Miguel Alvarenga - Um ano depois de ter protagonizado um triunfo clamoroso na "Palha Blanco", João Salgueiro da Costa passou ontem com louvor e distinção, com verdade e categoria, na dura prova de se encerrar com seis toiros de distintas ganadarias e distintos comportamentos, mas todos com o trapio e a seriedade que Vila Franca sempre exige.
Quando um toureiro se encerra com seis toiros, já dizia o saudoso Camacho, tem só duas justificações para o fazer: ou para se consagrar e porque o momento de o fazer é mesmo esse; ou porque está apagado e quer voltar a dar nas vistas.
Salgueiro da Costa andou muitos anos a prometer, até nas últimas três temporadas dar finalmente o salto e se colocar lado-a-lado com os dos patamar dianteiro. A temporada de 2021, em plena pandemia, foi de consagração maior e a forma como a terminou, há um ano, com dois triunfos magistrais na "Palha Blanco", justificavam em pleno o seu gesto de ontem à noite - a que, infelizmente, não pude assistir.
Faltou só o calor humano de uma praça cheia - como se impunha e como Salgueiro merecia. O público ocupou cerca de um terço das bancadas da "Palha Blanco", mas nem por isso esse facto constituiu algum desânimo para o valoroso cavaleiro de Valada.
Salgueiro da Costa vestiu seis casacas diferentes para enfrentar os exemplares de Vinhas, Veiga Teixeira, Canas Vigouroux, Dr. António Silva, Palha e Passanha e, ao que me contam e ao que li, fê-lo com a ousadia, a verdade, a categoria e a arte que caracterizam o seu toureio de muita emoção.
Foi um triunfo rotundo ou um triunfo relativo? Quem viu, que responda. Eu não vi. Mas terá sido, certamente, uma vitória de superação pessoal e um grito importante de afirmação de um toureiro em estado de ebulição e a que ninguém fica indiferente.
Tinha o pai como sobressalente, mas o Maestro não chegou a intervir - como se esperava. E como também se impunha. Foi pena isso.
Salgueiro da Costa esteve ontem acompanhado pelos forcados de Santarém e de Vila Franca, dois grupos de nomeada, Por Santarém pegaram Caetano Gallego (à primeira), Francisco Cabaço (à quarta) e Francisco Paulos (à segunda). Pelo grupo anfitrião foram forcados de cara Rodrigo Andrade (à primeira), Lucas Gonçalves (à primeira) e Rafael Plácido (à segunda).
A "Palha Blanco" celebrava o seu 121º aniversário e a festa iniciou-se com a procissão das velas acompanhada pela voz da fadista Teresa Tapadas.
Resumindo e concluindo: Salgueiro da Costa deu mais um passo firme em frente. Afirmou-se, consagrou-se, mesmo que os aficionados não tenham entendido este gesto e não tenham aderido a este momento solene da carreira de um belíssimo toureiro.
Ficou a atitude. A vontade. O querer de um toureiro que marca.
Fotos Catarina Bexiga/Falar de Toiros/Facebook