual. E isso é trágico para todos nós.
Não sou minimamente pessimista, antes pelo contrário, mas desta vez não se trata de ser pessimista ou optimista, desta vez vamos ter que ser realistas.
Touradas no Campo Pequeno? Não acredito. Nem acredito já no concurso e muito menos no interesse de algum empresário em se candidatar. Seis corridas? Já é tarde para as organizar sem haver perspectivas de quanto vamos voltar à vida normal, que mesmo assim será nos primeiros tempos ainda anormal.
E quem arrisca embarcar numa aventura como a do Campo Pequeno sabendo de antemão que dificilmente o público voltará a ir aos toiros com o entusiasmo com que ia dantes? Primeiro, as pessoas não vão ter dinheiro quando isto acabar, segundo não vão ter vontade, nos tempos mais próximos, de se envolverem em multidões. Ir jantar a um restaurante, mesmo que espaçadas as mesas, ainda vá que não vá, agora ir sentar-se numa bancada de uma praça cheios de gente à volta, tá quieto!...
Enfim, avizinham-se tempos difíceis, muito complicados mesmo. E eu vou mudar de vida. Vou pensar o dia todo, alguma ideia há-de aparecer!
Fiquem bem.
Fotos M. Alvarenga, Emílio de Jesus/Arquivo, Mónica Mendes e D.R./Photomica